segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014


Para ser santo é preciso desejá-lo.

Beati qui esuriunt et sitiunt iustitiam; quoniam ipsi saturabuntur – “Bem-aventurados os que têm fome e se de justiça; porque eles serão fartos” (Matth. 5, 6).


Sumário. Quem quiser ser santo, deve desprender-se das criaturas, vencer as paixões, vencer-se a si próprio, amar as cruzes e sofrer muito. Ora, o santo desejo, ao passo que nos dá força para praticar tudo isso, torna-nos a pena mais leve. Pode-se dizer que já é quase vencedor quem possui um grande desejo de vencer. Irmão meu, lança um olhar sobre a tua alma, vê se tens grande desejo da perfeição, e roga a Jesus e Maria que o façam sempre mais crescer em ti.


I. Nenhum santo alcançou a perfeição sem um grande desejo de chegar à santidade. Assim como os pássaros precisam de asas para voar, assim às almas são necessários os santos desejos para caminharem à perfeição. Quem quer ser santo deve desprender-se das criaturas, vencer as paixões, vencer-se a si próprio, amar as cruzes, e para fazer tudo isso, requer-se grande força e é mister sofrer muito. Ora, o que faz o santo desejo? Responde São Lourenço Justiniano: “Subministra forças e faz julgar a pena mais leve.” Razão porque o mesmo Santo acrescenta que já é quase vencedor quem possui grande desejo de vencer: Magna victoriae pars est vincendi desiderium. Quem pretende subir ao cume de um alto monte, nunca chegará ali sem um grande desejo de chegar. Este dar-lhe-á coragem e força para aguentar as fadigas da subida; sem ele ficará prostrado na encosta desgostoso e desanimado.


São Bernardo afirma que cada um progredirá na perfeição à proporção do desejo que tiver. E Santa Teresa diz que Deus ama as almas generosas que têm grandes desejos. Por isso a Santa dava a todos esta exortação: “Os nossos pensamentos devem ser grandes, porque deles virá o nosso bem. Não convém abaixar os desejos, mas confiar em Deus, que, esforçando-nos, pouco a pouco poderemos chegar até aonde, com a divina graça, chegaram os santos.” É assim que os santos em breve tempo atingiram um alto grau de perfeição e fizeram grandes coisas para Deus: Consummatus in brevi, explevit tempora multa (1) – “Tendo vivido pouco tempo, encheu a carreira de uma larga vida”. Assim São Luiz de Gonzaga chegou em poucos anos a tão alto grau de santidade, que Santa Maria Magdalena de Pazzi, vendo-o num êxtase, no paraíso, disse se lhe afigurava de certo modo que não havia no céu outro santo que gozasse de mais glória do que São Luiz. Ao mesmo tempo a Santa compreendeu que São Luiz subiu tão alto pelo grande desejo de amar a Deus tanto como o merece, e que o santo jovem, vendo que nunca poderia chegar a este ponto, sofreu na terra um martírio de amor.


II. São Bernardo, sendo já religioso, para afervorar-se, costumava perguntar a si mesmo: Bernardo, para que vieste? Bernarde, ad quid venisti? A mesma pergunta te dirijo a ti: Que vieste fazer na casa de Deus? Para que deixaste o mundo? Para te fazeres santo?... E agora que fazes? Para que perdes o tempo? Dize-me: desejas fazer-te santo? Se não o desejas, é certo que nunca o serás. Se não tens este desejo, pede-o a Jesus Cristo, pede-o a Maria. E se o tens, reveste-te de coragem, diz o mesmo São Bernardo, porque muitos não se fazem santos por falta de coragem. Para que temeremos? De quem deveremos desconfiar? O mesmo Senhor que nos deu força para deixarmos o mundo, dar-nos-á também força para abraçarmos uma vida santa.


Eis-me aqui, meu Deus, eis-me aqui pronto para executar quanto de mim quiserdes. Domine, quid me vis facere? (2) – “Senhor, que quereis que eu faça? Dizei-me, Senhor, o que de mim desejais, que em tudo Vos quero obedecer. Sinto ter perdido tanto tempo em que podia agradar-Vos e não o fiz. Agradeço-Vos que ainda me dais tempo para fazê-lo. Não o quero mais perder. Quero e desejo ser santo; não para receber de Vós mais glória, ou gozar mais: quero ser santo para mais Vos amar e dar-Vos mais gosto nesta vida e na outra. Fazei, Senhor, que eu Vos ame e Vos compraza quanto Vós o desejais. Eis tudo o que Vos peço, ó meu Deus: quero amar-Vos, quero amar-Vos, e para Vos amar ofereço-me a sofrer qualquer desgosto, qualquer enfermidade, qualquer pena.


Senhor meu, aumentai sempre em mim este desejo e dai-me a graça de o por em obra, por mim mesmo nada posso; mas ajudado por Vós posso tudo. Ó Eterno Padre, por amor de Jesus Cristo, atendei-me. Jesus meu, pelos méritos da vossa Paixão, socorrei-me. Maria, minha esperança, por amor de Jesus, protegei-me. (IV 424.)
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1. Sap. 4, 13.
2. Act. 9, 6.


