domingo, 30 de março de 2014

O Cego de nascença - IV



  Dom Henrique Soares Costa

Visão Cristã
domingo, 30 de março de 2014
IV Domingo da Quaresma: Na piscina do Enviado, a Luz

1Sm 16,1b.6-7.10-13a
Sl 22
Ef 5,8-14
Jo 9,1-41



Caríssimos no Senhor, o Evangelho de hoje é mais uma belíssima catequese batismal que nos prepara para a santa Páscoa. Não esqueçamos, Irmãos, que em muitas paróquias adultos estão terminando seus preparativos para o Batismo. No Domingo passado, no Evangelho da Samaritana, vimos que Jesus é o Messias, poço que dá a verdadeira água do Espírito Santo, água que é recebida no Batismo e jorra para a Vida eterna.



Neste hoje, “ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença”. Esse homem simboliza os judeus e a humanidade toda, enquanto não encontra Jesus e Nele crê. Agora vede, caríssimos: os discípulos, apegados a uma crença popular antiga, tão combatida por Jeremias e Ezequiel, pensavam que o cego estava pagando pelos pecados seus ou dos seus antepassados. Era uma crença errada, semelhante à superstição da reencarnação: “Quem pecou para que nascesse cego: ele ou seus pais?” O certo é que muitos judeus teimavam em afirmar que se alguém nascia sem saúde ou estava pagando os pecados dos antepassados ou tinha pecado ainda no ventre materno! É sempre a tentativa humana de tudo explicar e de compreender sobretudo o mistério tão penoso do mal, do sofrimento, da morte! Irmãos, não há resposta, não há explicação arrumadinha, matemática, como o resultado de uma equação! Os segredos da vida pertencem a Deus! Se crermos no Seu amor, se nos abandonarmos nas Suas mãos, a maior dor, o mais inexplicável sofrimento pode ser confortado pela certeza de que Deus está conosco e nos fortalece: “Nem ele nem seus pais pecaram: isso serve para que as obras de Deus se manifestem nele!” Até na dor e no sofrimento Deus está presente quando somos abertos à Sua Presença. Pena que nosso mundo superficial e incrédulo não compreenda isso... Se se abrisse para Jesus, o Inocente crucificado e morto, compreenderia com o coração que mesmo os sofrimentos e escuridões da vida têm um misterioso sentido à luz do amor de Deus... Na Sua luz, contemplamos a luz da vida: “Enquanto estou no mundo, Eu sou a luz do mundo!” Mas, o nosso mundo se fecha na sua racionalidade cega e orgulhosa, na sua lógica estreita, na sua concepção mesquinha de una justiça estrita e fria... É o caso da lei do retorno (fez, tem que pagar), tão cara aos reencarnacionistas e tão distante das Escrituras, que proclamam um Deus misericordioso e compassivo... Quanto a nós, caríssimos, adoremos o Senhor, mesmo nas escuridões da vida, e digamos a belíssima bênção judaica: Bendito sejas Tu, Senhor nosso Deus, que guardas os segredos!” Isto mesmo, meus caros em Cristo! Quando confiamos no Senhor mesmo diante do mal e da dor, compreendemos e experimentamos que “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8,28).



Continuemos, caríssimos, acompanhando a narrativa: Jesus, cospe no chão e faz lama. A saliva, para os judeus, continha o espírito; simboliza, então, como a água, o dom do Espírito. Recordai o Gênesis, quando o Senhor Deus plasmou o homem do barro e lhe soprou nas narinas e o homem tornou-se vivente... Agora o nosso Jesus, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, toma o barro e nele coloca seu sopro feito líquido, isto é, sua saliva: Ele vai recriar aquele cego: “Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura” (2Cor 5,17). Depois, Jesus ordena: “Vai lavar-te na piscina de Siloé!” E o Evangelista recorda: Siloé quer dizer “Enviado”... Qual é a piscina do Enviado, a piscina do Cristo Jesus? É a piscina do Messias, pia do nosso Batismo, na qual fomos iluminados pelo Senhor que é luz do mundo! Éramos todos cegos; o homem sem cristo vê do seu próprio modo, vê na sua cegueira... Em outras palavras: não vê! Mas, o cego obedece, caríssimos: vai, lava-se e retorna vendo! Eis o que é o cristão, o discípulo de Cristo: aquele que era cego, foi lavado na piscina batismal e voltou vendo! Vendo de um modo novo, vendo-se a si mesmo e vendo tudo à luz de Cristo! Mas, que coisa: porque ele vê, os judeus o expulsam da sinagoga, como o mundo também nos expulsa de sua amizade a apreço! Não somos do mundo, como o Senhor nosso não é do mundo; Ele nos separou do mundo! Agora, curado da cegueira, aquele que foi iluminado pode ver Jesus; ver com a fé, ver a realidade mais profunda, ver que Ele é o Senhor, Filho de Deus:“’Acreditas no filho do Homem?’ ‘Quem é, Senhor para que eu creia nele?’ Jesus disse: ‘Tu O estás vendo; é Aquele que está falando contigo!’” Para isso Te curei, para isso fiz-te enxergar! “‘Eu creio, Senhor!’ E prostrou-se diante de Jesus!”



