terça-feira, 30 de setembro de 2014

"Santo! Kadosh! Santo!
Em hebraico “santo” diz-se kadosh, isto é, separado, diverso, diferente, incomparável.
Afirmar que o Senhor Deus é Santo é dizer que Ele é diverso de tudo quanto possamos imaginar, compreender ou experimentar;
Ele é o totalmente outro, o absolutamente soberano, aquele que nos ultrapassa totalmente no Seu Ser e no Seu agir! Quem pode compreendê-Lo? Quem pode compreender totalmente o Seu modo de agir, de governar o mundo, de conduzir a humana história?
Tão outro, tão diferente, tão incompreensível, tão Santo!
Diante da santidade de Deus, a atitude do homem – hoje como ontem – pode ser somente um respeitoso temor e uma reverente adoração. Jamais poderemos domesticar Deus, compreendê-Lo, tê-Lo na palma da mão! Mais uma vez: Quem pode compreender o modo de agir de Deus, Seu jeito de governar o mundo e a nossa vida?
Ele está para além de tudo, Ele é grande, Ele não nos mostra o Seu Rosto, Ele é Santo, três vezes Santo, isto é, Santíssimo! Ele é o nosso Deus!"

sábado, 20 de setembro de 2014

Reflexão

"Nós morremos com Cristo e trazemos em nosso corpo a morte de Cristo, para que também a vida de Cristo se manifeste em nós.
Portanto, já não é a nossa própria vida que vivemos, mas a vida de Cristo: vida de inocência, vida de castidade, vida de sinceridade e de todas as virtudes.
Também ressuscitamos com Cristo; vivamos, pois, unidos a Ele, subamos com Ele, a fim de que a serpente não possa encontrar na terra o nosso calcanhar e feri-lo. Fujamos daqui.
Podes fugir com o espírito, embora permaneças com o corpo; podes ficar aqui e estar ao mesmo tempo junto do Senhor, se teu coração estiver unido a Ele, se teus pensamentos se fixarem Nele, se percorreres Seus caminhos, guiado pela fé e não pelas aparências, se te refugiares junto Dele – que é nosso refúgio e nossa força, como disse Davi: Eu procuro meu refúgio em Vós, Senhor, que eu não seja envergonhado para sempre (Sl 70,1)" - Santo Ambrósio de Milão.

Reflexão

...
E o Autor sagrado continua observando, de coração apertado, como o nosso tantas vezes: parece que a vida humana não tem sentido, de tão passageira que é...
Passamos... E o que será de nossos sonhos, nossos amores, nosso ideal, o tanto de esforço e cansaço que investimos?
Tudo passa: torna-se uma saudade, depois uma lembrança e, finalmente, um esquecimento...
E sem contar a monotonia, a mesmice da existência: nada de novo debaixo do sol! Isto mesmo!
O que há de novo, que depois não descubramos que é velho, que é a mesma e antiga tentativa do coração humano de encontrar a felicidade?
Pense na novidade do automóvel, de tantos eletrodomésticos modernos, dos computadores, da internet, do aparelhos eletrônicos, de tantas descobertas da ciência...
Tudo isto é novidade velha, que faz sucesso e, depois, vira óbvio, rotineiro!
E descobrimos que a vida continua a mesma e o nosso coração continua mendigo de sentido, plenitude, eternidade...
Nada de novo debaixo do sol: como os rios correm para o mar sem nunca fazê-lo transbordar, todas as novidades correm para o nosso coração e ali se tornam velhas, sem nunca preenchê-lo de verdade!
Vamos tendo, vamos acumulando, vamos conquistando, vamos realizando sonhos, mas o coração, teimoso, fica insistindo, sussurrando, incomodando: “Ainda não é isso, ainda não é a plenitude, ainda não é a felicidade... É mais além, é mais na frente, quero mais, muito mais, quero o Tudo!”
Eta, coração, mais imenso que o mar que rio algum pode preencher!

quarta-feira, 17 de setembro de 2014


O incrível milagre eucarístico de Sokólka




Todos os dias, em todos os altares do mundo, dá-se o maior milagre possível: o da transformação do pão e do vinho no verdadeiro Corpo e Sangue de Jesus Cristo. No entanto, ao recebermos a comunhão, podemos tocá-lO apenas pela fé, pois aos nossos sentidos é oferecida apenas a forma do pão e do vinho fisicamente inalteradas pela consagração. O que é que, afinal, traz à nossa fé o acontecimento eucarístico de Sokólka?


Foi no domingo, 12 de Outubro de 2008, logo após a beatificação do servo de Deus Pe. Miguel Sopocko. Durante a Santa Missa iniciada na igreja paroquial de St. António de Sokólka às 8h30, durante a distribuição da Comunhão, caiu a um dos sacerdotes aos pés do altar uma Hóstia consagrada. O sacerdote interrompeu a distribuição da Comunhão, pegou nela e, de acordo com as normas litúrgicas, colocou-a no vasculum, um pequeno recipiente com água que se encontra normalmente ao lado do sacrário, servindo para o sacerdote lavar os dedos após a distribuição da Comunhão. A Hóstia deveria dissolver-se nesse recipiente.

No fim da Missa, a irmã Júlia Dubowska, sacristã da Congregação das Irmãs Eucarísticas, em serviço na paróquia, tendo a consciência de que a Hóstia consagrada levaria algum tempo a dissolver-se, a pedido do Pe. Stanislaw Gniedziejko, pároco da paróquia, despejou o conteúdo do vasculum noutro recipiente e colocou-o no cofre que se encontra na sacristia da paróquia. Só a Irmã e o Pároco tinham as chaves do cofre.

Ao fim de uma semana, no dia 19 de Outubro, Domingo das missões, a irmã Júlia – questionada pelo pároco sobre o estado da Hóstia – foi ver o cofre. Ao abrir a porta, sentiu um aroma delicado a pão ázimo. Quando abriu o recipiente, viu a água limpa com a Hóstia a dissolver-se e no meio desta uma mancha arqueada com uma cor vermelha intensa, lembrando um coágulo de sangue, com a forma de uma espécie de partícula viva de um corpo. A água permanecia incolor.

A Irmã informou imediatamente o Pároco, que veio logo com os sacerdotes locais e o missionário Pe. Ryszard Górowski. Todos ficaram surpreendidos e atónitos com o que viram.

Mantiveram discrição e prudência, não esquecendo o peso do acontecimento, pois tratava-se de Pão consagrado que, pelo poder das palavras de Cristo no Cenáculo, é verdadeiramente o Seu Corpo. Do ponto de vista humano, foi difícil definir se a forma alterada do fragmento da Hóstia é o resultado de uma reacção orgânica, química ou de outro tipo de acção.

Imediatamente notificaram do sucedido o Arcebispo Metropolitano de Bialystok, Edward Ozorowski, que se dirigiu a Sokólka juntamente com o chanceler da cúria, os sacerdotes prelados e catedráticos. Todos ficaram profundamente comovidos com o que viram. O Arcebispo mandou proteger a Hóstia, esperar e observar o que iria acontecer.

No dia 29 de Outubro, o recipiente com a Hóstia foi transportado para a capela da Misericórdia Divina na casa paroquial e colocado no sacrário. No dia seguinte, por decisão do Arcebispo, retirou-se a Hóstia com a mancha visível da água, colocou-se num pequeno corporal e em seguida no sacrário. Deste modo se conservou a Hóstia durante três anos, até ter sido solenemente levada para a igreja, no dia 2 de Outubro de 2011. Durante o primeiro ano foi guardada em segredo. Foi um tempo de reflexão sobre o que fazer, pois tratava-se de um sinal de Deus que era necessário interpretar.

Até meados de Janeiro de 2009, o fragmento da Hóstia alterada secou de forma natural e permaneceu como coágulo de sangue. Desde essa altura não mudou de aparência.

Em Janeiro de 2009, o Arcebispo ordenou que se fizessem análises pato-morfológicas à Hóstia e a 30 de Março desse ano criou uma comissão eclesial para analisar o fenómeno.
O fragmento da Hóstia em forma alterada recolhido foi analisado pela Prof. Dr.ª Maria Sobaniec-Lotowska e pelo Prof. Dr. Stanislaw Sulkowski – de forma independente um do outro, com vista a uma maior credibilidade dos resultados, – pato-morfologistas da Universidade de Medicina de Bialystok. As análises foram realizadas no Instituto de Pato-morfologia dessa universidade. O trabalho de ambos os especialistas foi regido pelas normas e obrigações dos cientistas para analisar cada problema científico de acordo com as directrizes do Comité de Ética da Ciência da Academia das Ciências Polacas. As análises foram descritas e fotografadas exaustivamente. A documentação completa foi entregue à Curia Metropolitana de Bialystok.


Quando foram recolhidas as amostras para análise, a parte não dissolvida da Hóstia consagrada estava já embebida no tecido. Porém, a estrutura de sangue acastanhado do fragmento da Hóstia não perdeu nada da sua clareza. Este fragmento estava seco e frágil, intimamente ligado à restante parte da Hóstia em forma de pão. A amostra recolhida foi o suficiente para realizar todas as análises indispensáveis.


Os resultados de ambas as análises independentes sobrepuseram-se completamente. Concluíram que a estrutura do fragmento da Hóstia analisado é idêntica a tecido do músculo do coração de uma pessoa viva, mas em estado de agonia. A estrutura da fibra do músculo do coração e a estrutura do pão estavam interligadas de forma muito estreita, de forma impossível de realizar por ingerência humana (vide declaração da Prof. M. Sobaniec-Lotowska na reportagem “O Milagre Eucarístico de Sokólka”, Lux Veritatis 2010).


As análises realizadas provaram que não foi adicionada nenhuma outra substância à Hóstia consagrada, mas que o seu fragmento tomou a forma de tecido do músculo do coração de uma pessoa em estado de agonia. Este tipo de fenómeno não é explicável pelas ciências naturais, sendo que os ensinamentos da Igreja nos dizem que a Hóstia entregue para análise é o Corpo do próprio Cristo pelo poder das Suas próprias palavras proferidas durante a Última Ceia.


O resultado das análises pato-morfológicas datadas de 21 de Janeiro de 2009 foram incluídas no protocolo entregue na Cúria Metropolitana de Bialystok.



Para concluir, no comunicado oficial que emitiu, a Cúria Metropolitana de Bialystok afirmou o seguinte: «O acontecimento de Sokolka não se opõe à fé da Igreja, antes pelo contrário, confirma-a. A Igreja professa que, após as palavras da consagração, pelo poder do Espírito Santo, o pão se transforma no Corpo de Cristo e o vinho no Seu Sangue. Para além disso, trata-se de um chamamento para que os ministros da Eucaristia distribuam o Corpo do Senhor com fé e cuidado e que os fiéis O recebam com adoração.»

in sokolka.archibial.pl


Fonte: Senza Pagare
Retirado do blog: anjosdeadoracao.blogspot.com


Os demônios creem e estremecem diante da presença real de Jesus na Eucaristia




Uma reflexão a partir do roubo de uma hóstia consagrada por um grupo de satanistas



Alguns anos atrás, eu escrevi sobre uma experiência incomum que tive ao celebrar a santa missa: uma pessoa, atormentada pela possessão demoníaca, saiu correndo para fora da igreja no momento da consagração. Voltarei a falar deste caso um pouco mais adiante.