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 247 - 249.)



domingo, 23 de fevereiro de 2014

Mistérios do rosário



Os Mistérios do Rosário em imagens - 1º Mistério Gozoso

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Às vezes, para rezarmos, é necessário estimular a meditação. Para esse bom propósito, resolvemos fazer um gif com imagens piedosas de cada mistério. Hoje, publicaremos o primeiro Mistério Gozoso: a "Anunciação e a Encarnação do Verbo". São 99 imagens escolhidas entre mais de 300, dos mais variados autores, estilos e aspectos deste mistério que compõe a reza do Santo Rosário. Como é sabido, a recitação do Rosário nos faz compreender melhor estes mistérios de nossa Fé e nos alcança
graças.
“Quem reza se salva, quem não reza se condena.”

Santo Afonso Maria de Ligório




A Anunciação e a Encarnação do Verbo

Esperamos publicar todo domingos os outros 14 Mistérios de nossa Fé.

Pale Ideas ( blog)

Histórias de uma alma...




Histórias de uma alma...


Isso merece ser compartilhado:

Durante a segunda guerra, Irena conseguiu permissão para entrar no Gueto de Varsóvia como encanadora, e para fazer limpeza de esgoto. Toda vez que ela saia do gueto, escondia uma criança no fundo de sua sua caixa de ferramentas, ou em sacos de lixo. Ela adestrou um cão, para fazer barulho quando ela deixava o gueto, e assim atrair a atenção dos guardas nazistas. Ela salvou 2500 crianças da morte. Nos momentos finais da guerra, ela foi descoberta, e os nazistas quebraram as pernas e braços dela. Cada criança salva tinha o nome escrito em papel, e escondido em uma jarra enterrada no quintal dela. Após a guerra, ela pegou o registro de cada uma das crianças, e tentou achar os parentes. As crianças que ficaram definitivamente sem parentes vivos foram orientadas para adoção. Em 2007 ela foi indicada ao prêmio Nobel da paz, mas quem ganhou foi o Al Gore, por seu power-point sobre mudanças climáticas... Ela morreu em 2008, e seu trabalho é hoje continuado, em uma organização que se chama "vida numa jarra" (life in a jar)
http://www.irenasendler.org/

Oração do dia...

"Bendito sejas, ó Eterno, a quem não vejo,



mas na noite da fé pura entrevejo




e por quem vivo a minha vida a esperar!"

sábado, 22 de fevereiro de 2014


As virtudes de Nossa Senhora - Sua Caridade para com Deus.




II. SUA CARIDADE PARA COM DEUS.




Deu o Senhor aos homens o preceito: “amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração” (MT 22,37).


Quem como ela cumpriu o preceito de amar a Deus de todo o coração? Tão intenso era-lhe o incêndio do amor divino, que não restava lugar para a menor imperfeição. De tal modo o amor divino feriu a alma de Maria, diz S. Bernardo, que não restava lugar para menor imperfeição. Até os serafins, exclama Ricardo de S. Vitor, podiam descer do céu para aprender no coração de Maria a maneira de amar a Deus.


Diz S. Bernardino: “Assim como de um intenso fogo fogem as moscas, assim do coração de Maria, fogueira de caridade, eram expulsos os demônios, de modo que nem tentavam aproximar-se dele”. Os príncipes das trevas de tal maneira temiam a Virgem Santíssima, que nem ousavam chegar-se para tentá-la, porque as chamas de sua caridade os afugentavam.


Nem o sono impedia a Mãe de Deus de amar seu Criador. Tal privilégio foi concedido aos nossos primeiros pais no estado de inocência. Santo Ambrósio afirma: Enquanto seu corpo repousava, vigiava sua alma. Realizou-se assim na Virgem a passagem dos Provérbios: A sua candeia não se apagará (31,18).


E já que Maria ama tanto a seu Deus, nada exige de seus servos senão que o amem, tanto quanto possível. Disse ela à Bem aventurada Ângela de Foligno, que havia comungado: Ângela, abençoada sejas por meu Filho, e procura amá-lo quanto puderes. Igualmente falou a Santa Brígida: Filha, se queres prender-me a ti, ama a meu Filho.


(Tirado do Livro Glorias de Maria de Santo Afonso de Ligório)
As virtudes de Nossa Senhora - A Humildade.


Os santos padres chamam a humildade de base de todas as virtudes. De todas as virtudes, a humildade é o fundamento e a guarda. Sem humildade, não há virtude que possa existir numa alma. Possua embora todas as virtudes, fugiriam todas ao lhe fugir a humildade. Diz S. Francisco de Sales e S. Joana Chantal que Deus é tão amante da humildade, que se apressa em correr onde a vê.


I. HUMILDADE DE MARIA 




No mundo era desconhecida essa virtude tão bela e necessária. Mas, para ensiná-la, veio a terra o próprio filho de Deus, exigindo que, principalmente nesse particular, lhe procurássemos imitar o exemplo: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (MT 11,29) E assim como em todas as virtudes foi Maria Santíssima a primeira e a mais perfeita discípula de Jesus Cristo o foi também na humildade. Pela humildade ela mereceu ser exaltada sobre todas as criaturas.


1. O primeiro traço da humildade é o modesto conceito de si mesmo.


O humilde conceito de sim mesma foi o encanto com que Maria prendeu o coração de Deus. Não podia, é claro, a Santíssima Virgem julgar-se uma pecadora, pois, na frase de S. Tereza, a humildade é a verdade, e Maria tinha consciência de nunca haver ofendido a Deus.