Irmãos caríssimos, também nós fomos iluminados pelo Cristo no Batismo. Para nós valem as palavras de São Paulo: “Outrora éreis treva, mas agora sois luz no Senhor! Vivei como filhos da luz! Não vos associeis às obras das trevas!” Eis, caros irmãos: iluminados por Cristo não podemos pensar como o mundo, sentir como o mundo, agir como o mundo ver como o mundo! Devemos viver na luz, tudo enxergar na luz de Cristo, na luz Daquele que, no dizer da primeira leitura de hoje, não vê como o homem vê: “Não julgo segundo os critérios do homem: o homem vê as aparências, mas o senhor olha o coração!” Eis: ver como Deus vê – isto só é possível se Ele mesmo, nossa Luz, nos iluminar; aí, então, seremos luz para o mundo! Mas, não é fácil; não basta querer! Sem a graça do Senhor, nada conseguiremos, a não ser sermos infiéis! Por isso a necessidade dos exercícios quaresmais; por isso a oração, a penitência e a caridade fraterna, por isso a necessidade da confissão de nossos pecados! Não nos esqueçamos: não poderemos zombar de Cristo: seremos julgados na Sua luz: “Eu vim a este mundo para exercer um julgamento, a fim de que os que não veem vejam e os que veem se tornem cegos!” – Eu vim para revelar a luz aos humildes, aos que se abrem à minha Palavra e à minha Presença, e vim revelar a cegueira do mundo confiado na sua própria razão, na prepotência de seus próprios caminhos! Porque este mundo diz que vê, que sabe, que está certo, seu pecado permanece! Somente se abrir-se para a luz do Cristo, caminhará na luz e enxergará de verdade! Mas, para isto é preciso converter-se... O mundo e nós... Nós também, Irmãos, somos sempre necessitados de conversão!



E então: caminhamos na luz ou permanecemos nas trevas? As Festas Pascais estão próximas, às portas. A cor rosa deste Domingo - o roxo quaresmal misturado já com o branco pascal - no-lo recorda! Deixemo-nos iluminar! Que o Senhor, pela Sua misericórdia infinita, ilumine a nossa vida e dissipe as nossas trevas! Amém!




O Cego de nascença



Retiro Quaresmal - Na Piscina do Enviado, a Luz! (1)

XXVI dia da Quaresma - XXII dia de penitência ( Jo 9,1-41) - 
O Cego de  nascença    Part. I
Meu caro Leitor, depois de ter meditado o belíssimo evangelho da Samaritana, desejo agora meditar com você o profundo texto quaresmal do cego de nascença. Lembre-se: estes são textos que a Igreja usou no tempo da Quaresma desde a antiguidade para preparar os catecúmenos para o Batismo. Nosso texto é Jo 9,1-41. É bom ter em mente que este texto será completado no IV Domingo da Páscoa, com o Evangelho do Bom Pastor, que é a sequência do debate de Jesus com os fariseus, após a cura do cego neste IV Domingo da Quaresma!
1Ao passar, Jesus viu um homem, cego de nascença. 2Seus discípulos Lhe perguntaram: “Rabi, quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?” 3Jesus respondeu: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para que nele sejam manifestadas as obras de Deus”.
Comentando:
Jesus encontra-se em Jerusalém para a Festa das Tendas. Desde o capítulo VII João conta os embates do nosso Senhor com os judeus durante esta Festa. Foi durante esta ocasião que o Salvador revelou-Se de modo patente como o Enviado do Pai e os judeus optaram decididamente por rejeitá-Lo e não reconhecer Nele o Messias prometido por Deus e esperado por Israel. Não haverá nunca como negar esta dramática realidade: Jesus fora enviado primeiramente a Israel e Israel – o de ontem e o de hoje – O rejeitou: “Veio para o que era Seu e os seus não O receberam” (Jo 1,11). Mas, atenção: também nós, cristãos, corremos sempre o risco de rejeitá-Lo na prática. Aliás, o Ocidente, que já fora cristão, não O rejeitou nos dias de hoje? Não está se tornando cada vez mais pagã, ateia mesmo, a nossa cultura, as nossas leis, o nosso Brasil?
Brasil, Brasil, olha para o teu Governo, para os representantes que teu povo escolheu: promovem leis iníquas, que destroem tudo quanto é realmente humano, digno, decente, cristão... Gente eleita pela tua gente... Lembras-te ainda, Brasil, de que um dia foste cristão, de que um dia nasceste como Terra de Santa Cruz? Recordas-te, Brasil, de que um dia foste batizado?
Jesus passou e viu um cego de nascença... Desde já é importante compreender que este cego é todo aquele que ainda não crê em Jesus, que ainda não viu Nele o Filho de Deus. Jesus passa e vê a humanidade imersa na cegueira do pecado; Jesus passa e nos vê: vê a mim, vê a você... Vê-nos cegos pela cegueira do pecado... Nascidos todos no pecado, somos todos cegos e mendigos até que não sejamos curados pela luz Daquele que é a Luz do mundo! Não esqueçamos: ninguém nasce filho de Deus; nascemos todos filhos da ira (cf. Rm 1,18); concebidos todos como pecadores (cf. Sl 51/50,7), porque “todos pecaram e todos estão privados [da luz] da Glória de Deus - e são justificados gratuitamente, por Sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus!” (Rm 3,23s)
Atenção ainda: para João, crer é ver Jesus, vê-Lo com fé, contemplá-Lo, enxergar Nele o Filho. O Enviado do Pai! Isto é importantíssimo, é fundamental nas Escrituras santas:o Deus que no Antigo Testamento podia apenas ser ouvido (e por isso não se podia fazer imagem alguma Dele), agora, em Jesus, “Imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), pode ser visto, tocado, ouvido, apalpado (cf. 1Jo 1,1ss). Do Antigo para o Novo Testamento a ênfase passa do “ouvir” para o “ver” porque o Verbo-Palavra invisível Se fez carne visível e nós vimos a Sua glória (cf. Jo 1,14).
Os discípulos veem o cego e interpretam sua triste situação de cego mendigo com as explicações falsas da época. Pensam, como os reencarnacionistas e os adeptos de outras doutrinas igualmente pagãs, que ele está cego para pagar por seus pecados ou, segundo uma antiga crença do povo [que os profetas Jeremias e Ezequiel condenaram e o povo teimava em continuar crendo], que o cego está pagando pelos pecados de seus antepassados.
Atenção: os judeus não pensavam que o cego estaria pagando por pecados de uma vida passada, mas por pecados que poderia ter cometido no ventre materno! Efetivamente, vários rabinos ensinavam que já no ventre se poderia pecar... Por isso os apóstolos pensam que talvez por um pecado assim aquele lá havia nascido sem enxergar. Quanto à crença de que os filhos pagariam pelos pecados dos pais, veja o que dizem contra ela os profetas Jeremias (cf. 31,29-30) e Ezequiel (cf. 18,1-32). E, no entanto, o povo e os apóstolos continuavam com essas crenças! Jesus os corrige, deixando claro que não existe uma relação assim automática de causa e efeito para o sofrimento e a dor humanas...
A existência é um mistério: não compreendemos tudo, não sabemos tudo! Pelo contrário: quase nada é o que compreendemos da vida com suas vicissitudes e misteriosos acontecimentos, por vezes tão escandalosamente dolorosos. Mas, Jesus nos previne para um fato muito importante: de tudo pode-se tirar um bem e mesmo nas situações mais obscuras e tristes a glória de Deus pode se manifestar. É o que acontecerá com este cego e o que ocorrerá na casa de Marta, Maria e Lázaro defunto (cf. Jo 11,4).
Nunca se esqueça, meu Leitor: as coisas reveladas pertencem aos homens, aquelas obscuras pertencem ao Senhor! Haverá sempre tanto da realidade nossa e do mundo que nunca compreenderemos! É na fé, com os olhos no amor de Deus que se manifestou de modo pleno e absoluto na dor trágica da Cruz e na gloriosa Ressurreição do Senhor, que podemos compreender sem entender bem como, que Deus está sempre silenciosamente presente na nossa vida, com Seu amor misericordioso. Assim é na alegria, assim na tristeza; assim na brisa suave e na tremenda força de um tsunami; assim num melancólico por de sol ou num tremendo terremoto. É sempre Ele, que misteriosamente nos visita e nos revela o quanto somos pequenos, o quanto nossos pensamentos são incertos e nossa lógica, capenga... Mas sempre Seu amor e Sua glória resplandecerão e poderão ser vistos por aqueles que creem e o não tentam. “Bendito sejas Tu, Adonai nosso Deus, que guardas os segredos!”
- Senhor Jesus, piedade que somos todos cegos!
Dá-nos tua luz, ó Tu que és a Luz!
Senhor Jesus, piedade que vivemos nas tremendas incertezas da vida!
Dá-nos confiar sempre em Ti, que nos amas e nos vês sempre!
Senhor Jesus, piedade quando as escuridões da vida abalam a nossa fé tão débil!
Dá-nos força para Ti bendizer, pois sabes tudo e em tudo nos amas!
Senhor Jesus, piedade de nós na hora da dor e da ameaça dos absurdos!
Dá-nos dizer: “Bendito sejas Tu, Senhor nosso Deus, que guardas os segredos!”
Senhor Jesus, eu creio! Mas aumenta a minha pouca fé!
Sustenta minha fé na noite da vida, ó Tu, Luz sem ocaso, Luz do mundo!
...

