sábado, 30 de julho de 2016



Atividade (4): Releitura do Êxodo no Evangelho de João
Leia todo o Evangelho de João, e responda:


1)Que símbolos da Teologia do Êxodo, são retomados no Evangelho de João? Qual é o enfoque dado pelo evangelista a cada um deles? 

Precisamos de sete chaves para entender o sentido mais profundo do evangelho de São João, um evangelho riquíssimo que nunca será esgotado tamanha sua profundidade e riqueza:

1ª chave: Personalidade do evangelista
Para entender melhor uma obra literária é preciso conhecer o autor.
João significa Deus faz misericórdia e é conhecido como o discípulo amado.Irmão de Tiago e filho de Zebedeu, pescador . Sua mãe era uma mulher muito ousada e talvez dominante e manipuladora, pois queria que seus filhos sentassem um à direita e outro à esquerda de Jesus.
Assinatura: está presente na cruz(19.26-27)
Fotografia: reclinado no peito de Jesus na última ceia (13,23-25)Símbolo: águia, a qual voa alto e tem uma excepcional visão; reconhece Jesus no Lago de Tiberíades (21,7)
2ª chave: Último a escrever e o faz usando uma linguagem simbólica
O primeiro versículo é como a clave de um pentagrama, o qual dará significado a todo o posterior.
“No princípio era verbo e o verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.”(1,1)
João escreve entre 20 e 25 anos depois de Mateus, e 35 anos depois de Marcos.
Tem 15.416 palavras e 21 capítulos 

3ª chave: Divisão do Evangelho: duas partes

1ª parte: Livro dos Sinais (1,35-12,50)

Para João não existem milagres, mas “sinais” de Jesus, e ele selecionou sete, em que o mais importante não é o que se vê, mas o seu significado.

-Primeiro sinal: Bodas em Caná da Galiléia, matrimônio de Deus com o homem (2,1-10)

-Segundo sinal: Cura o filho de um funcionário real em Caná da Galiléia (4,46-54)

-Terceiro sinal: Cura do paralítico na piscina de Betesda (5,1-18)

-Quarto sinal: Multiplicação dos pães, no deserto (6,1-14)

-Quinto sinal: Jesus caminha sobre o mar (6,16-21)

-Sexto sinal: Cura do cego de nascença, no sábado, em Siloé (9,1-7)

-Sétimo sinal: Ressurreição de Lázaro, próximo a Páscoa (11,33-34)

Estes sete sinais mostram a missão de Jesus, porém, Ele mesmo é o ícone de Deus e revela:“Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (3,16)

Por isso, repetia:

“Quem me vê, vê o Pai” (14,9)


3ºENFOQUE
2ª parte: Livro da glorificação na cruz e a hora de Jesus.
A segunda parte do evangelho de São João é a glorificação de Jesus, que está em harmonia com o tema da hora ou Páscoa da “hora” (2,4; 5,25; 7,30; 8,20; 12,23.27; 13,1; 16,2.4.25.32;17,1), a qual é como a contagem regressiva que culmina na cruz.Onde depois será glorificado.

4ª chave: Os sete “EU SOU” de Jesus
Jesus se apresenta sete vezes com a fórmula “EU SOU”, a qual nos lembra a descrição de Deus no monte Sinai e expressa a divindade de Jesus.

2º ENFOQUEEu sou o pão da vida, o verdadeiro pão do céu (6,35.41.48.51) O verdadeiro alimento é Jesus;
-E sou a luz do mundo (8,12) JESUS é a luz;

-Eu sou a porta das ovelhas (10,7.9) Jesus é a porta;

-Eu sou o Bom Pastor (10,11.14) Jesus é o bom pastor;

-Eu sou a ressurreição e a vida (11,25);

-Eu sou o caminho, a verdade e a vida (14,6);

-Eu sou a videira verdadeira (15,1).

5ª chave: Novidade de Jesus

João é dramático: mostra o rompimento e a novidade absoluta do Segundo Testamento. Assim apresenta a novidade radical de Jesus com relação às instituições, personagens e ícones do Primeiro Testamento.