Vendo-se uma mendiga revestida de custosas vestes, que lhe foram dadas, não se envaidece, mas antes se humilha ao contemplá-las diante de seu benfeitor. A Santíssima Virgem quanto mais enriquecida se via, mais se humilhava. Lembrava-se sem cessar, de que tudo aquilo era dom de Deus. Dai a sua palavra a S. Isabel de Turíngia: Creia-me filha, sempre me tive pela última das criaturas e indigna das graças de Deus.


2. Também é efeito da humildade ocultar os dons celestes.


Nem a São José quis Nossa Senhora revelar a graça de se haver tornado Mãe de Deus. O pobre esposo viu como ela ia ser mãe, e necessitava de esclarecimentos que o libertassem de cruciantes suspeitas da honestidade da esposa, e dele afastasse vexames e confusões. De uma lado, José não podia duvidar de Maria e de outro ignorava o mistério da Encarnação. Resolveu por isso deixá-la ocultamente, para sair de tão embaraçosa situação. Tê-lo-ia feito certamente, se o anjo não lhe houvesse revelado que sua esposa se tornara Mãe por obra do Espírito Santo.(MT 1,18-23).


3. Os humildes recusa os louvores referindo-se todos a Deus.


Tal foi o procedimento de Nossa Senhora, ao perturbar-se diante dos louvores que lhe dirigia o arcanjo S. Gabriel. Assim foi o seu procedimento, quando Isabel a chamou de bendita entre todas as mulheres e a Mãe do Senhor. Imediatamente Maria atribui toda a glória a Deus, respondendo no seu humilde cântico: “Minha alma engrandece ao Senhor”. É como se disse: Isabel tu me louvas, porém eu louvo ao Senhor a quem unicamente é devida toda a honra. Tu te admiras de vir eu a ti, mas eu admiro a bondade divina, na qual tão somente, meu espírito se alegra. Louvas-me porque eu acreditei, mas eu louvo a meu Deus que quis exaltar o meu nada, na baixeza de sua serva pôs seus olhos. É esse o motivo que Maria disse a Santa Brígida: Porque me humilhei tanto ou por que mereci, minha filha tão extraordinária graça? Só porque estava plenamente convencida de não valer nada, de não possuir algo de mim mesma.


4. É próprio do humilde prestar serviços.


Maria não se negou a servir Isabel durante três meses. Escreve S. Bernardo: Admirou-se Isabel da vinda de Maria, porém mais admirável ainda era o motivo de sua vinda: vinha para servir e não para ser servida.


5. O humilde gosta de uma vida retirada e despercebida.


Lembra-nos São Bernardo, quando Jesus pregava numa casa e ela desejava falar com ele. Não se animou a entrar. Ficou de fora e não confiou no prestígio de mãe, mas evitou de interromper a pregação do filho. (MT 12,46). Quis também tomar o último lugar, quando estava no cenáculo com os apóstolos. “Todos perseveravam de comum acordo em oração com as mulheres, e Maria, Mãe de Jesus” (At 1,14). Bem conhecia São Lucas qual o mérito da Divina Mãe, devendo nomeá-la antes de todos. Porém, de fato Maria tinha tomado o último lugar, depois dos apóstolos e das santas mulheres. São Lucas, na opinião de um autor, os nomeou a todos e por último a Virgem, segundo o lugar que ocupava. Diz São Bernardo: Com razão tornou-se a primeira a que era a última porque, sendo a primeira se fizera a última.


6. Os humildes amam finalmente os desprezos.


Eis porque não se lê que Nossa Senhora aparecesse em Jerusalém ao domingo de Ramos, quando o seu Filho foi recebido com tanta pompa pelo povo. Mas, por ocasião da morte de Jesus, não receou comparecer em público no Calvário, aceitando assim a desonra de se dar a conhecer por mãe de um sentenciado, que ia sofrer a morte de um criminoso. Ela mesma disse uma vez a S. Brígida: que há de mais humilde, do que ser chamado de louco, sofrer privação de tudo e ter a si mesmo por último de todos? Ó filha, era assim a minha humildade, na qual estava minha alegria e todo desejo de meu coração; pois minha única preocupação era ser em tudo semelhante a meu Filho.
O Senhor mostrou um dia a S. Brígida duas mulheres: uma toda luxo e vaidade. Esta – disse Ele – é a soberba. Contempla essa que tem a cabeça baixa, que é serviçal para com todos, pensando em Deus unicamente e convencida do seu nada: é a Humildade e chama-se Maria.


Diz S. Bernardo: “Se não podes imitar a humilde Virgem em sua pureza, imita ao menos a pura Virgem em sua humildade”. Ela aborrece os soberbos e só chama a si os humildes diz o Santo Ricardo de S. Lourenço: “Maria protege-nos sob o manto da humildade”. O mesmo quis dizer ela a Santa Brígida quando falou: “Vem também tu minha filha, esconde-te debaixo do meu manto, que é a humildade”. Acrescentando que a meditação de sua humildade era um manto bom e aquecedor. Um manto aquece só quem o traz, não em pensamento, mas em realidade. Assim também minha humildade aproveita só aqueles que se esforçam por imitá-la.