O Cego de nascença


Retiro Quaresmal - Nas Piscina do Enviado, a Luz (3) 
Evangelho Jo, 9-1-41 Domingo - 30-03-14  Part. II
6Tendo dito isso, cuspiu na terra, fez lama com a saliva, aplicou-a sobre os olhos do cego 7e lhe disse: “Vai lavar-te na piscina de Siloé – que quer dizer ‘Enviado’. O cego foi, lavou-se e voltou vendo”.
Não canso de admirar e saborear a beleza das narrativas de São João! De modo elegante, conciso, forte, ele diz tudo! Jesus é a Luz do mundo e vai dar luz a esse cego que, de nascença, nunca vira a luz. Para isto, cospe e faz lama com a saliva. O significado é profundo: para os judeus, a saliva é o nosso sopro feito líquido. Então, Jesus infunde o Seu sopro, isto é, o Seu Espírito no barro, como Deus, que no princípio, plasmou o homem da terra e soprou-lhe nas narinas um hálito de vida! Veja, meu Leitor, o que o Evangelista está procurando nos dizer: Jesus vai recriar, vai fazer desse homem uma nova criatura, um homem de verdade!
O Senhor aplica a saliva nos olhos cegos e ordena que o homem se lave na piscina do Enviado. Ora, o Enviado é Jesus e Sua piscina é aquela do santo Batismo, é a pia do seu e do meu Batismo! Nunca esqueça: nós todos nascemos cegos; nascemos no pecado (cf. Sl 51/50,7), nascemos não filhos de Deus, mas filhos da ira (cf. Rm 1,18)! O Senhor “viu” a nossa situação, “viu-nos”, como viu aquele cego! Eis o desejo do Senhor: que todos os cegos do mundo, todos nós, que nascemos cegos pelo pecado original, creiamos em Cristo e nos lavemos na Sua piscina: “Quem crer e for batizado será salvo!” (Mc 16,16). Ali sim, naquela santa Piscina, enxergaremos a verdade: que Jesus é o Senhor, o Messias de Deus, o nosso único Salvador! Façamos como o cego do Evangelho: “O cego foi, lavou-se e voltou vendo!”
Para que você saiba bem: na antiguidade cristã, o Batismo era chamado de Iluminação, em grego, photismós. Com efeito, assim como o recém-nascido segundo a carne vê a luz deste mundo, o renascido no Espírito de Cristo, presente na água da pia batismal, vê a luz de Cristo, é por Ele iluminado! Assim, um cristão, um iluminado por Cristo, não pode ver o mundo, ver as coisas como os pagãos veem: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da Luz!” (Ef 5,8) Que miséria constatar tantos discípulos de Cristo, iluminados “na piscina do Enviado”, continuam pensando, falando, agindo, vivendo segundo a treva do mundo!
Ainda mais um detalhe: recorda do Evangelho da Samaritana? Jesus não disse que daria uma Água que jorra para a Vida eterna? Olhe a Água aí novamente, agora na piscina do Enviado! Lá e cá, na Samaritana e em Siloé, a água tem o mesmo significado: é o Espírito que o Senhor morto e ressuscitado nos dará! “Em verdade, em verdade Eu vos digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus! O que nasce da carne é carne; o que nasceu do Espírito é espírito” (Jo 3,5-6), é homem "espirituado", é nova criatura, iluminado, nascido para a Vida eterna!
- Senhor Jesus, Luz do mundo,
Luz que não conhece ocaso,
Recria-me com a força do Teu Espírito!
Lembra-Te, ó Santíssimo Salvador,
Que eu fui lavado na Tua piscina,
Fui iuminado,
Fui purificado,
Fui regenerado – gerado de novo!
No entanto,
Por minha preguiça,
Por minha displicência,
Por minha soberba,
Muitas vezes sou cego,
Muitas vezes, sujo,
Muitas vezes morto no meu coração!
Piedade, ó Piedoso!
Misericórdia, ó Misericordioso!
Senhor, Amigos dos Homens!
Pelos santos exercícios quaresmais
Ilumina-me,
Purifica-me,
Renova-me,
Para que eu possa santamente celebrar o solenidade bendita da Tua Páscoa
E, na hora de minha morte, possa fazer minha Páscoa para a eternidade
Na tua luminosa Presença, quando serás minha lâmpada para sempre (cf. Ap 21,23). Amém.
...