Eu me lembrei do fato nos últimos dias em face das atuais notícias de que um culto satânico da cidade de Oklahoma (EUA) roubou uma hóstia consagrada de uma paróquia e anunciou que a profanaria durante uma “missa negra”, a realizar-se neste mês de setembro. O arcebispo de Oklahoma, dom Paul Coakley, entrou com uma ação judicial para impedir o sacrilégio e exigir que o grupo devolvesse a propriedade roubada da Igreja. Dom Coakley ressaltou, no processo, que a hóstia seria profanada dos modos mais vis imagináveis, como oferenda feita em sacrifício a Satanás.


O porta-voz do grupo satânico, Adam Daniels, declarou: “Toda a base da ‘missa’ [satânica] é que nós pegamos a hóstia consagrada e fazemos uma ‘bênção’ ou oferta a Satanás. Nós fazemos todos os ritos que normalmente abençoam um sacrifício, que é, obviamente, a hóstia corpo de Cristo. Então nós, ou o diabo, a reconsagramos…”.


À luz do processo judicial, o grupo devolveu à Igreja a hóstia consagrada que tinha roubado. Graças a Deus.
Mas você notou o que o porta-voz satânico atestou sobre a Eucaristia? Ao falar do que seria oferecido em sacrifício, ele disse: “…que é, obviamente, a hóstia corpo de Cristo”.
Por mais grave e triste que seja este caso (e não é o primeiro), esses satanistas explicitamente consideram que a Eucaristia católica É o Corpo de Cristo. Pelo que eu sei, nunca houve tentativas de satanistas de roubar e profanar uma hóstia metodista, ou episcopaliana, ou batista, ou luterana, etc. É a hóstia católica o que eles procuram. E nós temos uma afirmação da própria escritura que garante: “Até os demônios creem e estremecem” (Tiago 2,19).


Em outra PASSAGEM, a escritura nos fala de um homem que vagava em meio aos túmulos e era atormentado por um demônio. Quando viu Jesus, ainda de longe, correu até Ele e o adorou (Marcos 5,6). O evangelho de Lucas cita outros demônios que saíam de muitos corpos possuídos e gritavam: “Tu és o Filho de Deus!”. Mas Jesus os repreendia e não os deixava falar, porque sabiam que Ele era o Cristo (Lc 4,41-42).


De fato, como pode ser atestado por muitos que já testemunharam exorcismos, há um poder maravilhoso na água benta, nas relíquias, na cruz do exorcista, na estola do sacerdote e em outros objetos sagrados que afugentam os demônios. Mesmo assim, muitos católicos e não católicos minusvaloram esses sacramentais (assim como os próprios sacramentos) e os utilizam de qualquer jeito, com pouca frequência ou sem frequência alguma. Há muita gente, inclusive católicos, que os consideram pouco importantes. Mas os demônios não! Vergonhosamente, os demônios, às vezes, manifestam mais fé (ainda que cheia de medo) que os crentes que deveriam reverenciar os sacramentos e os sacramentais com fé amorosa. Mesmo o satanista de Oklahoma reconhece que Jesus está realmente PRESENTE na Eucaristia. É por isso que ele procura uma hóstia consagrada, ainda que para fins tão nefastos e perversos.


Tudo isso me leva de volta ao caso real que eu descrevi já faz um bom tempo. Apresento a seguir alguns trechos do que escrevi há quase quinze anos, quando eu estava na paróquia de Santa Maria Antiga [Old St. Mary, na capital norte-americana] celebrando a missa em latim na forma extraordinária. Era uma missa solene. Não seria diferente da maioria dos domingos, mas algo muito impressionante estava prestes a acontecer.


Como vocês devem saber, a antiga missa em latim era celebrada “ad orientem”, ou seja, voltada em direção ao oriente litúrgico. Sacerdote e fiéis ficavam todos de frente para a mesma direção, o que significa que o celebrante permanecia, na prática, de costas para as pessoas. Ao chegar a hora da consagração, o sacerdote se inclinava com os antebraços sobre o altar, segurando a hóstia entre os dedos.


Naquele dia, eu pronunciei as veneráveis palavras da consagração em voz baixa, mas de modo claro e distinto: “Hoc est enim Corpus meum” [Este é o meu Corpo]. O sino tocou enquanto eu me ajoelhava.




Atrás de mim, no entanto, houve algum tipo de perturbação; uma agitação ou sons incongruentes vieram dos bancos da parte da frente da igreja, logo às minhas costas, um pouco mais para a minha direita. Em seguida, um gemido ou resmungo. “O que foi isso?”, perguntei a mim mesmo. Não pareciam sons humanos, mas grasnidos de algum animal de grande porte, como um javali ou um urso, junto com um gemido plangente que também não parecia humano. Eu elevei a hóstia e novamente me perguntei: “O que foi isso?”. Então, silêncio. Celebrando no antigo rito da missa em latim, eu não podia me virar facilmente para olhar. Mas ainda pensei: “O que foi isso?”.


Chegou a hora da consagração do cálice. Mais uma vez eu me curvei, pronunciando clara e distintamente, mas em voz baixa, as palavras da consagração: “Hic est enim calix sanguinis mei, novi et aeterni testamenti; mysterium fidei; qui pro vobis et pro multis effundetur em remissionem pecatorum. Haec quotiescumque feceritis in mei memoriam facietis” [Este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança, o mistério da fé, que será derramado por vós e por muitos para a remissão dos pecados. Todas as vezes que fizerdes isso, fazei-o em memória de mim].


Então, ouvi mais um ruído, desta vez um inegável gemido e, logo em seguida, um grito de alguém que clamava: “Jesus, me deixe em paz! Por que me tortura?”. Houve de repente um barulho que lembrava uma briga e alguém correu para fora a um som de gemidos, como de quem tivesse sido ferido. As portas da igreja se abriram e em seguida fecharam. Depois, o silêncio.


Consciência – Eu não podia me virar para olhar porque estava levantando o cálice da consagração. Mas entendi no mesmo instante que alguma pobre alma atormentada pelo demônio tinha se visto diante de Cristo na Eucaristia e não tinha conseguido suportar a sua presença real, exibida perante todos. Ocorreram-me as palavras da escritura: “Até os demônios creem e estremecem” (Tiago 2,19).


Arrependimento – Assim como Tiago usou aquelas palavras para repreender a fé fraca do seu rebanho, eu também tinha motivos para a contrição. Por que, afinal, um pobre homem atormentado pelo demônio era mais consciente da presença real de Cristo na Eucaristia e ficava mais impactado com ela do que eu? Ele ficou impactado em sentido negativo e correu para longe. Mas por que eu não me impactava de forma positiva com a mesma intensidade? E quanto aos outros crentes, que estavam nos bancos? Eu não tenho dúvidas de que todos nós acreditávamos intelectualmente na presença eucarística. Mas há algo muito diferente e muito mais maravilhoso em nos deixarmos mover por ela na profundidade da nossa alma! Como é fácil bocejarmos na presença do Divino e nos esquecermos da presença milagrosa e inefável, disponível ali para todos nós!


Quero deixar registrado que, naquele dia, há quase quinze anos, ficou muito claro para mim que eu tinha nas minhas mãos o Senhor da Glória, o Rei dos Céus e da Terra, o Justo Juiz e o Rei dos reis da terra.
Será que Jesus está realmente PRESENTE na Eucaristia?
Até os demônios acreditam!

Fonte: http://www.bibliacatolica.com.br

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Santo terço


egunda-feira, 26 de março de 2012

Terceira dezena: Excelência do Santo Rosário na meditação da vida e da paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo

Nota do blogue: Acompanhe este Especial AQUI.




21ª ROSA
Os quinzes mistérios do Rosário


Um mistério é uma coisa sagrada e de difícil compreensão. As obras de Jesus Cristo são todas sagradas e divinas, porque ele é Deus e homem ao mesmo tempo. As da Santíssima Virgem são muito santas, porque Ela é a mais perfeita de todas as puras criaturas. As obras de Jesus Cristo e de Sua Santíssima Mãe chamam-se com razão mistérios, porque estão cheias de grande quantidade de maravilhas, perfeições e instruções profundas e sublimes, que o Espírito Santo dá a conhecer aos humildes e às almas simples que os honram.


Pode-se ainda chamar às obras de Jesus e de Maria flores admiráveis, cujo odor e beleza são apenas conhecidos daqueles que delas se aproximam, e daqueles que as cheiram e as abrem por meio de uma atenta e séria meditação.


São Domingos dividiu a vida de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem em quinze mistérios, que representam as Suas virtudes e os Seus principais atos como quinze quadros cujos traços nos devem servir de regra e de exemplo na condução da nossa vida. São quinze tochas para guiar nossos passos neste mundo; quinze espelhos ardentes para conhecer Jesus e Maria, para nos conhecermos a nós mesmos e para alumiar o fogo do seu amor em nossos corações; quinze fornalhas para nos consumirem inteiramente com suas celestes chamas.


A Santíssima Virgem ensinou a São Domingos este excelente método de rezar e ordenou-lhe que o pregasse, afim de despertar a piedade dos cristãos e fazer reviver o amor de Jesus Cristo em seus corações. Ela ensinou-o também ao Bem-aventurado Alain de la Roche. “É uma oração utilíssima, disse-lhe Ela, e um serviço que me é muito agradável, a recitação de cento e cinquenta Saudações Angélicas. E o é ainda mais, e será ainda de maior proveito, se se rezarem as Saudações acompanhadas da meditação da vida, da paixão e da glória de Jesus Cristo, pois essa meditação é a alma destas orações.” Com efeito, o Rosário, sem a meditação dos mistérios sagrados da nossa salvação, será quase como que um corpo sem alma, uma excelente matéria sem sua forma, que é a meditação, e que a distingue das outras devoções.


A primeira parte do Rosário contem cinco mistérios: o primeiro é a Anunciação do Arcanjo Gabriel à Santíssima Virgem; o segundo, a Visitação da Santíssima Virgem a sua prima Santa Isabel; o terceiro, o Nascimento de Jesus Cristo; o quarto, a Apresentação do Menino Jesus no templo e a purificação da Santíssima Virgem; o quinto, o Encontro de Jesus no templo entre os doutores; os quais se chamam Mistérios Gozosos por causa da alegria que proporcionaram a todo o universo. A Santíssima Virgem e os anjos ficaram cheios de alegria no momento ditoso em que o Filho de Deus se incarnou; Santa Isabel e São João Batista ficaram cheios de alegria pela visita de Jesus e de Maria; o Céu e a terra rejubilaram com o nascimento do Salvador; Simeão foi consolado e regozijado, quando recebeu Jesus em seus braços; os doutores estavam arrebatados de admiração ouvindo as respostas de Jesus; e quem pode exprimir a alegria de Maria e de José encontrando Jesus após três dias de ausência?