Martinho d’Alberto, jesuita, costumava varrer a casa e ajuntar o lixo por amor da Virgem, apareceu-lhe um dia a Mãe de Deus, refere o Padre Nieremberg, agradeceu-lhe esse obéquio, dizendo: “Como me é agradável a humilde ação que praticas por amor de mim”.


Oração: Ó minha Rainha, não poderei ser vosso filho, se não for humilde. Não vedes, porém, que meus pecados, depois de me terem tornado ingrato(a) ao meu Senhor, me tornaram também soberbo(a)? Ó minha Mãe, remediai a este mal e, pelos merecimentos de vossa humildade, impetrai-me a graça de ser humilde e tornar-me vosso(a) filho(a). Amém


(Tirado do Livro Glorias de Maria de Santo Afonso de Ligório)

As virtudes de Nossa Senhora - Sua Oração.



X. SEU ESPÍRITO DE ORAÇÃO.


(Maria Santíssima menina auxiliada nas orações por sua mãe, santa Ana)


Nunca se viu na terra uma alma que, como Maria, com tanta perfeição pusesse em prática o grande preceito do Salvador: “Importa orar sempre e nunca cessar de o fazer (Lc18,1).



Diz S. Alberto Magno que a Divina Mãe, foi abaixo de Jesus, a mais perfeita na oração, de quantos têm existido e hão de existir. Desde o primeiro instante de sua vida, gozava Maria do uso perfeito da razão. (Pag 266 1. GM). Já então começou a orar, e, para melhor se entregar a oração, quis encerrar-se no retiro do templo, com apenas três anos.
Além das horas destinadas ao santo exercício da oração, erguia-se de noite e ia orar ante o altar do templo, como revelou a S. Isabel de Turíngia. (Lê pag. 279).


Diz S. Bernardino que Maria pelo amor a oração e ao retiro, estava sempre atenta em fugir ao trato com o mundo. Exclama São Bernardo: a solidão e o silêncio, que se gozam no retiro, convidam a alma a deixar com o pensamento a terra, e a mediar nos bens celestiais.


(Aqui termina as selecionadas virtudes de Nossa Senhora por Santo Afonso Maria de Ligório, retirado do livro ‘Glorias de Maria’ deste mesmo santo).


Conheça as outras virtudes de Nossa Senhora e imiti-as:

As sete portas do inferno: Primeria porta.


PRIMEIRA PORTA: A IMPUREZA






Não erreis, disse São Paulo, os impuros não herdarão o céu. A impureza é o amor desregrado dos prazeres da carne. Pensar voluntariamente em coisas desonestas; desejar praticar, ver, ouvir coisas escandalosas; dizer palavras, ter conversas imorais, ler livros obscenos, olhar gravuras, espetáculos, pessoas indecentes; permitir-se consigo ou com outras pessoas liberdades criminosas; praticar no sacramento do matrimônio o que a moral cristã proíbe... são pecados contra a pureza.




Considerai agora o horror que causará a Deus aquela pessoa que, como diz São Pedro, semelhante ao suíno, se revolve no lodaçal deste pecado. Dirão ainda os escravos da impureza: Deus é misericordioso, conhece a fraqueza da carne. Pois ficai sabendo que, conforme o relata a Escritura, os mais terríveis castigos que Deus descarregou sobre o mundo foram as punições deste pecado.


Abramos, com efeito, a Escritura. O mundo está ainda no começo e já os homens estão corrompidos, carnais impudicos. Deus se arrepende de ter criado o homem e por isso toma a resolução de o exterminar. Abre as cataratas do céu, a chuva cai durante quarenta dias e quarenta noites, as águas sobem até cobrirem as montanhas mais altas, e a humanidade morre afogada, abismada nas águas do dilúvio. Só escapam oito pessoas, a família de Noé que, sozinho, guardara a castidade.


Será pecado leve? Que lemos ainda na Bíblia? Havia na Palestina cinco cidades célebres pelo seu comércio, suas riquezas, mais célebres, ainda, pela sua corrupção espantosa. Naquelas cidades cometiam-se pecados de que nem se pode dizer o nome, pecados sensuais contra a natureza, pecados horrorosos que infelizmente se cometem hoje, depois de dois mil anos de cristianismo. Que fez Deus? Mandou chover sobre aquelas cidades uma chuva, não mais de água, mas de fogo e de enxofre, que reduziu a cinzas as cidades e os habitantes. Não satisfeito, Deus mandou à terra que se abrisse e ao inferno que engolisse os restos infames de Sodoma e Gomorra.


Que nos diz ainda a Sagrada Escritura? Que outrora Deus mandava queimar vivo a quem cometia semelhantes pecados e até aos casados que profanavam o matrimônio pelo crime horrendo do adultério. Este pecado de adultério, depois do assassínio, o mais grave de todos os pecados contra o próximo, foi sempre considerado até pelos pagãos como um crime digno de todos os castigos. Os antigos egípcios condenavam a ser queimada viva a mulher casada que tinha cometido este pecado; os saxões igualmente condenavam à fogueira a mulher casada infiel, e à forca o cúmplice de seus crimes. E há cristãos que trazem na lama do pecado o sacramento que São Paulo chama grande.