Primeira Novidade: Nova escada de Jacó que comunica o céu com a terra: Gn 28,12-15;

Segunda novidade: Novo homem: Jo 1,30; 19,5;

1º ENFOQUE-Terceira novidade: Páscoa do Novo templo( “Eu destruirei esse templo e em três dia o reconstruirei”): 1Re 8,20.29; Jo 2,19;
Quarta novidade: Novo noivo, que dá o vinho da alegria: Gn 24,4.7.67; Jo 2,1-12; 3,29;

Quinta novidade: Novo cordeiro: Gn 22,8;

Sexta novidade: Novo poço de Jacó: Jo 3,14;

Sétima novidade: Nova serpente do deserto: Jo 3,14

6ª chave: Crucifixão e morte na cruz (19,23.30)

7ª chave: Profissão de fé de Tomé na divindade de Jesus (20,24-31)
O simbolismo de João , pertence à própria estrutura deste Evangelho, organizado, para revelar tudo o que nele se relata: , diálogos e discursos. Assim ,é revelado os milagres são chamados “sinais”, porque revelam a identidade de Jesus, a sua glória, o seu ser divino e o seu poder salvador, como pão (6), luz (9), vida e ressurreição (11), em ordem a crer nele; outras vezes são “obras do Pai”, mas que o Filho também faz (5,19-20.36). Repetindo, AQUI TAMBÉM O enfoque dado por São João aos símbolos do êxodo é que Jesus e sua identidade , sua glória, seu ser divino, seu poder salvador como pão vida e ressurreição SÃO REVELADOS NO BOM SENTIDO “escrachadamente” em JOão. Impossível neste evangelho não descobrir o Messias, o filho de Deus que nos foi dado, o Salvador, o Deus que abre o caminho para a eternidade para os filhos de Deus , o Deus que como Moisés vive o seu êxodo rumo à Jerusalém nos apontando o céu a eternidade, entre outros títulos ou referências feitas a Jesus pelo discípulo amado.

Cristo Revelado

O livro apresenta Jesus como ó único Filho gerado por Deus que se tornou carne. Para João, a humanidade de Jesus significava essencialmente uma missão dupla: 1) como o”Cordeiro” de Deus (1.29), ele procurou a redenção da humanidade; 2) Através de sua vida e ministério, ele revelou o Pai. Cristo colocou-se coerentemente além de si mesmo perante o Pai que o havia enviado e a quem ele buscava glorificar. Na verdade, os próprios milagres que Jesus realizou como “sinais”, testemunham a missão divina do Filho de Deus.

Objetivo e Teologia

Este Evangelho propõe-se confirmar na fé em Jesus, como Messias e Filho de Deus (20,30-31). Destina-se aos cristãos, na sua maioria vindos do paganismo (pois explica as palavras e costumes hebraicos), mas também em parte vindos do judaísmo, com dificuldades acerca da condição divina de Jesus e com apego exagerado às instituições religiosas judaicas que se apresentam como superadas (1,26-27; 2,19-22; 7,37-39; 19,36). Sem polemizar contra os gnósticos docetas, que negavam ter Jesus vindo em carne mortal (1 Jo 4,2-3; 5,6-7), JOÃO não deixa de sublinhar o realismo da humanidade de Jesus (1,14; 6,53-54; 19,34). Por outro lado, é um premente apelo à unidade (10,16; 11,52; 17, 21-24; 19,23) e ao amor fraterno entre todos os fiéis (13,13.15.31-35; 15,12-13).
JOÃO pretende dar-nos a chave da compreensão do mistério da pessoa e da obra salvadora de Jesus, sobretudo através do recurso constante às Escrituras: “Investigai as Escrituras (…): são elas que dão testemunho a meu favor” (5,39). Embora seja o Evangelho com menos citações explícitas do Antigo Testamento, é aquele que o tem mais presente, procurando, das mais diversas maneiras (por métodos deráchicos), extrair-lhe toda a riqueza e profundidade de sentido em favor de Jesus como Messias e Filho de Deus, que cumpre tudo o que acerca dele estava anunciado por palavras e figuras (19,28.30).
Além destes temas fundamentais da fé e do amor, JOÃO contém a revelação mais completa dos mistérios da Santíssima Trindade e da Encarnação do Verbo, o Filho no seio do Pai, o Filho Unigênito, que nos torna filhos (adotivos) de Deus; a doutrina sobre a Igreja (10,1-18; 15,1-17; 21,15-17) e os Sacramentos (3,1-8; 6,51-59; 20,22-23) e sobre o papel de Maria, a “mulher”, nova Eva, Mãe da nova humanidade resgatada (2,1-5; 19,25-27).
O conteúdo dos textos e os símbolos presentes no Evangelho de João permitem construir sua teologia a partir de dois temas: a criação e o êxodo. Estes temas se entrelaçam ao longo da obra nos permitindo entender o objetivo e a maneira com que Jesus realiza sua missão.