A segunda parte do Rosário é igualmente composta de cinco mistérios que são chamados de Mistérios dolorosos, porque representam Jesus Cristo oprimido pela tristeza, coberto de chagas, carregado de opróbrios, de dores e de tormentos. O primeiro desses mistérios é a oração de Jesus e a Sua Agonia no Horto das Oliveiras; o segundo, a Flagelação; o terceiro, o Coroação de espinhos; o quarto, o Caminho do Calvário carregando a cruz; o quinto, a Crucificação e Morte no Calvário.


A terceira parte do Rosário contem outros cinco mistérios que se chamam Gloriosos, porque aí se contemplam Jesus e Maria em Seu triunfo e sua glória. O primeiro é a Ressurreição de Jesus; o segundo, Sua Ascensão ao Céu; o terceiro, a Descida do Espírito Santo sobre os apóstolos; o quarto, a Assunção da gloriosa Virgem; o quinto, Sua Coroação.


Eis as quinzes flores odoríferas do Rosário místico sobre as quais as almas piedosas se detêm como diligentes abelhas, para aí recolherem a substância admirável e produzir o mel de uma devoção sólida.


22ª ROSA
A meditação do Rosário nos conforma com Jesus


A principal preocupação da alma cristã é de tender à perfeição. “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos muito amados”, (1) diz-nos o grande Apóstolo. Esta obrigação está compreendida no decreto eterno da nossa predestinação, como o único meio ordenado para atingir a glória eterna. São Gregório de Nice diz graciosamente que somos pintores. Nossa alma é a tela branca sobre a qual devemos aplicar o pincel, as virtudes são as cores que devem revelar seu brilho, e o original que devemos copiar é Jesus Cristo, a imagem viva que representa perfeitamente o Pai eterno. Assim, como um pintor para fazer um retrato ao natural põe diante dos olhos o original, e a cada golpe de pincel que dá o olha, do mesmo modo o cristão deve ter sempre diante dos olhos a vida e as virtudes de Jesus Cristo, para não dizer, nem pensar, nem fazer nada que não seja de acordo com Ele.


Foi para ajudar-nos na importante obra da nossa predestinação, que a Santíssima Virgem mandou São Domingos ensinar os fieis a rezar o Rosário, os mistérios sagrados da vida de Jesus Cristo, não somente para que O adorem e glorifiquem, mas principalmente para que regulem sua vida e suas ações de acordo com as Suas virtudes. Ora, como as crianças imitam seus pais vendo-os e conversando com eles, como aprendem a sua linguagem ouvindo-os falar; ou como um aprendiz, vendo trabalhar seu mestre, aprende a sua arte; assim os fieis confrades do Rosário, considerando seriamente e devotamente as virtudes de Jesus Cristo, nos quinze mistérios da Sua vida, tornam-se semelhantes a este divino Mestre, com o auxílio da Sua graça e pela intercessão da Santíssima Virgem.


Se Moisés ordenou ao povo hebreu, da parte do próprio Deus, que jamais esquecesse os benefícios que tinham recebido, ainda com mais razão o Filho de Deus nos pode mandar gravar no coração e ter sempre diante dos olhos os mistérios da Sua vida, da Sua paixão e da Sua glória, uma vez que também eles são benefícios com que nos favoreceu e pelos quais nos mostrou a excelência do Seu amor para nossa salvação. Diz Ele: “Ó vós todos, que passais pelo caminho: olhai e julgai se existe dor igual à dor que me atormenta, e que suportei por amor a vós.(2) Lembrai-vos da minha aflição e amargura, do absinto e do fel, que tomei por vós na minha paixão.” (3)


Estas palavras e muitas outras que podemos recordar devem bastar para nos convencer da obrigação que temos de não nos contentarmos em rezar o Rosário vocalmente em honra de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem, mas meditando ao mesmo tempo os mistérios sagrados.


23ª ROSA
O Rosário, memorial da vida e da morte de Jesus


Jesus Cristo, o divino Esposo de nossas almas, nosso dulcíssimo amigo, deseja que nos lembremos dos Seus benefícios e que os estimemos acima de todas as coisas. Ele recebe uma glória acidental, assim como a Santíssima Virgem e todos os santos do Paraíso, quando meditamos com devoção e afeição os mistérios sagrados do Rosário, que são os efeitos mais assinaláveis do Seu amor por nós e os mais ricos presentes que Ele nos pode oferecer, pois que através deles gozam da glória a Santíssima Virgem e todos os santos.


A Bem-aventurada Angèle de Foligno rezava um dia a Nosso Senhor para que lhe dissesse com que exercício ela mais O honraria. Ele apareceu-lhe pregado à cruz e disse-lhe: “Minha filha, contempla as minhas chagas.” Assim ela aprendeu deste amabilíssimo Salvador que nada Lhe é mais agradável que a meditação dos Seus sofrimentos. Depois Ele revelou as feridas da Sua cabeça e muitas circunstâncias dos Seus tormentos e disse-lhe: “Sofri tudo isto para tua salvação, que podes tu fazer que iguale o meu amor por ti?


O Santo Sacrifício da Missa honra infinitamente a Santíssima Trindade, porque representa a paixão de Jesus Cristo e porque por meio dela oferecemos a Deus os méritos da Sua obediência, do Seus sofrimentos e do Seu sangue. Toda a corte celeste recebe também com a Santa Missa glória acidental, e muitos doutores, incluindo São Tomás, dizem, pela mesma razão, que a mesma corte celeste se alegra com a comunhão dos fiéis, porque o Santo Sacramento é um memorial da paixão e da morte de Jesus Cristo, e que, por este meio, os homens partilham os seus frutos e avançam no caminho da salvação.


Ora, o Santo Rosário, rezado com a meditação dos mistérios sagrados, é um sacrifício de louvores a Deus pelos benefícios do nosso Redentor e uma devota lembrança dos sofrimentos, da morte e da glória de Jesus Cristo. É pois verdade que o Rosário causa glória e alegria acidental a Jesus Cristo, à Santíssima Virgem e a todos os bem-aventurados, porque eles mais não desejam, para nossa felicidade eterna, que ver-nos ocupados com um exercício tão glorioso para o nosso Salvador e tão salutar para nós.


O Evangelho assegura-nos que um pecador que se converta e faça penitência causa alegria a todos os anjos. Se é suficiente para alegrar os anjos que um pecador deixe os seus pecados e faça penitência, que alegria, que júbilo será para toda a corte celeste, que glória para o próprio Jesus Cristo, ver-nos sobre a terra, meditar devotamente e com amor as Suas humilhações, os Seus tormentos, a sua morte cruel e ignominiosa? Há alguma coisa mais eficaz para nos tocar e levar a uma sincera penitência?


O cristão que não medita os mistérios do Rosário mostra uma grande ingratidão para com Jesus Cristo e a pouca estima que tem para com tudo o que o divino Salvador sofreu para salvação do mundo. Sua conduta parece dizer que ele ignora a vida de Jesus Cristo, e que põe pouco cuidado em aprender aquilo que Ele fez e o que sofreu para nos salvar. Esse cristão devia temer que, não tendo conhecido Jesus Cristo, ou que tendo-O esquecido, Ele o rejeite no dia do julgamento com esta censura: “Em verdade vos digo: não vos conheço!”(4)


Meditemos pois sobre a vida e os sofrimentos do Salvador durante o Santo Rosário, aprendamos a conhecer e reconhecer os Seus benefícios, afim de que Deus nos reconheça como Seus filhos e como Seus amigos no dia do julgamento.


24ª ROSA
A meditação dos mistérios do Rosário é um grande meio de perfeição


Os santos tinham como seu principal estudo a vida de Jesus Cristo. Meditavam sobre as Suas virtudes e sobre os Seus sofrimentos, e, por este meio, chegavam à perfeição cristã. São Bernardo começou por este exercício, que continuou sempre. “Desde o princípio da minha conversão, diz ele, fiz um ramo de mirra composto das dores do meu Salvador; e pus esse ramo sobre o meu coração, pensando nas chicotadas, nos espinhos e nos cravos da paixão. Apliquei todo o meu espírito a meditar todos os dias sobre esses mistérios.”


Este foi também o exercício dos santos mártires; e é espantosa a forma como eles triunfaram dos mais cruéis tormentos. De onde poderia vir aquela admirável constância dos mártires, diz São Bernardo, senão das chagas de Jesus Cristo, sobre as quais eles faziam a sua mais frequente meditação? Onde estava a alma desses generosos atletas, quando seu sangue corria e seus corpos eram triturados pelos suplícios? Suas almas estavam nas chagas de Jesus Cristo e as suas chagas os tornavam invencíveis.


A Santíssima Mãe do Salvador ocupou unicamente a vida a meditar sobre as virtudes e os sofrimentos do seu Filho. Quando ouviu os anjos cantar no Seu nascimento cânticos de alegria, quando viu os pastores adorando-O no estábulo, seu espírito encheu-se de admiração e meditava todas essas maravilhas. Ela comparava as grandezas do Verbo incarnado com os Seus profundos abatimentos; a palha e o presépio, com Seu trono e com o seio de Seu Pai; o poder de Deus, com a delicadeza de uma criança; a Sua sabedoria, com a Sua simplicidade.


A Santíssima Virgem disse um dia a Santa Bígida: “Quando eu contemplava a beleza, a modéstia, a sabedoria de meu Filho, a minha alma enchia-se de alegria; e quando considerava as Suas mãos e os Seus pés que pereceriam com cravos, eu vertia uma torrente de lágrimas, e o meu coração partia-se-me de tristeza e de dor.”


Após a Ascensão de Jesus Cristo, a Santíssima Virgem passou o resto da sua vida a visitar os lugares que o divino Salvador tinha santificado com a Sua presença e com os Seus tormentos. Aí Ela meditava sobre a Sua caridade infinita e sobre os rigores da Sua paixão. Esse era também o exercício continuo de Maria Madalena durante os trinta anos que viveu solitária na santa gruta. Do mesmo modo, São Jerônimo diz que esta era a devoção dos primeiros fiéis; de todos os países do mundo eles visitavam a terra santa para gravar mais profundamente em seus corações o amor e a lembrança do Salvador dos homens, pela vista dos objetos e dos lugares que Ele havia consagrado pela Sua nascença, pelos Seus trabalhos, pelos Seus sofrimentos e pela Sua morte.


Todos os cristãos têm apenas uma fé, adoram um só Deus, esperam uma mesma felicidade no Céu, e conhecem um único mediador que É Jesus Cristo. Todos devem imitar esse divino modelo, e para isso considerar os mistérios da Sua vida, das Suas virtudes e da Sua glória. É um erro imaginar-se que a meditação das verdades da fé e dos mistérios da vida de Jesus Cristo não compete senão aos padres, aos religiosos e àqueles que se afastaram dos embaraços do mundo. Se os religiosos e os eclesiásticos são obrigados a meditar sobre as grandes verdades da nossa santa religião para responder dignamente à sua vocação, os leigos estão igualmente obrigados, por causa do perigo que correm diariamente de perder-se. Eles devem pois armar-se com a frequente lembrança da vida, das virtudes e dos sofrimentos do Salvador, que estão representados nos quinze mistérios do Santo Rosário.