Estes são apenas os castigos para este mundo. Que será no outro mundo!
Está escrito, e a palavra de Deus não volta atrás, que os desonestos não entrarão no reino do céu. E este o pecado que arrasta para o inferno o maior número das almas. Diz São Remígio que a maior parte dos condenados estão no inferno por causa deste pecado. O mesmo diz São Bernardo: este pecado precipita no inferno quase todo o mundo. Do mesmo modo fala Santo Isidoro: é a luxúria muito mais que qualquer outro vício que sujeita o gênero humano ao demônio. Em uma palavra, e é a doutrina de todos os santos, de cem condenados no inferno, haverá um ladrão, um assassino, um ímpio, mas noventa e nove desonestos.


Pobres pecadores. Longe de mim o infundir-vos o desespero; o que quero dizer é que, se vos achais atolados neste vicio, procurai sair quanto antes deste lodaçal imundo, senão o inferno será vossa sorte eterna.


O que deveis fazer é o seguinte:
1º. Rezar. A oração é uma chuva celestial que apaga o pecado da concupiscência. Rezai antes de dormir, de joelhos, ao pé do leito, três Ave-Marias à pureza de Nossa Senhora.
2º. Repelir sem demora todo mau pensamento e desejo, chamando pelos nomes de Jesus e Maria.
3º. Fugir, mas fugir absolutamente, custe o que custar, da ocasião do pecado, da frequentação de tal pessoa, de tal casa, de tal divertimento, de um modo especial destas danças modernas tão imorais e escandalosas.
4º. Enfim o meio mais eficaz é a recepção frequente e piedosa dos sacramentos da confissão e comunhão.
Desenganai-vos, se agora não vos emendardes, mais tarde será tarde demais.




(O Pequeno Missionário - Manual de Instruções, Orações e Cânticos coordenado pelo Pe. Guilherme Vaessen, Missionário da Congregação da Missão - 6a. Edição, Editora Vozes, 1953).

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

COURAÇA DE SÃO PATRÍCIO

JESUS EU CONFIO EM VÓS...

PE. LÉO ETERNO



"O nosso viver quotidiano no nosso corpo, nas pequenas 

coisas, deveria ser inspirado, prodigalizado, imerso na


realidade divina, deveria tornar-se ação juntamente com 

Deus. Isto não significa que devemos pensar sempre em 



Deus, mas que devemos ser realmente penetrados pela 

realidade de Deus, de modo que toda a nossa vida — e 


não só alguns pensamentos — seja liturgia, seja adoração." - 

Papa Bento XVI

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Um Deus, um povo, uma história cheia de histórias


Um Deus, um povo, uma história cheia de histórias 


...
Como foi isso? Como Deus nos dirigiu Sua Palavra? Como pode o Deus Infinito, Silêncio eterno, falar a linguagem dos filhos dos homens?



As Sagradas Escrituras são testemunhas desse misterioso diálogo entre Deus e a humanidade. Mas, compreendamos logo algumas coisas.



(1) Deus não Se revelou primeiramente num livro. Revelou-Se na história de um povo, por Ele misteriosa e gratuitamente escolhido: o povo de Israel.
Pouco a pouco, com admirável pedagogia, foi plasmando esse povo, foi a ele Se revelando, retirando-o do paganismo, educando-o; foi-lhe purificando a consciência, refinando a percepção que eles tinham o divino.
Aos poucos, Israel foi sendo formado, foi compreendendo que havia sido escolhido e, dessa escolha, dependia também a bênção para toda a humanidade. E Israel foi experimentando, foi tomando consciência de que esse seu Deus não era um deus entre outros, mas Deus, simplesmente o Deus, o Eterno, o Invisível, o Santo, o Único!
Nos percalços da história, o Senhor foi educando Israel para acolher a Sua revelação.



(2) Atenção, que “revelação” aqui não quer dizer revelação de segredos e ideias abstratas, de teorias, mas se trata da revelação de Alguém, revelação do próprio Deus: como um amigo se revela a outro amigo, como o amado se revela à sua amada em palavras, em gestos, em atitudes, em convivência, assim Deus, o Altíssimo, foi Se revelando ao Seu povo.



(3) Somente num segundo momento é que os sábios e profetas, os escribas e sacerdotes foram colocando por escrito a história de Israel: suas histórias, suas tradições, séculos e séculos de vida com o seu Deus, vida que muito antes havia experimentado na existência sofrida de cada dia.
Então, uma conclusão importante: os textos da Escritura não são simples documentos históricos crus, impessoais, simplesmente objetivos, crônicas de jornal ou informação de livro de história; muito menos ainda são livros de ciência ou filosofia! Nada disso: são textos vivos, textos vividos, cheios de emoção, de paixão: são o testemunho de como um povo vivenciou no seu coração e na sua vida o seu relacionamento com o Deus vivo que lhe veio ao encontro nos acontecimentos da sua história.
Imagine alguém colocando por escrito sua vida com a pessoa amada, sua história de amor com tantos altos e baixos... Assim Israel colocou por escrito essa relação do Deus Amante com o Seu povo amado... É isto o conjunto de textos a que chamamos Antigo Testamento, é fogo de paixão, é rogo de dois corações que se atrigam como pedras: o Coração apaixonado do Deus Santo com o coração do povo que Ele desposou!



(4) E Israel foi crescendo na convicção de que esses textos tão humanos, com linguagem de homens, limitações culturais de homens, não eram simplesmente obra de homens: por trás dos autores humanos, era Deus mesmo Quem estava inspirando, comunicando-Se, rasgando Seu coração para que o homem nele pudesse entrar! Isso: frequentar esses textos é frequentar o Coração de Deus: coração Divino revelado em linguagem humana!