quinta-feira, 27 de março de 2014




"Salve, ó santa Mãe de Deus!
Vós destes à luz o Rei
Que governa o céu e a terra
Pelos séculos eternos!" (Liturgia romana)

"Verdadeiramente é digno bendizer-te,
Ó Mãe de Deus!
Bem-aventurada, imaculada para sempre,
Mãe do nosso Deus!
Mais venerável que os querubins
E incomparavelmente mais gloriosa que os serafins!
Tu, que conservando tua integridade,
Deste à luz o Verbo de Deus!
Tu és na verdade Mãe de Deus!
Nós te glorificamos!" (Liturgia bizantina)



ÚLTIMA PARTE DA SAMARITANA
...
"39Muitos samaritanos daquela cidade tinham acreditado Nele por causa da palavra da mulher que afirmava: “Ele me disse tudo o que eu fiz”. 40Assim, quando chegaram junto Dele, os samaritanos Lhe pediram que ficasse entre eles. E Ele ficou lá dois dias. 41Bem mais numerosos ainda foram os que creram por causa da própria palavra de Jesus; 42e eles diziam à mulher: “Não é somente por causa dos teus dizeres que nós cremos; nós mesmos o ouvimos e sabemos que Ele é verdadeiramente o Salvador do mundo”."

Comentando:

Aqui, as observações finais do Evangelista, cheias de significado:

Primeiro a Samaritana, que não consegue conter, guardar só para si o tesouro que encontrou, a alegria que experimentou: vai, exultante, partilhar com seus conterrâneos! Repito o que já afirmei anteriormente: quem encontra Jesus de verdade não consegue deixar de falar Dele: “Não podemos nós deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (At 4,20). Evangelizar não é anunciar ideias, não é fazer promoção social, não é fazer pesquisa sobre as condições de vida de uma comunidade, não é fazer educação política, social ou ecológica...
Evangelizar é anunciar o Jesus que se descobriu e experimentou como Senhor e Salvador, é comunicar uma alegria, uma certeza, um entusiasmo... É isto que comove, que contagia, que convence e transforma a vida das pessoas e do mundo! O resto - quando não é precedido deste essencial - é moralismo chato, enfadonho e insuportável... Disso temos experimentado muito na vida da Igreja nas últimas décadas! 
Por isso mesmo, ser cristão deixa de ser uma alegria para ser um peso chato e sufocante!

Segundo ponto: os que creram inicialmente na mulher não ficam numa fé superficial: pedem que Jesus fique com eles e procuram conhecê-Lo, conviver com Ele, escutá-lo!
Este processo de crescer no conhecimento amoroso de Cristo, numa intimidade saborosa e pessoal com Ele, nunca deve ter fim para o verdadeiro cristão, para o autêntico discípulo: quem conhece Jesus deseja sempre mais conhecê-Lo; quem O ama verdadeiramente desejará sempre amá-Lo mais, porque, como dizia Santa Teresa d’Ávila, “amor atrai amor”! Não basta o querigma, o primeiro anúncio; é necessária a catequese, o fazer sempre ecoar de novo, aprofundando, o primeiro anúncio recebido...
Por isso os samaritanos pedem que Jesus permaneça com eles e dizem, enfim, de modo comovente, à Samaritana: Já não cremos mais pelas tuas palavras, de modo indireto; nós mesmos vimos, ouvimos, tocamos, experimentamos que Este é o Salvador do mundo!

Nunca esqueça, viu meu Leitor querido: o cristianismo nasce e se alimenta constantemente de uma experiência viva, pessoal, sempre nova, sempre criativa e sempre apaixonante e transformadora com a bendita Pessoa de Jesus de Nazaré, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Filho eterno do Pai, Cristo de Deus, nosso Salvador amado!

Jesus meu, Jesus nosso,
Salvador bendito!
Obrigado pela Tua Palavra,
Obrigado pela Salvação,
Obrigado pela esperança plantada em nossos corações!

Olha benigno para os catecúmenos da Igreja,
aqueles que se preparam para o Batismo no Espírito,
na próxima Páscoa!
Que bebendo da Água viva que Tu somente nos dás,
possam viver já agora na Vida eterna,
possam fazer jorrar para outros esta bendita Água de Vida
e possam um dia, no Teu Dia, viver essa Vida para sempre!

Jesus, dá-nos a nós também, já batizados,
o que para eles, os catecúmenos, estamos suplicando!
A Ti a glória, ó Bendito,
hoje, na Igreja,
e pelos séculos dos séculos. Amém


                   A Samaritana -  p. V
...