a) Tema da Criação: Este tema é a chave de interpretação da obra de Jesus. A sequência de dias que aparece no início do evangelho (1.19,29,35,43; 2.1) faz com que o anúncio e início da obra de Jesus ocorram no mesmo dia da criação do homem em Gênesis 1, o sexto dia. A razão e o resultado da obra de Jesus seriam, então, terminar a criação, o que culminou com sua morte na cruz. O "Está consumado!" (19.30), duplamente interpretado sob esta ótica, ocorre também no sexto dia, como recorda o autor com outras indicações (12.1: seis dias antes da Páscoa; 19.14,31,42: preparação da Páscoa). Com isso, toda a atividade de Jesus, até sua morte, fica sob o símbolo do "sexto dia", indicando o fim a que se destina: terminar a obra criadora, completando o homem com o Espírito de Deus (19.30; 20.22).
A parte final do evangelho completa o tema da criação por se situar no "primeiro dia" (20.1), que indica o princípio e a novidade da criação terminada.
Temas como "vida" e "luz", centrais no evangelho (1.4-9), assim como o do nascimento (1.13; 3.3-21), estão na linha da criação.

b) Tema do Êxodo: Traz vários de seus elementos: a presença da glória na Tenda do Encontro ou santuário (1.14; 2.19-21), o cordeiro (1.29), a Lei (3.1-21), a passagem do mar (6.1), o monte (6.3), o maná (6.31), a passagem do Jordão (10.40), etc. Este tema também está intimamente relacionado com o tema do Messias (1.17), que, como outro Moisés, tinha que realizar o êxodo definitivo e, por isso também, com o tema da realeza de Jesus (1.49; 6.15; 12.13-19; 18.33-19.22). O "mundo", inimigo de Jesus e dos seus (15.18-16.4), de onde ele e o Pai tiram (15.19; 17.6), faz parte do tema do êxodo e adquire o sentido de terra de escravidão.
A Páscoa, oportunidade para relembrar o êxodo, faz parte das seis festas que enquadram a atividade de Jesus. Delas, a primeira, a terceira e a última são a própria festa da Páscoa (2.13; 6.4; 11.55; 12.1).
Destaca-se a insistência no número seis: sexto dia, sexta hora, seis dias antes da Páscoa, seis festas, seis talhas. Este número indica o incompleto, um preparatório, o período da atividade que visa a um resultado. O número sete aparece somente em uma ocasião, a sétima hora (4.52), e indica o fruto da obra completa: a vida que Jesus dá.

Relacionando os temas, podemos dizer que o desejo de Deus é terminar a criação do homem dando-lhe o princípio de vida que supera.



2)Por que o mistério pascal de Cristo é uma das chaves de releitura do Êxodo, no Evangelho de João?


Posso responder bem objetivamente que todo mistério de Jesus, sua vida e seu sofrimento, o plano de salvação do pai aceito pelo filho e executado por ele mesmo, está  nas “entrelinhas” do antigo testamento, no êxodo de Moisés, todo ele prefigurado lá no passado. Em João esse mistério grandioso e adorável é REVELADO pelo discípulo amado. Partindo dessa resposta  fiz pesquisas e acrescento abaixo para enriquecimento: 

O Evangelho de João é uma reinterpretação da Escritura com ênfase no Livro do Êxodo. A indicações mais claras das tradições do Êxodo em João são encontradas no prólogo de abertura (João 1,1-18). Naturalmente o prólogo é uma introdução ao Evangelho, porém uma introdução que já aparece como síntese de tudo aquilo que irá se discutir durante todo o escrito joanino.
Logo no inicio ecoam as palavras da Torá de Moisés, (“No princípio era o Verbo...” Gn 1,1). Estas palavras já definem claramente a sua sintonia com o ritmo de Moisés.
Lembramos aqui que, para os judeus do tempo de Jesus, a Torá era Moisés e Moisés era a Torá (cf. At 15,21: “Pois, desde os tempos antigos, Moisés tem em cada cidade os seus pregadores, que o leem nas sinagogas todos os sábados”. A personalidade e a entidade se tornaram sinônimos. Falar em Moisés é falar em Pentateuco, é falar em Torá.
Logo, fica claro que a identidade de Moisés no primeiro século estava intimamente ligada à Lei (Torá) dada no monte Sinai. Esse recurso começa no prólogo (“Porque a Lei foi dada por meio de Moisés”, 1,17) e se manifesta em todo o Evangelho.
A frase mais citada do prólogo ( “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” 1,14), tem uma referência direta com Êxodo 29,43-46). Ela evoca claramente a linguagem do deserto no texto grego. Com o uso da palavra Gr skheno, em Hb. Shakhan de onde vem a palavra Shekhina (fixar a tenda, habitar ou viver numa tenda). Portanto, “habitou entre nós” evoca para seu público mais experiente, mais sábio a Tenda ou Tabernáculo do deserto. Assim, a memória da presença de YHWH localizada na parte interna do Tabernáculo iria evocar o mesmo sentimento na vida e na encarnação de Seu Filho, o Logos, a Palavra. O apocalipse confirma esta ideia quando diz: “Eis o tabernáculo de Deus com os homens” (Rev 21,3).