...

O Segredo Admirável do Santíssimo Rosário (III)




Adotai a resolução de rezar o Rosário todos os dias





Não desprezeis, pois, minha planta excelente e divina, plantai-a em vossa alma, adotando a resolução de rezar o Rosário. Cultivai-a e regai-a, rezando-o fielmente todos os dias e fazendo boas obras, e vereis como este grão que parecia tão pequeno chegará a ser com o tempo uma árvore frondosa, onde as almas predestinadas e elevadas à contemplação farão seus ninhos e morada para resguardar-se, à sombra de suas folhas, dos ardores do sol; para, nas alturas, se protegerem dos animais ferozes da terra; e para serem, enfim, delicadamente alimentadas com seu fruto, que não é senão o adorável Jesus, a quem seja dada honra e glória pelos séculos e séculos. Amém.


(O Segredo Admirável do Santíssimo Rosário – São Luiz Maria Grignion de Montfort)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

PARA TODOS QUE DESEJAM ENCONTRAR-SE A SI MESMO E A DEUS...

PARA TODOS QUE DESEJAM ENCONTRAR-SE A SI MESMO E A DEUS...
A Oração Mental
1. Da oração mental
Depois de tratarmos da oração vocal, o que vai nos ensinar sobre a oração mental?
A oração mental é a que se faz no interior da alma, sem se pronunciar as formulas das orações.
Qual é a excelência da oração mental?
Ela é o fundamento de toda oração, consistindo principalmente no desejo da alma, sem o qual não há nenhuma oração.
Como se chama essa oração interior que é toda da alma?
É chamada algumas vezes de meditação, e outras vezes simplesmente oração.
O que quer dizer a palavra meditação?
A palavra meditação significa o trabalho do espírito que considera, aprofunda avalia, por assim dizer, um assunto, em todos os sentidos, para achar os motivos para fugir do mal, procurar o bem e chegar a Deus.
O que quer dizer a palavra oração?
É a palavra que designa todo tipo de prece e que nos faz compreender que ela seja vocal ou mental, é uma obra da alma que aplica sua inteligência para conhecer o bem e a sua vontade para procurá-lo.
2.A oração mental segundo são Francisco de Sales
O que ensina são Francisco de Sales sobre a oração mental?
Ele diz: “A oração pondo nosso entendimento na claridade e na luz divina, expondo nossa vontade ao calor do amor celeste, nada há que purgue tanto o nosso entendimento de suas ignorâncias, e a nossa vontade de suas afeições depravadas.”
O que é que o Santo chama de nosso entendimento?
O entendimento é a mesma coisa que a inteligência ou a faculdade que nossa alma possui de conhecer a verdade, de entender a verdade, de ler na verdade.
E nossa vontade?
É a faculdade que a alma possui pela qual procura a verdade para  ama-la e dela fazer a regra de sua conduta.
E isso não é, então, toda a alma?
Certamente, pois nossa alma não é outra coisa que a inteligência ou entendimento, e a vontade ou amor.
Assim, a oração mental toma toda a alma?
Sim, toda a alma, se bem que às vezes a oração se faça mais na inteligência que medita, outras vezes mais na vontade que goza, saboreia, abraça a verdade que medita.
3. Do trabalho do entendimento na oração mental
Explique essa palavra de são Francisco: A oração pondo nosso entendimento na claridade e na luz divina...
Isso significa que para rezar  mentalmente é necessário que nosso espírito se alimente com alguma verdade da fé, como uma lâmpada se alimenta do óleo para clarear.
Como se chama essa verdade?
É chamada de assunto ou tema da oração.
Quais são as operações do espírito em torno desse tema?
O espírito o considera, examina,  medecomo já dissemos, a fim de o compreender tanto quanto possível em toda sua extensão, para dele recolher os frutos.
Quais são esses frutos?
Quando a luz aumenta na inteligência, a alma se compraz na claridade e luz divina, e daí é levada mais facilmente a fugir do mal e a procurar o bem.
Por exemplo?
Se eu medito na bondade, na doçura  e na suavidade de Deus vai ser mais fácil amá-lo e chegar até ele.
4. Do trabalho da vontade na oração mental
O que diz são Francisco sobre isso?
Ele diz que a oração expõe nossa vontade ao calor do amor celeste.
Ele faz alguma comparação?
Certamente e muito bonita.
Qual é?
Imagine um homem que, hirto de frio, se encontra diante de um bom fogo, e que saboreia o bem de sentir que o frio se vai e que o calor penetra em seus membros, reanimando a vida.
O que representa esse homem?
Nossa pobre vontade entorpecida pelo pecado e muitas vezes gelada para o bem.
E esse grande fogo?
É a própria bondade de Deus, que por mil benefícios, vem a nós e nos penetra para nos sarar, nos torna bons e enfim felizes.
5. Das vantagens da oração mental
Relate a palavra de são Francisco sobre essas vantagens?
“Nada há, diz ele, que purgue tanto nosso entendimento de suas ignorâncias, e nossa vontade de suas afeiçoes depravadas”.
De onde vêm essas nossas ignorâncias e essas afeições depravadas?
Do pecado original
Mas não foi remido pelo batismo?
Foi remido, certamente, mas ficaram as seqüelas; como  ficam num doente depois de uma enfermidade.
Então, a oração mental nos ajuda muito a nos levantar?
Ela nos ajuda tão bem que nisso nada a supera, segundo são Francisco de Sales.
Então será preciso nos ensinar longamente a oração mental.
Esse será o assunto de nossas próximas lições.
6. De que se compõe a oração mental
A oração mental é composta de muitos atos?
Assim como a oração vocal se compõe de muitas palavras sucessivas, assim como o Pai Nosso é formado de sete pedidos, a oração mental se compõe de vários atos da alma, que se seguem e se encadeiam para formar um todo cheio de harmonia.
Quais são esses atos?
Há os atos preliminares ou a preparação, os atos essenciais que fazem como um corpo ou melhor o coração da oração, enfim há os atos de conclusão nos quais se recolhe os frutos da oração.
Assim se distingue três partes na oração mental?
Sim, as chamamos preparação , corpo da oração e conclusão.
Dê uma comparação?