25ª ROSA
Riquezas de santificação encerradas nas orações e meditações do Rosário


Jamais alguém poderá compreender as riquezas admiráveis de santificação que estão encerradas nas orações e nos mistérios do Santo Rosário. Esta meditação de mistérios da vida e da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo é, para todos aqueles que a praticam, a fonte dos frutos mais maravilhosos. Hoje, querem-se coisas que impressionem, que comovam, que produzam na alma impressões profundas. Mas o que há no mundo de mais comovente que a história maravilhosa de nosso Redentor, desenrolando-se em quinze quadros que nos recordam as grandes cenas da vida, da morte e da glória do Salvador do mundo? Que orações são mais excelentes e mais sublimes que a Oração Dominical e a Ave do anjo? Aí se encerram todos os nossos desejos, todas as nossas necessidades.


A meditação dos mistérios e das orações do Rosário é a mais fácil de todas as orações, porque a diversidade de virtudes e de estados de Jesus Cristo que nela se estudam, recreia e fortifica maravilhosamente o espírito e impede as distracções. Os sábios encontram nas suas fórmulas a doutrina mais profunda, e os pequenos, as instruções mais familiares.


É preciso passar por esta fácil meditação, antes de ascender ao grau mais sublime de contemplação. Tal é a opinião de São Tomás de Aquino e o conselho que nos dá, quando diz que é preciso exercitarmo-nos antecipadamente, como num campo de batalha, com a aquisição de todas as virtudes das quais temos o modelo perfeito nos mistérios do Rosário. É aí, diz o sábio Caetano, que adquirimos a união íntima com Deus, sem a qual a contemplação não passa de uma ilusão capaz de seduzir as almas.


Se os falsos iluminados de nossos dias ou os quietistas tivessem seguido este conselho, não teriam tido tão vergonhosas caídas, nem causado tantos escândalos em questões de devoção. É uma estranha ilusão do demônio crer que se possam fazer orações mais sublimes que o Pai-nosso e a Ave-Maria, abandonando estas divinas orações que são o sustento, a força e a guarda da alma.


Reconheço que não é sempre necessário rezá-las vocalmente e que a oração interior, de certo modo, é mais perfeita que a vocal; mas asseguro-vos que é bastante perigoso, para não dizer pernicioso, abandonar de vontade própria a recitação do Terço ou do Rosário sob o pretexto de uma mais perfeita união a Deus. A alma sutilmente orgulhosa, enganada pelo demônio, faz tudo o que pode interiormente para se elevar ao grau mais sublime das orações dos santos, desprezando e deixando por isso as suas antigas formas de rezar, que são boas para a generalidade das almas. Ela faz-se surda à oração e à saudação de um anjo e mesmo à oração que Deus fez, praticou e aconselhou: Sic orabitis: Pater noster. (5) Chegando a este ponto essa alma mais não faz que tropeçar de ilusão em ilusão e de precipício em precipício.


Crede em mim, caro confrade do Rosário, se pretendeis chegar a um alto grau de oração, sem a afectação e sem cair nas ilusões do demónio tão frequentes nas pessoas de oração, rezai todos os dias, se puderdes, todo o Rosário ou pelos menos o Terço.


Chegastes já a esse alto grau de oração pela graça de Deus? Se quereis conservar-vos nele e crescer na humildade, conservai a prática do Santo Rosário, pois jamais uma alma que reze o Rosário todos os dias será formalmente herética ou enganada pelo demónio; e esta é uma afirmação que eu assinaria com meu sangue.


Se contudo Deus, pela sua infinita misericórdia, vos atrai, no meio do Rosário, tão poderosamente como a alguns santos, deixai-vos arrastar pela sua atração, deixai Deus operar e rezar por vós e recitar o Rosário à Sua maneira, e tal vos bastará por esse dia.


Mas se estais apenas na contemplação ativa ou oração ordinária de quietude, de presença de Deus e de afeto, tendes ainda menos razão para abandonar o Rosário, e bem longe de recuar na oração e na virtude rezando-o, pelo contrário, ele vos será uma ajuda maravilhosa e a verdadeira escada de Jacob, de quinze degraus, pela qual ireis de virtude em virtude, de luz em luz, e chegareis facilmente, sem enganos, até à plenitude da idade de Jesus Cristo.


26ª ROSA


Evitai imitar a obstinação daquela devota de Roma de quem tanto falam as maravilhas do Rosário. Era uma pessoa tão devota e tão fervorosa que confundia com a sua santa vida os religiosos mais austeros da Igreja de Deus.


Desejando consultar São Domingos e estando-se a confessar com ele, este impôs-lhe como penitência que rezasse apenas um Rosário e como conselho que o rezasse todos os dias; ela porém escusou-se dizendo que tinha os seus exercícios e orações regulares, que trazia cilício, que se mortificava, que fazia muitos jejuns e outras penitências. São Domingos instou-a com maior insistência a seguir o seu conselho, mas ela não o quis fazer; e saiu do confessionário como que escandalizada com o proceder do seu novo director espiritual, que queria persuadi-la a uma devoção que não lhe agradava.


Mas eis que, estando em oração, foi arrebatada em êxtase e viu sua alma obrigada a comparecer diante do Soberano juiz. Viu então São Miguel aparecer e colocar todas as suas penitências e orações num prato de uma balança e no outro prato todos os seus pecados e imperfeições. O anjo levantou a balança, e o prato das suas boas obras subiu e não conseguiu contrabalançar o prato dos seus pecados e imperfeições. Toda alarmada, ela gritou misericórdia, e dirigiu-se à Santíssima Virgem, sua advogada, a qual deixou cair sobre o prato das suas boas obras apenas o Rosário que ela dissera por penitência, o qual pesava tanto que fez o prato dos seus pecados subir. E de imediato foi repreendida pela Santíssima Virgem por se ter recusado a seguir o conselho de seu servidor Domingos de rezar o Santo Rosário todos os dias.


Voltando a si, ela foi ter com São Domingos e lançou-se-lhe aos pés, prometendo rezar o Rosário diariamente; e por este meio chegou à perfeição cristã, e à glória eterna.


Aprendei com estes exemplo, pessoas de oração, a força, o prêmio e a importância da devoção do Santo Rosário com a meditação dos mistérios.


Ninguém houve mais elevado na oração que Santa Madalena, que era transportada aos Céus pelos anjos sete vezes ao dia, que frequentara a escola de Jesus Cristo e da Sua Santíssima Mãe; contudo, quando pediu um dia a Deus um bom meio para avançar em seu amor e chegar à mais alta perfeição, o arcanjo São Miguel veio da parte de Deus dizer-lhe que não conhecia outro que meditar, por meio de uma cruz que lhe colocou diante da caverna, os mistérios dolorosos que ela tinha presenciado com seus próprios olhos.


Que o exemplo de São Francisco de Sales, o grande diretor das almas espirituais do seu tempo, vos estimule a ingressar na Santa Confraria do Rosário, pois, apesar de santo, fez votos de rezar o Rosário inteiro todos os dias da sua vida até à hora da morte.


São Carlos Borromeu também rezava o Rosário todos os dias e recomendava encarecidamente esta devoção aos seus sacerdotes, aos seus seminaristas e a todo o seu povo.


O Beato Pio V, um dos Papas mais eminentes que governaram a Igreja, rezava todos os dias o Rosário. São Tomás de Vilanova, Arcebispo de Valência, Santo Inácio, São Francisco Xavier, São Francisco de Borja, Santa Teresa, São Filipe de Neri, e muitos outros grandes homens praticaram esta devoção. Segui os seus exemplos, vossos diretores espirituais ficarão bem agradados, e se os informardes dos frutos que podeis retirar dele, eles serão os primeiros a vo-lo aconselhar.


27ª ROSA


Para vos animar ainda mais a esta devoção das grandes almas, acrescento que o Rosário rezado com a meditação dos mistérios: 1) eleva-nos gradualmente ao conhecimento perfeito de Jesus Cristo; 2) purifica-nos as almas do pecado; 3) permite-nos vencer todos os inimigos;) facilita-nos a prática das virtudes; 5) abrasa-nos de amor a Jesus Cristo; 6) enriquece-nos de graças e de méritos; 7) proporciona-nos com que pagar nossas dívidas a Deus e aos homens, e por fim, permite-nos receber de Deus toda a espécie de graças.


O conhecimento de Jesus Cristo é a ciência dos cristãos e a ciência da salvação; ela suplanta, diz São Paulo,(6) todas as ciências humanas em prêmio e em excelência: 1) pela dignidade do seu objecto, que é um Deus homem, em presença do qual todo o universo não é que uma gota de orvalho ou grão de areia; 2) pela sua utilidade, pois que as ciências humanas não nos enchem que de vento e fumaça do orgulho; 3) pela sua necessidade, pois não podemos ser salvos se não tivermos o conhecimento de Jesus Cristo, e aquele que ignora todas as outras ciências será salvo, conquanto esteja iluminado pela ciência de Jesus Cristo. Ditoso Rosário que nos proporciona esta ciência e o conhecimento de Jesus Cristo, fazendo-nos meditar Sua vida, Sua morte e paixão, e Sua glória.


A Rainha de Saba, admirando a sabedoria de Salomão, exclamou: “Felizes os teus homens, felizes os teus servos que estão sempre contigo e ouvem a tua sabedoria!”; (7) mais ditosos os fiéis que meditam atentamente a vida, as virtudes, os sofrimentos e a glória do Salvador, porque adquirem, por este meio, Seu perfeito conhecimento no qual consiste a vida eterna. Haec est vita aeterna.(8)


A Santíssima Virgem revelou ao Bem-aventurado Alain que, assim que São Domingos pregou o Rosário, os pecadores endurecidos foram tocados e choraram amargamente todos os seus crimes; mesmos as crianças mais novas fizeram penitências incríveis e o fervor foi tão grande, por todo o lado onde ele pregou o Rosário, que os pecadores mudaram de vida e edificaram todo o mundo com as suas penitências e a sua emenda.


Se sentis a vossa consciência carregada com algum pecado, pegai no vosso rosário, rezando uma parte em honra de alguns mistérios da vida, da paixão e da glória de Jesus Cristo, e estai persuadidos de que, enquanto meditais e honrais estes mistérios, Ele mostrará Suas chagas sagradas a Seu Pai no Céu, e intercederá por vós obtendo-vos a contrição e o perdão dos pecados. Ele disse um dia ao Bem-aventurado Alain: “Se esses miseráveis pecadores rezassem frequentemente o meu Rosário, participariam dos méritos da minha paixão, e, como seu Advogado, eu apaziguaria a divina justiça.”