Entrando mais no mistério Pascal.

No quarto Evangelho, João Batista apresenta Jesus como “Cordeiro de Deus” (1,36). Mas afinal de contas, de que cordeiro se trata? Não há nenhuma sombra de dúvida que se refere ao cordeiro da Páscoa (Ex 12).
Claro, o Êxodo e a Páscoa foram considerados ao longo dos séculos antes de Cristo o padrão e o protótipo da Redenção Messiânica. De fato, é pressuposto do Novo Testamento como um todo, e por excelência nos Evangelhos, que a morte de Jesus é o ato redentor que inaugura o novo Êxodo escatológico da salvação.
E é talvez aqui, em João, onde essa expectativa chega à sua mais gloriosa consumação.
Lembretes da Páscoa permeiam o contexto (13,1; 18, 28.39; 19,14). A festa da Páscoa fornece aos leitores uma estrutura teológica com a qual interpretar a paixão de Jesus.
Na celebração da festa, o cordeiro pascal escolhido devia ser perfeito ou sem mácula. Para verificar este fato, as famílias tinham que manter o cordeiro com eles durante quatro dias, em seguida, matá-lo no crepúsculo (Ex 12,5-10). É dentro deste contexto que a declaração de Pilatos, em 19,6 é muito significativa: "Tomai-o vós e crucificai-o, porque eu não acho culpa Nele." Em outras palavras, como o cordeiro, sem defeito, ele é apto para ser sacrificado.
Lembramos que, de acordo com o Evangelista, Jesus foi crucificado no dia da preparação da Páscoa (19,31.42), que era o décimo quarto dia de Nisan de acordo com a cronologia de João (Ex 12,6). Isto aconteceu ao mesmo tempo que os israelitas fiéis estariam abatendo seus cordeiros para a celebração da Páscoa. O facto de os guardas não quebrarem as pernas de Jesus (19,33) estava diretamente relacionado com o prescrito tratamento do cordeiro pascal e é explicitamente confirmada em 19,36 (Ex 12,46 "É para ser comido em uma única casa; vocês não devem levar nenhuma parte da carne fora da casa, nem é para quebrar qualquer osso dele." Cf. Nm 9,12).
Sendo assim,o evangelho de João é uma releitura fundante do êxodo e que vai culminar no Mistério Pascal de Jesus. O Evangelista João em seu típico simbolismo integra diversos símbolos do êxodo em seus textos bíblicos. Faz paralelo com o êxodo de Moisés, situando graça e verdade trazida por Jesus(Jo 1,17). Em Ex 3,14 é atribuído a Deus o título de "Eu Sou", em João é o próprio Cristo que se identifica com o mesmo título, Jo 4,26. Os sinais que Javé realizou em favor do povo hebreu são retomados nos 7 sinais realizados por Cristo, esquematizando todo o E. de João. A Páscoa Judaica é interpretada na simbologia do Cordeiro Pascal(Jo 1,29); o Maná alimento para o povo do deserto é retomado em Jesus como o Pão da Vida(Jo 6,22-59); a Água da rocha que saciou a sede d povo hebreu, retomada em Jesus como Fonte de água viva(Jo 3,5;4,14); a Serpente de B. levantada por Moisés, em Jesus levantado na cruz e é salvação para os que creem(Jo 3,14-15); o domínio de Moisés sobre o mar vermelho é atualizado em Jesus que caminha sobre as águas(Jo 6,16-21). Citei aqui, apenas alguns elementos de ligação entre o Êxodo e o Evangelho de Joao. Todavia, em cada capitulo do seu Evangelho nós podemos encontrar elementos do Êxodo como pano de fundo para todo o relato.


Bibliografia:
-SILVA,Valmor da. Deus Ouve o Clamor de um Povo- Teologia do Êxodo. São Paulo Paulinas,2004.
-Texto em PDF: Introdução e Fundamentos do Êxodo por Ir. Romi Auth fsp.
-Para ler o Evangelho de João-Jakler Nichele Nunes.
- <http> :// prazerdapalavra.com.br/bíblias/panoramas
- Fonte: Jesus nos quatro evangelhos – José H. Prado Flores
-BORTOLINI, J. Como ler o Evangelho de São João. São Paulo: Paulus, 1997.
-BRUCE, F. F. João, introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1987.
-CARSON, D. A. O Comentário de João. São Paulo: Shedd, 2007.
-MATEOS, J; Barreto, J. O Evangelho de São João. São Paulo: Paulinas, 1987.
-MAZZAROLO, I. Nem aqui, nem em Jerusalém. O Evangelho de João. Rio de Janeiro: Mazzarolo Editor, 2001.
-STERN, D. H. Comentário Judaico do Novo Testamento. Belo Horizonte: Atos, 2008.