O Reino do céu é semelhante a um campo, diz Nosso Senhor. Essa comparação de um campo convém muito bem ao assunto.
Explique  a comparação?
O lavrador prepara o campo para a sementeira, depois semeia e recolhe, enfim goza dos frutos de seu trabalho. Aí está a imagem das três partes da oração mental.
7. Primeira parte: a preparação
O que deve fazer uma alma para se preparar para a oração mental?
Primeiramente, deve se recolher, quer dizer, deve concentrar todas as suas potências a fim de estar inteiramente voltada para a obra santa que se propõe fazer.
E depois?
A alma deve se colocar atentamente na presença de Deus: quer dizer, se lembrar do que a fé nos ensina sobre a imensidade de Deus presente em toda parte, de seu amor infinito por nós, e sobretudo da assistência misericordiosa que nos dá quando rezamos.
Não há algum outro modo que seja muito útil para  por-se na presença de Deus?
Será utilíssimo nos lembrar que Deus está não somente em toda parte mas que está presente dentro de nós, nos dando, como diz são Paulo, o ser, o movimento e a vida, nos dando sobretudo a graça de rezar e nos ajudar particularmente nessa obra tão doce e tão salutar.
Essa é toda a preparação necessária?
Não, é preciso ainda implorar o socorro divino, a misericórdia de Nosso Senhor, a assistência do Espírito Santo, a proteção da Santíssima Virgem e dos santos Anjos.
E então?
Depois desses atos preliminares, a alma está em estado de rezar, e precisa avançar como iremos lhe ensinar.
8. Segunda parte: os atos essenciais da oração mental
Quais são os atos essenciais da oração mental?
Alguns são atos da inteligência, outros atos da vontade.
Quais são os atos da inteligência?
É preciso primeiro penetrar profundamente na verdade que deve formar o fundo da oração, seja um artigo da fé, um mistério de Nosso Senhor, um ato da Santíssima Virgem ou de um santo.
E para se penetrar bem no assunto que se deve fazer?
É o que se chama considerações. Por exemplo: quando se vai estudar um grande e belo monumento, se leva em conta seu conjunto e suas partes, a harmonia das linhas, a beleza da decoração, etc. Do mesmo modo, diante de um assunto de oração , considera-se o que Deus fez por nós, o amor com que fez, o bem que nos preparou; diante disso o espírito será arrebatado de alegria em Deus seu Salvador.
É preciso fazer muitas considerações?
Depende da necessidade da alma, e da atração da graça que nos faz rezar. Pode-se fazer apenas uma consideração que alimenta a alma durante muito tempo, e então é inútil procurar outra coisa. De outras vezes será preciso multiplicar as considerações até que a alma se sinta vivamente tocada e que possa dizer como Davi: “Encontrei meu coração para fazer minha oração para meu Deus (II Sam. VII,27)”
Qual a faculdade da alma que principalmente age nas considerações?
É a inteligência, que se compraz “na claridade e nas luz divina”, como nos dizia são Francisco de Sales.
Quais os atos que resultam desses atos da inteligência na oração mental?
São os atos da vontade.
Quais são esses atos da vontade?
Podem se resumir em quatro: atos de amor ou de ódio, atos de confiança ou de temor.
Como se compreende esses atos?
Dissemos que são a conseqüência dos atos de inteligência: se considero a infinita bondade de Deus, serei levado a fazer atos de amor e de confiança; se meço a enormidade do pecado, farei atos de ódio, de detestação, de contrição; à vista do inferno e dos temíveis julgamentos de Deus, farei atos de temor; é assim que os atos da vontade são comandados pelos atos da inteligência.
Quais são os mais saudáveis desses atos da vontade?
São os que nos fazem detestar o pecado e amar a Deus.
Não é isso o principal na oração mental?
Certamente, são nesses atos que mais devemos insistir.
9. A conclusão da oração mental
Como se deve terminar a oração mental?
Sempre com alguma salutar resolução inspirada pelo desejo de nos afastar do pecado e de nos unirmos a Deus.
Essa não é uma resolução muito geral?
Certamente, a essa devemos juntar uma resolução de evitar determinado pecado, ou fazer um determinado bem em conformidade com a resolução geral.
Qual deve ser o caráter da resolução particular?
Que ela seja prática, e imediatamente prática, nos ajudando a vencer o defeito dominante ou a adquirir a virtude de que temos mais necessidade.
Como é preciso terminar a oração mental?
Por um movimento piedoso e cordial de agradecimento para com Deus, o inspirador de toda oração e a única fonte de nossos bens.
E como terminar essa lição?
Com o compromisso de rezar mentalmente, ao menos alguns instantes todas as manhãs e sobretudo antes da santa comunhão. Que Deus nos dê essa graça.
10. A oração mental é difícil
Há quem se queixe algumas vezes das dificuldades da oração mental?
Algumas vezes; mas, na verdade, a oração mental não é mais difícil do que qualquer outra forma de oração.
Isso espanta!
Não se espantará mais se lembrar que a oração é um desejo da alma, e que sem desejo não há oração. Ora, o desejo, que seja exprimido por palavras ou dito interiormente a Deus sem palavras é a mesma coisa, não haverá mais dificuldade de um lado que do outro.
No entanto se escuta sempre dizer: Não posso meditar!
Há aí um mal entendido, pois não há alma que não medite. Logo, a meditação é possível já que todo mundo a faz.
Como é isso?
Não é verdade que todo mundo pensa em seus negócios, examina sua situação, considera as possibilidades de sucesso, os perigos e enfim toma suas providências para que as coisas corram o melhor possível?
Nada mais verdadeiro, e o que concluir?
Conclui-se que se cada um pode meditar nos seus negócios, pode igualmente meditar no grande negócio de sua salvação; pode ainda melhor porque a graça do Espírito Santo ajuda as almas a rezar, as leva à oração, em uma palavra, as faz rezar quando são dóceis.
11. O mal entendido
O que é esse mal entendido que foi mencionado?
Esse mal entendido vem do que se chama métodos de oração.