Esta vida é uma guerra e uma tentação contínua; não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra as forças espirituais do mal. (9) E que melhores armas podemos tomar para combatê-las que a oração que o nosso grande Capitão nos ensinou? Que a Saudação Angélica, que expulsou os demônios, destruiu o pecado e renovou o mundo? Que a meditação da vida e da paixão de Jesus Cristo, que são pensamentos dos quais nos devemos armar, como nos ordena São Pedro, para nos defender dos mesmos inimigos que Ele venceu e que nos atacam todos os dias? “Depois que o demônio, diz o cardeal Hugo, foi vencido pela humildade e pela paixão de Jesus Cristo, não consegue atacar uma alma armada da meditação destes mistérios ou, se ataca, é vencido de maneira vergonhosa.” Induite vos armaturam Dei.(10)


Armai-vos pois destas armas de Deus, do Santo Rosário, e quebrareis a cabeça do demônio, e habitareis seguros contra todas as tentações. Eis porque o Rosário mesmo material é tão horrível ao diabo, e os santos se serviram dele para encarcerá-lo e expulsá-lo do corpo dos possessos, como muitas histórias dão testemunho.


Um homem, diz o Bem-aventurado Alain, tendo em vão tentado toda a sorte de práticas de devoção para se livrar do espírito maligno que o possuía, lembrou-se de pôr ao pescoço um rosário, o que o aliviou. E tendo percebido que quando o tirava do pescoço o demônio o atormentava cruelmente, resolveu carregá-lo ao pescoço dia e noite, o que afastou o diabo para sempre, não podendo este suportar uma tão terrível cadeia. O próprio Bem-aventurado Alain assegura que livrou um grande número de possessos pondo-lhes um rosário ao pescoço.


Ao Padre Jean Amât, da ordem de São Domingos, pregando um dia a Quaresma num lugar do Reino de Aragão, trouxeram-lhe uma jovem possuída pelo demônio. Após tê-la exorcizado várias vezes, em vão, colocou-lhe ao pescoço o seu rosário, e de imediato ela se pôs a gritar com uivos assustadores, dizendo: “Tira-o, tira-me estes grãos que me atormentam!” Por fim o padre, por compaixão para com a pobre jovem, tirou-lhe o rosário do pescoço.


Na noite seguinte, quando o Padre estava em seu leito a descansar, os mesmos demônios que possuíam a jovem vieram ter com ele, escumando de raiva, para se apoderarem da sua pessoa; mas com o seu rosário que apertava fortemente na mão, malgrado os esforços que os demônios faziam para arrancar-lho, ele combateu-os admiravelmente e pô-los em fuga, dizendo: “Santa Maria, Nossa Senhora do Santo Rosário, ampara-me!”


Quando na manhã seguinte, indo para a igreja, encontrou a pobre jovem ainda possuída, um dos demônios que estava nela pôs-se a dizer, gozando dele: “Ah, irmão, se não tivesses o teu rosário, nós bem te teríamos possuído.” Então o Padre meteu de novo o rosário no pescoço da jovem e disse: “Pelo santíssimo nome de Jesus e de Maria, Sua santa Mãe, e pela virtude do Santíssimo Rosário, eu comando-vos, espíritos malignos, que saiam desse corpo imediatamente!”; e logo eles tiveram de obedecer, e foi a jovem libertada.


Estas histórias mostram-nos a força que tem o Santo Rosário para vencer toda a sorte de tentações de demónios e toda a sorte de pecados, porque os grãos benditos do Rosário os metem em fuga.


28ª ROSA


Santo Agostinho assegura que não há exercício mais frutuoso e mais útil à salvação que pensar com frequência nos sofrimentos de Nosso Senhor. Santo Alberto Magno, mestre de São Tomás, soube por revelação que a simples lembrança, ou a meditação, da paixão de Jesus Cristo é mais meritória ao cristão que jejuar todas as sextas-feiras durante um ano a pão e água, flagelar-se até ao sangue todas as semanas, ou rezar todos os dias o saltério. Ah, quão grande é pois o mérito do Rosário, que relembra toda a vida e paixão de Nosso Senhor!

A Santíssima Virgem revelou um dia, ao Bem-aventurado Alain de la Roche, que após o santo sacrifício da Missa, que é a primeira e mais viva memória da paixão de Jesus Cristo, não há devoção mais excelente e mais meritória que o Rosário, que é como uma segunda memória e representação da vida e da paixão de Jesus.


O Padre Dorland conta que a Santíssima Virgem disse um dia ao venerável Domingos, cartuxo, devoto do Santo Rosário, que residia em Trèves no ano de 1481: “Todas as vezes que um fiel reza o Rosário meditando os mistérios da vida e da paixão de Jesus Cristo, em estado de graça, obtém plena e completa remissão de todos os seus pecados.”


Ela disse também ao Bem-aventurado Alain: “Sabe que ainda que haja grande quantidade de indulgências concedidas ao meu Rosário, eu juntarei muitas mais por cada cinquentena àqueles que o rezarem sem pecado mortal, de joelhos, devotamente; e a todo aquele que perseverar na devoção do Santo Rosário com estas condições e meditações, eu lhe obterei, como recompensa por esse bom serviço, plena remissão da pena e da culpa de todos os seus pecados no fim da sua vida.


E que isto não te pareça inacreditável; é-me fácil, pois eu sou a Mãe do Rei dos Céus, que me chama cheia de graça, e, como cheia de graça, farei uma ampla efusão dela sobre os meus queridos filhos.”


São Domingos estava tão persuadido da eficácia e mérito do Santo Rosário que não dava quase nenhuma outra penitência àqueles que confessava, como vimos na história que contei da devota romana a quem ele deu por penitência apenas um Rosário.


Os confessores deveriam também, para seguir o exemplo desse grande santo, mandar os penitentes rezar o Rosário, com a reflexão sobre os sagrados mistérios, em detrimento de outras penitências que não são tão merecedoras de mérito, nem tão agradáveis a Deus, nem tão salutares às almas para as fazer avançar na virtude, nem tão eficazes para as impedir de cair no pecado; até porque, rezando o Rosário, se ganham uma quantidade de indulgências que não são concedidas a muitas outras devoções.


“Sem dúvida, diz o abade Blosius, que o Rosário, com a meditação da vida e da paixão, é muito agradável a Jesus Cristo e à Santíssima Virgem e muito eficaz para obter todas as coisas. Podemos rezá-lo tanto por nós como por aqueles que nos foram confiados ou mesmo por toda a Igreja. Recorramos pois à devoção do Santo Rosário em todas as nossas necessidades, e obteremos infalivelmente o que a Deus pedirmos para nossa salvação.”


29ª ROSA


Não há nada mais divino, segundo São Dionísio, nem nada mais nobre, nem mais agradável a Deus, que cooperar na salvação das almas e derrubar as máquinas do demónio que intentam perdê-las. Eis o motivo pelo qual desceu o Filho de Deus à terra. Ele derrubou o império de Satã com a fundação da Igreja; porém esse tirano recuperou as suas forças e exerceu uma cruel violência sobre as almas dos Albigenses, pelos ódios, pelas dissensões e pelos vícios abomináveis que fez reinar em todo o mundo no século XI.


Qual o remédio para tão grandes desordens? Como derrubar as forças de Satã? A Santíssima Virgem, protetora da Igreja, não deu meio mais eficaz para apaziguar a cólera de Seu Filho, para extirpar a heresia e reformar os costumes dos cristãos, que a confraria do Santo Rosário, como os fatos o demonstram. Reavivou-se a caridade, voltou-se à frequência dos sacramentos dos primeiros séculos de ouro da Igreja, e reformaram-se os costumes dos cristãos.


O Papa Leão X diz em sua bula que esta confraria foi fundada em honra de Deus e da Santíssima Virgem como um muro para travar as desgraças que se iriam abater sobre a Igreja.


Gregório XIII diz que o Rosário foi dado pelo Céu como um meio para apaziguar a cólera de Deus e implorar a intercessão da Santíssima Virgem.


Júlio III diz que o Rosário foi inspirado para nos abrir mais facilmente o Céu, através das mercês da Santíssima Virgem.


Paulo III e o Bem-aventurado Pio V declararam que o Rosário foi estabelecido e dado aos fiéis para se procurar mais eficazmente o repouso e a consolação espiritual. Quem negligenciará entrar numa confraria instituída para fins tão nobres?


O Padre Domingos, cartuxo, muito devoto do Rosário, viu um dia o Céu aberto e toda a corte celeste, disposta numa ordem admirável, cantando o Rosário, numa melodia arrebatadora, honrando a cada dezena um mistério da vida, da paixão e da glória de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem. E notou que quando pronunciavam o sagrado nome de Maria faziam todos uma inclinação de cabeça, e ao de Jesus, faziam todos uma genuflexão e prestavam graças a Deus pelos grandes bens concedidos ao Céu e à terra pelo Santo Rosário. Ele viu também a Santíssima Virgem e os santos presentear Deus com os Rosários que os confrades rezavam na terra, e rezando por aqueles que praticavam essa devoção. Ele viu ainda inumeráveis coroas, e lindíssimas e olorosas flores, preparadas para aqueles que rezam devotamente o Santo Rosário, os quais por cada vez que o rezam fazem para si uma coroa com que serão adornados no céu. A visão deste devoto cartuxo está em conformidade com a que teve o discípulo bem-amado, na qual viu uma multidão inumerável de anjos e de santos louvando e bendizendo Jesus Cristo por tudo o que fez e sofreu neste mundo para nossa salvação; não é isso que fazem os devotos confrades do Rosário?


Não há porque pensar que o Rosário é só para mulheres, para crianças e para ignorantes; ele é também para os homens, e para os maiores dos homens. Assim que São Domingos deu conta ao Papa Inocêncio III da ordem que recebeu do Céu de estabelecer esta santa confraria, o Santo Padre aprovou-a, exortou São Domingos a pregá-la e quis associar-se a ela. Os próprios cardeais a abraçaram com grande fervor, o que levou Lopez a dizer: Nullum sexum, nullam aetatem, nullam conditionem ab oratione rosarii subtraxit se.(11)

Deste modo pode ver-se nesta confraria todo o gênero de pessoas. Duques, príncipes, reis, prelados, cardeais, soberanos pontífices, entre outros, cuja enumeração seria demasiado longa para este pequeno livro. Assim, se ingressardes, caro leitor, nesta confraria, partilharás da sua devoção e das suas graças sobre a terra e da sua glória no Céu. Cum quibus consortium vobis erit devotionis, erit et communio dignitatis. (12)


30ª ROSA


Se os privilégios, as graças e as indulgências tornam uma confraria recomendável, pode-se dizer que a do Rosário é a mais recomendável da Igreja, pois é a mais favorecida e rica em indulgências, e não há quase nenhum Papa que após a sua instituição não tenha aberto os tesouros da Igreja para gratificá-la. E como o exemplo persuade melhor que as palavras e os benefícios, os Santos Padres não souberam demonstrar melhor a estima que tinham por esta confraria que associando-se a ela.