"31Enquanto isso, os discípulos insistiam com Ele: “Rabi, come!” 32Mas Ele lhes disse: “Eu tenho para comer um alimento que vós não conheceis”. 33Nisso os discípulos disseram entre si: “Alguém Lhe teria dado de comer?” 34Jesus lhes disse: “ O Meu alimento é fazer a vontade Daquele que Me enviou e realizar a Sua obra. 35Vós mesmos não dizeis: 'Daqui a quatro meses, virá a messe'? Ora, Eu vos digo: levantai os olhos e olhai; já os campos estão brancos para a messe! 36Já o ceifeiro recebe o seu salário e ajunta fruto para a vida eterna, de tal modo que aquele que semeia e aquele que colhe se alegram juntos. 37Pois nisto é verdadeiro o provérbio: 'Um é o que semeia, outro, o que colhe’. 38Eu vos enviei para colher o que não vos custou nenhum trabalho; outros trabalharam e vós entrastes no que lhes custou tanto trabalho”.

Comentando:

João é um narrador admirável!
Note como é capaz de apresentar duas cenas paralelas de modo envolvente: na cidade, a Samaritana evangeliza seus conterrâneos; no poço, Jesus instrui os apóstolos. O diálogo de Jesus é todo metafórico, como o foi também com a mulher samaritana.

Os discípulos desejam que Jesus coma o que eles compraram, mas o Senhor já está mais que saciado com aquilo que o Pai acabara de Lhe dar: “Meu alimento é fazer a vontade do Pai e realizar a Sua obra”. Qual é a vontade do Pai? “A vontade Daquele que Me enviou é esta: que Eu não perca nada do que Ele Me deu, mas o ressuscite no último dia. Sim, esta é a vontade do Pai: quem vê o Filho e Nele crê tem a Vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,39-40).
Jesus está saciado porque naquela Samaritana que acreditou estão simbolizados todos os pagãos que irão Nele acreditar e ter a Vida eterna. Naquela mulher está presente a Igreja vinda dos gentios, fruto da pregação dos Apóstolos a todas as nações. Jesus está agora plantando o que os Apóstolos e a Igreja de todos os tempos irão colher, fruto da Sua paixão, morte e ressurreição, que culminarão com dom do Espírito, água que jorra para a Vida eterna.

Por isso o nosso Salvador utiliza a imagem poética da messe pronta para a colheita. Era o tempo de ceifa e os campos estavam repletos do trigo amarelado, maduro. Jesus olha o trigal e pensa na Samaritana, nos samaritanos que estão chegando, nos pagãos do mundo todo que virão... Olha para o trigal e pensa na colheita da Igreja tempos afora: os campos estão prontos para a messe; Ele é o ceifeiro, pois acaba de colher a fé no coração de Samaria! Os Apóstolos que colherão um dia o fruto da pregação já podem se alegrar com Ele, que acaba de semear e colher a fé dos samaritanos que estão chegando, trazidos pela mulher... E assim será pelos séculos, até o fim do mundo: a pregação dos Doze e de seus sucessores nada mais será que colher o que Jesus semeou com Sua morte e ressurreição, sendo grão de trigo que cai na terra, morre e dá fruto (cf. Jo 12,24).

Bendito sejas Tu, divino Semeador!
Bendito sejas Tu que com Teu suor, Teu cansaço,
Tuas andanças e Teu sangue
plantaste o Reino do Pai
que brota em cada coração que em Ti crê
e vive a Tua Palavra!

Bendito sejas Tu, divino Trigo,
grão miúdo,
que caindo por terra e morrendo,
dás espigas de Vida eterna!

Bendito sejas, porque nossos antepassados receberam o Evangelho,
Bendito sejas, porque acreditaram nos Teus pregadores,
Bendito sejas porque, crendo, nos transmitiram a fé,
e hoje somos colheita Tu, grãos de Ti, Espiga bendita,
membros e filhos da Igreja Tua, nascida do Teu sangue fecundo!

Nós Te adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo,
porque pela Tua
Encarnação,
Paixão,
Morte
e Ressurreição,
remiste o mundo inteiro!

...

O silêncio

" O silêncio responde até mesmo aquilo que não foi perguntado..."

quarta-feira, 26 de março de 2014

                  Dom Henrique Soares da Costa
A Samaritana - p. IV
...
"11A mulher disse: “ Senhor, Tu não tens sequer um balde, e o poço é profundo; de onde tiras, então, essa Água viva? 12Serias maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço do qual ele mesmo bebeu, como também seus filhos e os seus animais?” 13Jesus lhe respondeu: “Todo aquele que bebe desta água ainda terá sede; 14mas aquele que beber da água que Eu lhe darei nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que Eu lhe darei se tornará nele uma fonte que jorrará para a Vida eterna”. 15A mulher lhe disse: “ Senhor, dá-me essa água, para que eu não tenha mais sede e não precise mais vir aqui tirar água”."

Comentando:

A Samaritana mostra-se intrigada: donde este estranho judeu pode tirar essa Água viva? Se tem tal água melhor que a deste poço, por que me pede de beber? “Senhor, de onde tiras tal água? Serias maior que nosso pai Jacó, que teve de cavar este poço para beber?”
E a resposta de Jesus, impressionante:
Quem bebe da água do poço de Jacó e de todas as águas deste mundo, ainda terá sede e nunca terá o coração saciado verdadeiramente! É como os pais, que comeram o maná dado por Moisés: eles morreram!
Preste bem atenção porque é verdade, porque é urgente, porque é fundamental: não há água ou pão deste mundo (família, bens, sucesso, prazer, fama, amigos, realizações...) que alimente para sempre, que sacie perenemente, que garanta a vida e aquiete o coração! Não adianta teimar, procurando Vida plena onde Vida plena não há! 
Há um outro Pão, uma outra Água, que saciam de Vida, Vida divina, Vida do próprio Deus, Vida eterna!