Eis aqui um pequeno resumo das indulgências que os Soberanos Pontífices inteiramente acordaram para a confraria do Santo Rosário, confirmadas de novo pelo nosso Santo Padre o Papa Inocêncio XI em Julho de 1679, recebida e tornada pública pelo Arcebispo de Paris em 25 de Setembro do mesmo ano:


1) No dia do ingresso na confraria: indulgência plenária;


2) Na hora da morte: indulgência plenária;


3) Por cada terço: dez anos e dez quarentenas de indulgências;


4) Por cada vez que forem pronunciados devotamente os santos nomes de Jesus e de Maria: sete dias de indulgências;


5) Para aqueles que assistam devotamente à procissão do Santo Rosário: sete anos e sete quarentenas de indulgências;


6) Àqueles que, verdadeiramente penitentes e confessados, visitarem a capela do Rosário na igreja em que esteja estabelecida, nos primeiros domingos de cada mês e nas festas de Nosso Senhor e da Santíssima Virgem: indulgência plenária;


7) Aos que assistam à Salve Rainha: cem dias de indulgência;


8) Aos que devotamente e para dar exemplo carreguem abertamente o Santo Rosário: cem dia de indulgências;


9) Aos confrades doentes que não possam ir à igreja que, tendo-se confessado e comungado, rezem nesse dia o Santo Rosário ou pelo menos o terço: indulgência plenária no dia marcado para ganhá-la;


10) Os Santos Padres, por grande bondade para com os confrades do Santo Rosário, deram-lhes a possibilidade de ganhar as indulgências das Estações de Roma, visitando cinco altares e rezando diante de cada um deles cinco vezes o Pai-nosso e a Ave-maria, pela prosperidade da Igreja. Se não houver mais que um ou dois altares dentro dessa igreja rezar-se-ão 25 vezes o Pai-nosso e a Ave-maria diante de um deles.


Este é um grande favor para os confrades do Santo Rosário, porque nas igrejas das Estações de Roma se podem obter indulgências plenárias, porque liberta as almas do purgatório e concede muitas outras grandes remissões que os confrades podem ganhar sem esforço, sem gastos, sem sair do seu país; e mesmo, se a confraria não está estabelecida no lugar onde habitam os confrades, eles ganham indulgências, visitando cinco altares de outra igreja qualquer, segundo a concessão de Leão X.


Eis os dias nos quais se podem ganhar indulgências, determinados e fixos, para quem não habita em Roma, por um decreto da Sagrada Congregação de Indulgências, aprovado pelo nosso Santo Padre a 7 de Março de 1678, que ordenou que seja inviolavelmente observado:


Todos os domingos do Advento; nos três dias de Quatro-têmporas; na vigília de Natal, nas missas da meia-noite, da aurora e do dia; nas festas de Santo Estêvão, de São João Evangelista, e dos Santos Inocentes, da Circuncisão e dos Reis; nos domingos da Septuagésima, Sexagésima, Quinquagésima e, desde a Quarta-feira de Cinzas, todos os dias, até ao Domingo de Ramos inclusivamente; nos três dias das Rogações; no dia da Ascensão; na vigília de Pentecostes, e todos os dias da oitava e os três dias de Quatro-têmporas de Setembro.


Caro confrade do Rosário, há um grande número de outras indulgências. Se as quiserdes conhecer, podeis ler o sumário das indulgências concedidas aos confrades do Rosário. Aí vereis os nomes dos papas, o ano e muitas outras particularidades que este livro não abrange.

Santo terço



Quarta dezena: A excelência do Santo Rosário nas maravilhas que Deus operou em seu favor

Nota do blogue: Acompanhe este Especial AQUI.






31ª ROSA


São Domingos tendo ido visitar Santa Branca, rainha de França, que, depois de 12 anos de casada, ainda não tinha filhos, o que a trazia em grandes cuidados, aconselhou-a a rezar o Rosário todos os dias, para obter do Céu essa graça; o que ela fez, dando à luz, no ano de 1213, o seu primogénito a que chamou Filipe. Mas tendo a morte arrebatado-o de seu berço, a devota rainha mais que nunca recorreu à Santíssima Virgem e mandou distribuir grande quantidade de rosários a toda a corte e em muitas cidades do reino, afim de que Deus a cumulasse de uma bênção completa. E assim aconteceu, pois no ano de 1215 veio ao mundo São Luís, glória da França e modelo dos reis cristãos.


Afonso VIII, rei de Aragão e Castela, foi, por causa dos seus pecados, castigado por Deus de muitas maneiras e viu-se obrigado a refugiar-se na cidade de um dos seus aliados. São Domingos, encontrando-se nessa mesma cidade no dia de Natal, pregou como era seu costume sobre o Rosário e as graças que se obtêm de Deus através dessa devoção e disse, entre outras coisas, que aqueles que o rezassem devotamente obteriam a vitória sobre os seus inimigos e reconquistariam tudo que tivessem perdido.


O rei ouviu atentamente estas palavras e mandou chamar São Domingos perguntando-lhe se o que ele tinha dito sobre o Santo Rosário era verdade. O santo respondeu que não havia do que duvidar e prometeu-lhe que se ele quisesse praticar essa devoção e juntar-se à confraria, veria então seus efeitos. O rei resolveu-se a rezar todos os dias o Rosário, e assim o fez durante um ano. No Natal seguinte, tendo rezado o seu Rosário, a Santíssima Virgem apareceu-lhe e disse-lhe: “Afonso, há um ano que me serves devotamente com meu Rosário, venho recompensar-te. Sabe que obtive de meu Filho o perdão de todos os teus pecados. Eis um rosário que te dou; trá-lo contigo, e jamais inimigo algum te poderá ferir.” Ela desapareceu e deixou o rei muito consolado. Ele voltou a casa, trazendo o rosário na mão e, abordando a rainha, contou-lhe cheio de felicidade o favor que acabara de receber da Santíssima Virgem, e com o rosário tocou-lhe nos olhos e ela recobrou a visão que tinha perdido muitos anos antes.


Algum tempo depois, o rei, tendo reunido algumas tropas, com a ajuda de seus aliados, atacou ousadamente os seus inimigos, obrigou-os a devolver as suas terras, a reparar os danos, derrotou-os completamente e foi tão afortunado na guerra que de todos os lados surgiram soldados para combater a seu lado, pois as vitórias pareciam seguir por toda a parte as suas batalhas. Isto não é de espantar, pois ele nunca iniciava um combate antes de rezar o Rosário de joelhos; e fez ingressar na confraria do Rosário toda a sua corte e exortava os seus oficiais e criados a serem devotos do Rosário. A rainha ingressou também, e ambos perseveraram ao serviço da Santíssima Virgem e viveram piedosamente.


32ª ROSA


São Domingos tinha um primo chamado Dom Pero, que levava uma vida dissoluta. Tendo ouvido que o santo pregava as maravilhas do Rosário e que muitos se convertiam e mudavam de vida dessa maneira, disse: “Tinha perdido a esperança da minha salvação, mas começo a ganhar coragem, é preciso que ouça esse homem de Deus.” E um dia assistiu então a um sermão de São Domingos. Quando o santo o viu, redobrou seu fervor em atacar os vícios, e rezou a Deus do fundo do coração para abrir os olhos de seu primo para que este conhecesse o estado miserável da sua alma.


Dom Pero ficou logo um pouco assustado, mas não se resolveu a converter-se; voltou uma outra vez a um sermão do santo e este, vendo que esse coração endurecido não se converteria sem nenhum acontecimento extraordinário, gritou bem alto: “Senhor Jesus, faz ver a toda esta audiência o estado em que se encontra aquele que acaba de entrar em vossa casa.”


Então todo o povo viu Dom Pero rodeado de uma multidão de demônios em forma de bestas horríveis que o tinham agrilhoado com correntes de ferro. Cada um fugiu assustado para seu lado, e ele ficou ainda mais assustado por se ver objeto do horror de todos. São Domingos mandou-os deterem-se e disse a Dom Pero: “Vede, desgraçado, o estado deplorável em que vos encontrais; arrojai-vos aos pés da Santíssima Virgem.” Deu-lhe um rosário. “Tomai este rosário, recitai-o com devoção e arrependimento de vossos pecados e fazei intenção sincera de mudar de vida.”


Ele pôs-se de joelhos, rezou o Rosário, e sentiu-se movido a confessar-se, o que fez com grande contrição. O santo ordenou-lhe que rezasse todos os dias o Santo Rosário; ele prometeu-lhe fazê-lo, e inscreveu ele próprio o seu nome na confraria. Seu rosto, que horripilante tinha assustado todos, parecia, ao sair da igreja, brilhar como o de um anjo. E assim perseverou na devoção do Rosário, levou uma vida bem ordenada e morreu ditosamente.


33ª ROSA


Pregando São Domingos o Santo Rosário próximo de Carcassone, levaram-lhe um herege albigense possuído pelo demônio. O santo exorcizou-o em presença de uma grande multidão; crê-se que o ouviam mais de doze mil homens. Os demônios, que possuíam esse pobre miserável, foram obrigados a responder, para sua desgraça, às perguntas do Santo, e disseram que eram quinze mil no corpo desse miserável, pois ele tinha atacado os quinze mistérios do Rosário; que, pelo Rosário que pregava, São Domingos causava terror e medo em todo o inferno, e que era o homem do mundo que eles mais odiavam por causa das almas que lhes roubava com a devoção do Rosário; e revelaram ainda muitas outras particularidades.


São Domingos, tendo colocado o seu rosário ao pescoço do possesso, perguntou-lhes qual de todos os santos do Céu eles mais temiam e qual devia ser mais amado e honrado por todos os homens.


A esta pergunta eles soltaram gritos tão assustadores que grande parte dos ouvintes, toldados pelo medo, caíram por terra. Em seguida, os espíritos malignos, para não responder, choraram e lamentaram-se de uma maneira tão piedosa, tão tocante, que muitos dos assistentes choraram também, movidos por uma piedade natural. Eles suplicaram através da boca do possesso com voz lamentosa: “Domingos, Domingos, tem piedade de nós; prometemos jamais te tocar ou causar-te qualquer mal.


Tu que tens piedade dos pecadores e miseráveis, tem piedade de nós, miseráveis. Vê quanto sofremos! Porque te comprazes em aumentar-nos os sofrimentos? Contenta-te com as penas que já suportamos. Misericórdia! Misericórdia! Misericórdia!”


O santo, sem se deixar tocar pelas palavras ternas desses espíritos desgraçados, respondeu-lhes que não pararia de os atormentar até que tivessem respondido à pergunta. Os demônios disseram-lhe que responderiam, mas em segredo e ao ouvido, e não diante de toda a multidão. O santo insistiu e ordenou-lhes que falassem bem alto, para que todos ouvissem. Mas os demônios não disseram uma só palavra, apesar da ordem que tinham recebido.


São Domingos então pôs-se de joelhos e fez esta oração à Santíssima Virgem: "O excellentissima Virgo Maria, per virtutem psalterii et rosarii tui, compelle hos humani generis hostes questioni meae satisfacere. – Ó Santíssima Virgem Maria, pela virtude do Santo Rosário, ordena a estes inimigos do gênero humano que respondam à minha questão.”


Assim que a oração terminou, eis que uma chama ardente saiu das orelhas, das narinas e da boca do possesso, fazendo tremer a todos. Então os demônios exclamaram: “Domingos, rogamos-te, pela paixão de Jesus Cristo e pelos méritos da Sua Santa Mãe e de todos os santos, que nos permitas sair deste corpo sem nada dizer; pois os anjos, quando o quiseres, to revelarão. Não somos nós mentirosos? Porque queres crer em nós? Não nos atormentes, tem piedade de nós.”