Aqui, caro Leitor, é preciso cuidado, pois hoje em certos setores da Igreja, fala-se muito em vida, em ter vida, em escolher a vida, mas se fica num sentido de vida meramente biológico ou psíquico.
É preciso dizer claramente que não foi este o centro da preocupação de Jesus!
Não é desta vida que Jesus está falando!
Sempre se dá um jeito para não sair da terra, para ficar simplesmente numa visão sócio-econômica, com uma preocupação simplesmente com o social! E isto é deturpação do Evangelho, pura e simples!
Nenhuma vida deste mundo compara-se à Vida que Jesus nos dá já neste mundo, mas que não é deste mundo: a alegria doce, forte, suave, transformadora, de ter em nós a doçura do Seu Espírito que nos une a Ele e nos concede a Vida eterna, o Reino dos Céus.

É como o conceito de Reino! O Reino de que fala Jesus não acontece primeiro fora do homem, em estruturas sócio-econômicas! Isto é traição ao que Jesus pensou e os cristãos sempre acreditaram!
O Reino é o Deus de Jesus, o Pai, reinando totalmente na nossa vida e, através de nós, reinando no mundo.
Mas, isto é impossível ao homem! Foi necessária, absolutamente, a morte e a ressurreição do Senhor: assim Ele nos pôde dar o Seu Espírito, o único que nos purifica, impele, dá-nos os sentimentos de Cristo e nos faz deixar realmente Deus reinar em nós; de modo que dizer “Venha o Teu Reino” é a mesmíssima coisa que dizer “Venha o Teu Espírito!”

Ficar numa visão de vida meramente daqui debaixo é continuar procurando a água da Samaritana!
Ter casa, ter trabalho, ter isto ou aquilo é importante, mas ainda não é isto que mata a sede!
É de outra água que Jesus fala: água que só Ele – somente Ele! – pode dar: o Espírito Santo, que é a própria Vida eterna! Quem bebe desta Água bebe a Vida eterna, sacia o coração!
É esta água que a Igreja tem o dever sagrado de dar ao mundo pela pregação e pelos sacramentos instituídos pelo Cristo Jesus! Só esta Água se torna em nós fonte viva, jorrando para a Vida eterna, jorrando como alegre e convicto e transformador testemunho para os outros!

Observe bem o Leitor o quanto falar de Cristo nos empolga e ficar falando de questões sociais o tempo todo nos cansa e entedia! Ninguém suporta mais as deturpações e interpretações truncadas e rasteiras daquilo que Jesus realmente ensinou e trouxe...
Tudo passado pelo crivo do politicamente correto e da uma teologia muito pouco teológica e excessivamente sociológica (de método e gosto altamente discutíveis). No cristianismo, a dimensão social deve sempre estar presente, mas totalmente dependente do anúncio primeiro, da experiência primeira do Reino, que é o Espírito de Jesus, eclodido na Palavra e experimentado nos Sacramentos!

A reação da mulher somente pode ser a de qualquer um que escute as palavras impressionantes de Jesus: “Senhor dá-me desta água!”
Senhor, sacia minha vida, sacia meu coração daquilo que não passa, daquilo que dura para a eternidade!
Senhor, é por isso, por essa Água, que creio em Ti, que por Ti me sacrifico, que por Ti vivo e por Ti aceito morrer!
É por essa Água, ó Cristo Deus, que sou cristão!
Senhor, dá-me desta Água!
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A Samaritana - p. III
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"11A mulher disse: “ Senhor, Tu não tens sequer um balde, e o poço é profundo; de onde tiras, então, essa Água viva? 12Serias maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço do qual ele mesmo bebeu, como também seus filhos e os seus animais?” 13Jesus lhe respondeu: “Todo aquele que bebe desta água ainda terá sede; 14mas aquele que beber da água que Eu lhe darei nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que Eu lhe darei se tornará nele uma fonte que jorrará para a Vida eterna”. 15A mulher lhe disse: “ Senhor, dá-me essa água, para que eu não tenha mais sede e não precise mais vir aqui tirar água”."

Comentando:

A Samaritana mostra-se intrigada: donde este estranho judeu pode tirar essa Água viva? Se tem tal água melhor que a deste poço, por que me pede de beber? “Senhor, de onde tiras tal água? Serias maior que nosso pai Jacó, que teve de cavar este poço para beber?”
E a resposta de Jesus, impressionante:
Quem bebe da água do poço de Jacó e de todas as águas deste mundo, ainda terá sede e nunca terá o coração saciado verdadeiramente! É como os pais, que comeram o maná dado por Moisés: eles morreram!
Preste bem atenção porque é verdade, porque é urgente, porque é fundamental: não há água ou pão deste mundo (família, bens, sucesso, prazer, fama, amigos, realizações...) que alimente para sempre, que sacie perenemente, que garanta a vida e aquiete o coração! Não adianta teimar, procurando Vida plena onde Vida plena não há! 
Há um outro Pão, uma outra Água, que saciam de Vida, Vida divina, Vida do próprio Deus, Vida eterna!

Aqui, caro Leitor, é preciso cuidado, pois hoje em certos setores da Igreja, fala-se muito em vida, em ter vida, em escolher a vida, mas se fica num sentido de vida meramente biológico ou psíquico.
É preciso dizer claramente que não foi este o centro da preocupação de Jesus!
Não é desta vida que Jesus está falando!
Sempre se dá um jeito para não sair da terra, para ficar simplesmente numa visão sócio-econômica, com uma preocupação simplesmente com o social! E isto é deturpação do Evangelho, pura e simples!
Nenhuma vida deste mundo compara-se à Vida que Jesus nos dá já neste mundo, mas que não é deste mundo: a alegria doce, forte, suave, transformadora, de ter em nós a doçura do Seu Espírito que nos une a Ele e nos concede a Vida eterna, o Reino dos Céus.