“Desgraçados sois, indignos de verdes vossos desejos satisfeitos”, disse São Domingos, que, ainda de joelhos, fez esta oração à Santíssima Virgem: “O Mater sapientiae dignissima et de cujus salutatione quomodo illa fieri debeat jam edoctus est populus; pro salute populi circumstantis rogo: Coge hosce tuos adversarios, ut plenam et sinceram veritatem palam hic profiteantur." (1) Mal ele tinha acabado a oração viu a Santíssima Virgem junto a ele, rodeada por uma grande multidão de anjos, que, com uma vara de ouro que trazia na mão, golpeava o endemoninhado dizendo-lhe: “Respondei ao meu servidor Domingos, conforme vos perguntou.” É preciso notar que o povo não ouvia nem via a Santíssima Virgem, mas apenas São Domingos.


Então os demônios começaram a gritar dizendo: “O inimica nostra, o nostra damnatrix, o nostra inimica, o nostra damnatrix, o confusio nostra, quare de coelo descendisti, ut nos hic ita torqueres? Per te quae infernum evacuas et pro peccatoribus tanquam potens advocata exoras; o Via coeli certissima et securissima, cogimur sine mora et intermissione ulla, nobis quamvis invitis, et contra nitentibus, totam rei proferre veritatem. Nunc declarandum nobis est simulque publicandum ipsum medium et modus quo ipsimet confundamur, unde vae et maledictio in aeternum nostris tenebrarum principibus.


Audite igitur vos, christiani. Haec christi Mater potentissima est in preservandis suis servis quominus precipites ruant in baratrum nostrum inferni. Illa est quae dissipat et enervat, ut sol, tenebras omnium machinarum et astutiarum nostrarum, detegit omnes fallacias nostras et ad nihilum redegit omnes nostras tentationes. Coactique fatemur neminem nobiscum damnari qui ejus sancto cultui et pio obsequio devotus perseverat. Unicum ipsius suspirum, ab ipsa et per ipsam sanctissimae Trinitati oblatum, superat et excedit omnium sanctorum preces, atque pium et sanctum eorum votum et desiderium, magisque eum formidamus quam omnes paradisi sanctos; nec contra fideles ejus famulos quidquam praevalere possumus.


Notum sit etiam vobis plurimos christianos in hora mortis ipsam invocantes contra nostra jura salvari, et nisi Marietta illa obstitisset nostrosque conatus repressisset, a longo jam tempore totam Ecclesiam exterminassemus, nam saepissime universos Ecclesiae status et ordines a fide deficere fecissemus. Imo planius et plenius vi et necessitate compulsi, adhuc vobis dicimus, nullum in exercitio Rosarii sive psalterii ejus perseverantem aeternos inferni subire cruciatus. Ipsa enim devotis servis suis veram impetrat contritionem qua fit ut peccata sua confiteantur, et eorum indulgentiam a Deo consequantur.”


“Ó nossa inimiga, ó nossa ruína, ó nossa confusão, porque viestes do Céu para nos atormentar de tal maneira? É preciso que, para nossa desgraça, ó advogada dos pecadores que os livras do inferno, ó caminho seguro para o Paraíso, sejamos obrigados a dizer toda a verdade? É preciso que confessemos diante de todo o mundo o que será a causa de nossa confusão e de nossa ruína? Malditos nós, maldito nosso príncipe das trevas. Escutai pois, cristãos. Esta Mãe de Jesus Cristo tem o poder de impedir que seus servidores caíam no inferno; é ela que, como um sol, dissipa as trevas das nossas maquinações e astúcias; é ela que descobre as nossas intrigas, que rompe as nossas redes e torna todas as nossas tentações inúteis e sem efeito. Somos obrigados a confessar que ninguém que persevere em seu serviço será condenado connosco. Um só dos seus suspiros, que ofereça à Santíssima Trindade, suplanta todas as orações, votos e desejos de todos os santos. Nós tememo-la mais que todos os bem-aventurados juntos e nada podemos contra os seus fiéis servidores.


Mesmo muitos cristãos que a invocam na hora da morte, e que deviam condenar-se, são salvos por sua intercessão. Ah, se esta Marieta (assim lhe chamavam na sua raiva) não se opusesse aos nossos desígnios e aos nossos esforços, há muito que teríamos derrubado e destruído a Igreja e feito cair todas as suas ordens no erro e na infidelidade. E acrescentamos, pela violência com que nos forçam, que ninguém que persevere na oração do Rosário será condenado; pois ela obtém para seus devotos servidores uma verdadeira contrição de seus pecados pela qual eles conseguem o perdão e a indulgência.”


Então São Domingos fez todo o povo rezar o Rosário, muito lenta e devotamente e, a cada Ave-maria que o santo e o povo rezavam (coisa espantosa), saíam do corpo do desgraçado uma grande multidão de demônios em forma de carvões ardentes. Tendo todos os demônios saído e o herege sido libertado, a Santíssima Virgem deu, ainda que invisivelmente, sua bênção a todo o povo, que ficou cheio de grande alegria, e partiu. Por causa deste milagre um grande número de hereges converteu-se e ingressou na confraria do Santo Rosário.


34ª ROSA


Quem poderá contar as vitórias que Simão, conde de Montfort, conseguiu sobre os albigenses sob a proteção da Nossa Senhora do Rosário? São elas tão famosas que o mundo jamais viu outras iguais. Ele derrotou uma vez dez mil hereges com quinhentos homens; uma outra vez, com trinta, venceu a três mil; de seguida com oitocentos cavaleiros e mil homens de infantaria, fez em pedaços a armada do rei de Aragão, composta de cem mil homens, sem perder mais que um cavaleiro e oito soldados dos seus.


De quantos perigos livrou a Santíssima Virgem a Alain de l’Anvallay, cavaleiro bretão, que combatia pela fé contra os albigenses! Um dia, estando rodeado de seus inimigos por todos os lados, a Santíssima Virgem lançou contra eles cento e cinquenta pedras e o livrou de suas mãos.


Numa outra ocasião, tendo o seu navio naufragado e estando perto de afundar-se, esta boa Mãe fez aparecer cento e cinquenta colinas por cima das quais chegou à Bretanha. E em memória dos milagres que a Santíssima Virgem fizera em seu favor por causa do Rosário que ele rezava diariamente, fundou em Dinan um convento para abrigar os religiosos da nova ordem de São Domingos e, tendo-se feito religioso, morreu santamente em Orleães.


Othère, também ele um soldado bretão, de Vancouleurs, pôs com frequência em fuga companhias inteiras de hereges e ladrões, com seu rosário no braço e à guarda da sua espada. Os seus inimigos, após serem vencidos, asseguraram-lhe terem visto resplandecer sua espada e aparecer uma vez um escudo em seu braço, no qual Jesus Cristo, a Santíssima Virgem e os santos estavam retratados, tornando-o invencível e dando-lhe a força para atacar.


De outra vez, com dez companhias, derrotou vinte mil hereges sem perder um só homem dos seus, o que tocou de tal maneira o general da aramada herege, que este foi ter com Othère, abjurou da sua heresia e declarou que o tinha visto coberto de armas de fogo durante o combate.


35ª ROSA


O Bem-aventurado Alain refere que um cardeal chamado Pierre, de Santa Maria do Tibre, instruído por São Domingos, seu amigo íntimo, se afeiçoou de tal maneira à devoção do Santo Rosário que foi seu panegirista e tentava persuadir a todos quanto podia para essa devoção. O cardeal foi enviado como legado à Terra Santa entre os cristãos cruzados que combatiam os sarracenos. E pregou tão bem a eficácia do Rosário à armada cristã que todos abraçando-a para implorar o socorro do Céu num combate, onde não eram mais que três mil, triunfaram sobre cem mil.


Os demônios, como havemos visto, temem infinitamente o Rosário. São Bernardo diz que a Saudação Angélica os quebranta e que faz tremer todo o inferno. O Bem-aventurado Alain assegura que viu muitas pessoas, que serviam o diabo de corpo e alma, renunciando ao baptismo e a Jesus Cristo, e depois, após abraçarem a devoção do Santo Rosário, serem libertadas da sua tirania.


36ª ROSA


No ano de 1578, uma mulher de Anvers entregou-se ao demônio por um contrato assinado com seu sangue. Mas algum tempo depois arrependeu-se, com grande ensejo de reparar o mal que fizera, e procurou um confessor prudente e caridoso, para saber por que meio poderia libertar-se do poder do diabo.


Ela encontrou um padre sábio e devoto que a aconselhou a procurar o padre Henri, diretor da Confraria do Santo Rosário, do convento de São Domingos, para que este a inscrevesse na confraria e a confessasse. Ela procurou-o mas, em vez do padre, encontrou o diabo, sob a forma de um religioso, que a repreendeu severamente e lhe disse que ela não poderia esperar quaisquer graças de Deus, nem nenhum meio de revogar o que tinha assinado, o que bastante a afligiu. Mas ela não perdeu toda a esperança na misericórdia de Deus, e voltou a procurar o padre encontrando de novo o diabo que a mandou embora como anteriormente. Ela voltou ainda uma terceira vez e encontrou então, por vontade divina, o padre Henri que procurava, o qual a recebeu caridosamente e a exortou a confiar na bondade de Deus e a fazer uma boa confissão; recebeu-a na confraria e ordenou-lhe que rezasse com frequência o Rosário. Um dia, durante a Missa que o padre celebrava por ela, a Santíssima Virgem forçou o diabo a devolver-lhe o contrato que ela tinha assinado; e assim foi ela libertada pela autoridade de Maria e pela devoção do Santo Rosário.


37ª ROSA


Um senhor que tinha muitos filhos pôs uma das suas filhas num mosteiro inteiramente desregrado, onde as religiosas não respiravam que vaidade e prazeres. O confessor, homem fervoroso e devoto do Santo Rosário, desejando conduzir esta jovem religiosa a uma prática de vida mais perfeita, ordenou-lhe que rezasse todos os dias o Rosário em honra da Santíssima Virgem, meditando na vida, paixão e glória de Jesus Cristo. A ela muito lhe agradou esta devoção; pouco a pouco começou a desgostar-se com o desregramento das suas irmãs; começou a amar o silêncio e a oração, malgrado o desprezo e as zombarias das outras, que a tomavam como uma beata fanática e falsa.


Nesse tempo, um santo abade, tendo ido visitar esse mosteiro, teve uma estranha visão, em suas orações; pareceu-lhe ver uma religiosa em sua cela, diante de uma grande senhora de uma beleza admirável, acompanhada por uma armada de anjos, os quais a golpes de flechas inflamadas perseguiam uma multidão de demônios que tentavam entrar. Perseguidos por esses golpes os espíritos malignos fugiam para as celas das outras religiosas, sob a forma de imundos animais, para as incitar ao pecado no qual muitas delas consentiam.