É como o conceito de Reino! O Reino de que fala Jesus não acontece primeiro fora do homem, em estruturas sócio-econômicas! Isto é traição ao que Jesus pensou e os cristãos sempre acreditaram!
O Reino é o Deus de Jesus, o Pai, reinando totalmente na nossa vida e, através de nós, reinando no mundo.
Mas, isto é impossível ao homem! Foi necessária, absolutamente, a morte e a ressurreição do Senhor: assim Ele nos pôde dar o Seu Espírito, o único que nos purifica, impele, dá-nos os sentimentos de Cristo e nos faz deixar realmente Deus reinar em nós; de modo que dizer “Venha o Teu Reino” é a mesmíssima coisa que dizer “Venha o Teu Espírito!”

Ficar numa visão de vida meramente daqui debaixo é continuar procurando a água da Samaritana!
Ter casa, ter trabalho, ter isto ou aquilo é importante, mas ainda não é isto que mata a sede!
É de outra água que Jesus fala: água que só Ele – somente Ele! – pode dar: o Espírito Santo, que é a própria Vida eterna! Quem bebe desta Água bebe a Vida eterna, sacia o coração!
É esta água que a Igreja tem o dever sagrado de dar ao mundo pela pregação e pelos sacramentos instituídos pelo Cristo Jesus! Só esta Água se torna em nós fonte viva, jorrando para a Vida eterna, jorrando como alegre e convicto e transformador testemunho para os outros!

Observe bem o Leitor o quanto falar de Cristo nos empolga e ficar falando de questões sociais o tempo todo nos cansa e entedia! Ninguém suporta mais as deturpações e interpretações truncadas e rasteiras daquilo que Jesus realmente ensinou e trouxe...
Tudo passado pelo crivo do politicamente correto e da uma teologia muito pouco teológica e excessivamente sociológica (de método e gosto altamente discutíveis). No cristianismo, a dimensão social deve sempre estar presente, mas totalmente dependente do anúncio primeiro, da experiência primeira do Reino, que é o Espírito de Jesus, eclodido na Palavra e experimentado nos Sacramentos!

A reação da mulher somente pode ser a de qualquer um que escute as palavras impressionantes de Jesus: “Senhor dá-me desta água!”
Senhor, sacia minha vida, sacia meu coração daquilo que não passa, daquilo que dura para a eternidade!
Senhor, é por isso, por essa Água, que creio em Ti, que por Ti me sacrifico, que por Ti vivo e por Ti aceito morrer!
É por essa Água, ó Cristo Deus, que sou cristão!
Senhor, dá-me desta Água!
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A Samaritana -  p. II
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19“Senhor, disse-Lhe a mulher, vejo que Tu és um profeta! 20Os nossos pais adoraram sobre esta montanha, e vós afirmais que é em Jerusalém que se encontra o lugar onde se deve adorar.” 21Jesus lhe disse: “ Acredita-Me, ó mulher, vem a hora em que nem sobre esta montanha, nem em Jerusalém que adorareis o Pai!"

Comentando:

Os samaritanos também esperavam um messias que, para eles, não seria um descendente de Davi, mas alguém que teria um caráter profético, sobretudo pela capacidade de revelar as coisas. 
Por isso, a mulher imediatamente reconhece em Jesus um profeta – ainda não afirma que Ele é o Messias...

Se é um profeta, então que esclareça: quem tem razão: os judeus, com seu culto em Jerusalém, ou os samaritanos, com o templo rival no Monte Garizim.

Jesus responderá a questão da Samaritana, mas começa, antes, por revelar que agora, com Ele, chegará um tempo novo – “Vem a hora!” – que deixará para trás o culto herético dos samaritanos e o culto verdadeiro dos judeus: nem em Jerusalém nem no Monte Garizim se adorará mais a Deus retamente. Este Deus é o Pai de Jesus, cujo Rosto bendito nosso Senhor veio revelar! Em Jesus, seja as religiões pagãs, seja o judaísmo, ficam superados: judeus e pagãos são chamados à conversão a Jesus Nosso Senhor: somente Nele o homem pode adorar o Pai, Deus verdadeiro!

Senhor Jesus, Tu és o único verdadeiro!
Tu és o único Salvador!
Tu tens o Nome acima de todo nome!
Tu és o Caminho único para o Pai!
Tu és a única Verdade da nossa vida!
Tu és a Vida da nossa existência,
Vida que faz a vida ser verdadeira,
Vida que faz a vida valer a pena,
Vida que faz a vida ser semente de Vida eterna!
A Ti a glória, ó Único Salvador de toda a humanidade!
A Ti a glória!
Faze que creiamos em Ti! Faze que proclamemos o Teu Nome
sempre e em toda parte!
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A Samaritana


"16Jesus lhe disse: “Vai, chama o teu marido e volta aqui”. 7A mulher Lhe respondeu: “ Eu não tenho marido”. 18Jesus lhe disse: “Tu dizes bem: 'Não tenho marido'; tiveste cinco, e o que tens agora não é teu marido. Nisso disseste a verdade”."

Comentando:

Por que esta imprevista ordem de Jesus? Por que Ele manda a mulher chamar o seu marido antes de lhe dar a água que jorra para a Vida eterna?
Aqui está um exemplo do modo impressionante como João revela os mistérios do Reino. Esta mulher samaritana, pessoa real, não é somente uma pessoa: ela representa os samaritanos todos e até os pagãos todos...

O Esposo de Israel era o Senhor Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó. Mas, quem era o Esposo de Samaria? Os samaritanos tinham vindo de cinco povoações pagãs com seus ídolos; ídolos, amantes, não esposos, como Deus é o Esposo fidelíssimo de Israel, que agora viera desposar o Seu povo e toda a humanidade em Jesus, o verdadeiro Esposo!
“Não tenho marido!” - é verdade: o Deus de Israel não fez aliança com os samaritanos; eles já tiveram cinco maridos, cinco ídolos e agora adoram também o Deus de Israel, mas este não é marido deles, pois o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó somente tinha um povo e não aceitava ser adorado ao lado de outros deuses.
Ora, enquanto os samaritanos continuarem a adorar a ídolos e não acolherem o verdadeiro Esposo, Jesus morto e ressuscitado, não podem receber o Espírito Santo, água que jorra para a Vida eterna! Eis o sentido do diálogo! E a constatação de Jesus, tão tristemente verdadeira: “Disseste bem ‘não tenho marido!’ Tiveste cinco; e o atual também não é teu marido!”