O abade conheceu, por essa visão, o estado desgraçado desse mosteiro e pensou morrer de tristeza. Chamou a jovem religiosa e exortou-a a perseverar. Refletindo sobre a excelência do Rosário, tomou a resolução de reformar essas religiosas através dessa devoção. Adquiriu bonitos rosários que ofereceu a todas elas, persuadindo-as a rezá-lo todos os dias e prometeu-lhes, caso o fizessem, que não as forçaria jamais a reformarem-se. Elas receberam agradecidas os rosários e prometeram rezá-lo com essa condição. (Coisa admirável!) Pouco a pouco deixaram as suas vaidades, remeteram-se ao silêncio e ao recolhimento, e em menos de um ano, pediram todas a reforma. O Rosário operara mais em seus corações do que o abade com suas exortações e com a sua autoridade.


38ª ROSA


Uma condessa de Espanha, tendo sido instruída na devoção do Santo Rosário por São Domingos, rezava-o todos os dias com avanços maravilhosos na virtude. Como ela aspirava à perfeição, pediu um dia a um prelado e famoso pregador algumas práticas de perfeição. O prelado disse-lhe que, primeiramente, tinha de conhecer o estado da sua alma e os seus exercícios de piedade; ela disse-lhe que o principal era o Santo Rosário, o qual ela rezava todos os dias, meditando os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos com grande proveito espiritual de sua alma. O bispo, entusiasmado de ouvir explicar os raros ensinamentos que estão contidos nos mistérios, disse-lhe: “Há vinte anos que sou doutor em teologia, li muitas e excelentes práticas de devoção; mas nada conheci que fosse mais frutuoso nem mais conforme ao cristianismo. Desejo imitar-vos, e pregarei o Rosário.” Assim o fez e com tal aventurado sucesso que, em pouco tempo, viu uma grande mudança de costumes na sua diocese, muitas conversões, restituições e reconciliações; os deboches, o jogo e o luxo cessaram; a paz nas famílias, a devoção e a caridade começaram a florir. Mudança tanto mais admirável quanto este bispo tinha trabalho bastante para reformar a sua diocese com muito poucos frutos.


Para melhor persuadir à devoção do Rosário, trazia sempre consigo um muito bonito e mostrava-o a seus ouvintes. E dizia: “Sabei, meus irmãos, que o Rosário da Santíssima Virgem é tão excelente que eu, que sou vosso bispo, doutor em teologia, e em ambos os direitos, me glorio de trazer sempre a mais ilustre marca de meu episcopado e doutorado.”


39ª ROSA


O Reitor de uma paróquia da Dinamarca contava frequentemente, para maior glória de Deus e com grande alegria de sua alma, que tinha visto na sua paróquia um fruto da devoção do Rosário semelhante ao desse bispo na sua diocese.


“Eu tinha, dizia ele, pregado todas as matérias mais urgentes e frutuosas, sem qualquer proveito; não via qualquer correção na minha paróquia. Por fim tomei a resolução de pregar o Santo Rosário, expliquei a suaexcelência e a sua prática, e asseguro que, após ter dado a conhecer esta devoção aos meus fiéis, vi uma mudança evidente de hábitos em seis meses.


Esta oração divina tem sem dúvida uma doçura especial para mover os corações e inspirar horror ao pecado e amor pela virtude.”


A Santíssima Virgem disse um dia ao Bem-aventurado Alain: “Assim como Deus escolheu a Saudação Angélica para a Incarnação de Seu Verbo e a Redenção dos homens, aqueles que desejam reformar os costumes da população e regenerá-los em Jesus Cristo devem honrar-me e saudar-me com a mesma saudação. Eu sou, acrescentou ela, o caminho pelo qual Deus veio aos homens e é preciso que após Jesus Cristo eles obtenham a graça e as virtudes por minha intercessão.”


Eu, que escrevo este pequeno livro, aprendi por experiência própria a força desta oração para converter os corações mais endurecidos. Encontrei alguns a quem as mais terríveis verdades pregadas em missões não tinham causado qualquer impressão e que, tendo adquirido, por meu conselho, a prática de rezar o Rosário diariamente, se converteram e se entregaram completamente a Deus.


Vi uma enorme diferença nos costumes das gentes das paróquias onde estive em missões, pois que uns, tendo abandonado a prática do Terço e do Rosário, tinham voltado a cair nos seus pecados; enquanto outros, por a terem conservado, conservavam-se também na graça de Deus e adiantavam todos os dias na virtude.


40ª ROSA


O Bem-aventurado Alain de la Roche, o Padre Jean Dumont, o Padre Thomas, as crônicas de São Domingos e de outros autores, que foram com frequência testemunhas oculares, falam de uma grande quantidade de conversões miraculosas de pecadores e pecadoras que depois de vinte, trinta e quarenta anos em extrema desordem, sem que nada os pudesse converter, converteram-se através desta devoção maravilhosa. Mas quanto a estes casos não os relatarei, receando alongar-me em demasia.


Nem mesmo relatarei das conversões que eu mesmo vi; passo-as todas em silêncio por variadas razões.


Caro leitor, se praticais e pregais esta devoção, aprendereis por experiência própria mais do que o podereis fazer em qualquer livro, e experimentareis ditosamente, o efeito das promessas que a Santíssima Virgem fez a São Domingos, ao Bem-aventurado Alain de la Roche e àqueles que fizeram florir esta devoção que lhe é tão agradável; devoção que instrui os povos nas virtudes de Seu Filho e nas Suas próprias, que conduz à oração mental, à imitação de Jesus Cristo, à frequência dos sacramentos, à prática segura das virtudes e a toda a sorte de boas obras, e a ganhar maravilhosas indulgências que os povos ignoram pois os pregadores desta devoção não falam delas quase nunca e contentam-se em fazer sermões do Rosário para agradar às modas, os quais frequentemente causam admiração mas que raramente instruem.


Por fim, contento-me em dizer-vos, com o Bem-aventurado Alain de la Roche, que o Rosário é uma fonte e um depósito de toda a espécie de bens:


1) P Peccatoribus praestat poenitentiam;
2) S Sitientibus stillat satietatem;
3) A Alligatis adducit absolutionem;
4) L Lugentibus largitur laetitiam;
5) T Tentatis tradit tranquillitatem;
6) E Egenis expellit egestatem;
7) R Religiosis reddit reformationem;
8) I Ignorantibus inducit intelligentiam;
9) V Vivis vincit vastitatem;
10) M Mortuis mittit misericordiam per modum suffragii. (2)


"Volo, disse um dia a Santíssima Virgem ao Bem-aventurado Alain, ut psaltae mei in vita et in morte, et post mortem, habeant benedictionem, gratiae plenitudinem ac libertatem, immunesque sint a caecitate, obduratione, inopia ac servitute."


“Quero que os devotos de meu Rosário tenham a graça e a bênção de meu Filho durante a sua vida, a sua morte, e após a sua morte, que sejam livres de toda a escravidão e sejam reis, com a coroa sobre a cabeça, o cetro na mão e a glória eterna. Ámen.”


Notas:


(1) Ó digníssima Mãe da Sabedoria, rogo-vos por este povo aqui PRESENTE que está já instruído sobre a maneira de bem rezar a Saudação Angélica. Forçai Vossos inimigos a confessar em público a verdade completa e sincera sobre este ponto.


(2) Os pecadores obtêm o perdão. As almas sedentas são saciadas. Aqueles que estão presos são libertados. Aqueles que choram encontram alegria. Aqueles que são tentados encontram tranquilidade. Os pobres são socorridos. Os religiosos são reformados. Os ignorantes são instruídos. Os vivos triunfam da decadência. Os mortos alcançam misericórdia através de sufrágios.

Santo terço




O santo método de rezar o Rosário

Nota do blogue: Esta tradução será reeditada pelas Escravas de Maria em breve. Aguardem!
Ver especial AQUI.


QUINTA DEZENA





41ª ROSA


116. Não é propriamente a duração, mas o fervor da oração, que agrada a Deus e Lhe conquista o coração. Uma só Ave-maria bem rezada tem mais mérito que cento e cinqüenta mal rezadas. Quase todos os cristãos católicos rezam o Rosário, o Terço ou pelo menos algumas dezenas de Ave-marias. Porque há, pois, tão poucos que se corrigem dos seus pecados e progridem na virtude, senão porque não fazem essas orações como devem?


117. Vejamos pois a maneira como se devem rezar essas orações para agradar a Deus e nos tornarmos mais santos. Primeiro é preciso que a pessoa que reze o Santo Rosário esteja em estado de graça ou pelo menos na resolução de libertar-se dos seus pecados, pois toda a teologia nos ensina que as boas obras e as orações feitas em pecado mortal são obras mortas, que não podem ser agradáveis a Deus nem merecer a vida eterna; é nesse sentido que está escrito: Non est speciosa laus in ore peccatoris. (33)
O Louvor e a Saudação do Anjo e mesmo a Oração de Jesus Cristo não são agradáveis a Deus quando saem da boca de um pecador impenitente: Populus hic labiis me honorat, cor autem eorum longe est a me. (34)
Essas pessoas que ingressam nas minhas confrarias, diz Jesus Cristo, e rezam todos os dias o Terço ou o Rosário, sem qualquer contrição de seus pecados, honram-me com os seus lábios, mas o coração está bem longe de mim.
Eu digo: “que ao menos tenha a resolução de libertar-se dos seus pecados, 1) porque se fosse absolutamente necessário estar na graça de Deus para fazer orações que lhe fossem agradáveis, concluir-se-ia que aqueles que estão em pecado mortal não deveriam rezar nunca, apesar de o necessitarem mais que os justos, e sendo assim seria inútil aconselhar um pecador a rezar o Terço ou o Rosário, o que é um erro condenado pela Igreja; 2) porque, se com vontade de continuar no pecado, e sem qualquer intenção de abandoná-lo, nos inscrevêssemos numa confraria da Santíssima Virgem, onde se rezasse o Terço, o Rosário ou qualquer outra oração, nos incluiríamos no número dos falsos devotos da Santíssima Virgem, devotos presunçosos e impenitentes que, sob o Seu manto, com o escapulário sobre o corpo ou de rosário na mão, gritam “Virgem Santíssima, boa Virgem, eu Vos saúdo Maria”, e contudo crucificam e dilaceram cruelmente Jesus Cristo com os seus pecados e caiem desgraçadamente, do meio das mais santas confrarias da Santíssima Virgem, no meio das chamas do inferno.

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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Efeitos da Santa Eucaristia - Santo Tomás de Aquino

Efeitos



No Sacramento da Eucaristia, em virtude das palavras da instituição, as espécies simbólicas se 
mudam em corpo e sangue; seus acidentes subsistem no sujeito; e nele, pela consagração, sem violação 
das leis da natureza, o Cristo único e inteiro existe Ele próprio em diversos lugares, assim como uma voz é 
ouvida e existe em vários lugares, continuando inalterado e permanecendo inviolável quando dividido, sem 
sofrer diminuição alguma. Cristo, de fato, está inteira e perfeitamente em cada e em todo fragmento de 
hóstia, assim como as aparências visíveis que se multiplicam em centenas de espelhos (...)