Veja como este texto é encantador, meu caro Leitor! É necessário compreendê-lo sempre nos dois sentidos: aquele literal, do diálogo de Jesus com a mulher, e aquele outro, ainda mais importante e decisivo, do sentido teológico que João deseja mostrar. Seja num como noutro sentido, Jesus quer fazer a Mulher-Samaria compreender seu pecado, sua busca de matar a sede de modo errado...
Somente pode estar preparado para receber a água que o Senhor deseja dar, água do Espírito, aquele que crendo em Jesus, reconhecer e confessar sua situação de pecado, deixar suas idolatrias, seus vícios, seus maus caminhos,seu modo mundano e receber o Batismo no verdadeiro poço de Jacó, que é Jesus mesmo! É preciso deixar a idolatria dos samaritanos e deixar a estreiteza do judaísmo para crer em Jesus, o único que dá o Espírito!

Senhor, converte meu modo de pensar,
Messias, converte meu modo de sentir,
Salvador, converte minha razão e minhas razões,
Filho de Davi, converte meus sentidos,
Santo de Israel, converte minha imaginação,
Filho do Altíssimo, converte minhas palavras,
Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!
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segunda-feira, 24 de março de 2014

Lucas Cardoso

O processo de conversão inicia-se com a tomada de consciência. A partir de então se delineia o caminho do retorno, ao fim do qual nos espera o abraço carinhoso e misericordioso do pai. Abraço que não se limita, não tem preferência, e não faz distinção de nenhum de seus filhos mas alcança a todos que necessitam serem abraçados.(Lucas H.M. Cardoso)

quinta-feira, 20 de março de 2014

Ato de contrição



Ato de Contrição que usava o Ven. Marcos de Aviano, religioso capuchinho, morto em odor de santidade.

Eu, ruim e indigna criatura, me lanço a vossos pés, Deus meu, e, com o coração contrito e aflito, reconheço e confesso diante de Vós, Redentor de minha alma, que, desde o instante em que nasci até agora, tenho cometido inumeráveis negligências e pecados.
Tenho-Vos ofendido, Deus meu! Pequei, Senhor! Porém, detesto os meus pecados e me arrependo do íntimo do coração. Por isso, prometo solenemente não mais pecar. Porém, se Vós, em vossa altíssima sabedoria, preveis que posso novamente ofender-Vos e cair outra vez no vosso desagrado, de todo o coração Vos peço que me leveis agora desta vida, em vossa graça.

Oxalá a minha dor fosse tão grande que o propósito de não mais Vos ofender permanecesse sempre imutável! Porque Vos devo infinito agradecimento pela vossa divina bondade e porque mereceis que Vos ame sobre todas as coisas, arrependo-me de meus pecados, não tanto para livrar ­me dos tormentos eternos que por eles mereci, nem para gozar das delicias do Céu, que tão inconsideradamente desprezei, como porque vos desagradam a Vós, Deus meu, que, por vossa bondade e infinitas perfeições, sois digno de infinito amor.

Oxalá todas as criaturas vos mostrem sem interrupção, amor, reverência e agradecimento. Amém.

segunda-feira, 17 de março de 2014

TODO FILHO É PAI DA MORTE DE SEU PAI

" Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.

É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela - tudo é corredor, tudo é longe.

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai.

Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.

Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.

Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.

A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.

Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.

Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.

Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?

Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.

Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.

No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:e

— Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.

Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.

Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.

Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para o outro.

Aninhou o pai.

Acalmou o pai.

E apenas dizia, sussurrado:

— Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali. "

(autor desconhecido - compartilhado por Elodia Roman

domingo, 16 de março de 2014

Liçao de vida: Deus não fez ninguém para "sobrar"...

"Muitas vezes desvalorizamos os outros por crermos que somos superiores a eles, mais "bonitos", de mais valor, ou que eles não nos servem para nada. Deus não fez ninguém para "sobrar" neste mundo. Todos temos algo a aprender com outros ou a ensinar a eles, e ninguém deve desvalorizar a ninguém. Pode ser que uma destas pessoas, a quem não damos valor, nos faça um bem que nem mesmo nós percebemos."

sexta-feira, 14 de março de 2014

Pense com o coração, caro Amigo, nestas palavras do Livro das Orações de São Gregório de Narek (séc. XI), monge e poeta armênio:



«Todo aquele que invocar o Nome do Senhor
será salvo» (Jl 3,5; Rm 10,13).
Quanto a mim, não apenas O invoco
mas, antes de tudo, creio na Sua grandeza!

Não é pelos Seus presentes
que persevero nas minhas súplicas:
é que Ele é a Vida verdadeira
e Nele respiro;
Sem Ele não há movimento nem progresso.

Não é tanto pelos laços de esperança:
é pelos laços de amor que sou atraído.
Não é dos dons:
é do Doador que tenho perpétua nostalgia.
Não é à glória que aspiro:
é ao Senhor glorificado que quero abraçar!
Não é de sede da vida que constantemente me consumo,
é da lembrança Daquele que dá a vida.

Não é pelo desejo de felicidade que suspiro,
que do mais profundo do meu coração rompo em soluços:
é porque anelo por Aquele que a prepara.
Não é o repouso que procuro,
é a face Daquele que aquietará o meu coração suplicante.
Não é por causa do festim nupcial que feneço,
é pelo anseio do Esposo.

Na esperança certa do Seu poder
apesar do fardo dos meus pecados,
creio, com uma esperança inabalável,
que, confiando-me na mão do Todo-Poderoso,
não somente obterei o perdão
mas que O verei em pessoa,
graças à Sua misericórdia e à Sua piedade
e que, conquanto justamente mereça ser proscrito,
herdarei o Céu!