Mas o que são esses métodos de oração?

São teorias verdadeiramente bastante engenhosas pelas quais os autores modernos querem ensinar às almas uma espécie de ginástica espiritual onde se encontram habilmente sistematizados todos os atos possíveis da meditação.

Mas então de onde vem o mal entendido?

Do fato de que tendo lido esses métodos, alguns acreditam que não há outros meios de meditar que não sejam esses.

E se pode rezar sem eles?

Os antigos não os conheciam, e achamos que suas orações valiam bem mais do que as meditações artísticas, compassadas, certinhas dos orantes de nossos dias. Pode-se, pois rezar sem métodos racionais.
12. As distrações
E o que dizer das distrações?
As distrações são uma miséria da qual não podemos escapar. Somente no céu há quem reze sem distrações.

Essa miséria não é muito miserável?

Ela é miserável, sem dúvida, mas se vem sem nos darmos conta, é preciso ficarmos em paz, deixa-la passar sem nada lhe dizer e continuar sua oração como se nada tivesse acontecido. É inofensiva como uma mosca que passa.

Mas não há distrações nocivas?

Há, e muito nocivas: são as que nós mesmos provocamos quando não é hora de rezar.

Como isso?

Se, durante o dia, damos livre curso aos pensamentos de vaidade, de curiosidade, afeição às coisas do mundo; se nossa alma se deixa levar pelas armadilhas de alguma das três concupiscências, podemos estar certos de que estamos nos preparando para funestas distrações quando formos rezar.

Por onde elas chegam?

Pela via que nós mesmos traçamos. Pois se, durante o dia, os desejos de nossas almas são levados para as coisas baixas contra a vontade de Deus, essas coisas de baixo voltarão durante nossas orações, contra nossa vontade;  é isso que se chama oração funesta.

13. Um certo segredo relacionado à oração

O que nos promete com o nome de um certo segredo?
Uma belíssima história.

Conte-nos!!

Havia uma menina coxa, que só podia andar com o auxílio de muletas. Mas sua alma não claudicava indo no caminho do céu.

Então como ela andava nesse caminho?

Reta; ia para Deus, e nada mais lhe importava. Todos os dias dava graças a Deus por ele ter quebrado suas pernas. Quantos pecados teria cometido, dizia ela, se pudesse andar como os outros!

E sua oração?

Era uma maravilha. Ela não sabia ler, não tinha idéia de métodos. Rezava com seu coração, suas meditações eram muito elevadas, e sobretudo universais, envolvendo todas as almas, como Nosso Senhor nos ensinou a rezar no Pai Nosso.

Onde encontrava os assuntos de suas meditações?

No Santíssimo Sacramento, na Paixão de Nosso Senhor e nos seus outros mistérios, e nas dores da Santíssima Virgem: para ela estava tudo aí.

Então como ela rezava?

Praticamente não tinha dúvidas, justificava muito bem o que dizia Bossuet: “A melhor oração é a oração da alma que se conforma inteiramente com a disposição que o Espírito Santo lhe dá”.

Quem foi seu mestre na ciência da oração?

O Espírito Santo; não há ninguém que  não possa ou não deva ir à sua escola.

E ela tinha distrações?

Quase nada: além do mais não lhes dava a mínima atenção, ia reta em seu caminho sem cuidar do que podia acontecer à direita ou à esquerda.

E ela rezava sempre assim?

Não, alguns dias ela dizia: “Tiraram minha oração”.

E o que fazia então?

Dizia simplesmente: “Vou esperar!” quer dizer que ela se punha pacificamente diante de Deus, pedindo com toda a humildade a graça de rezar; quando já tinha esperado bastante, a oração voltava. “Tornaram a me dar a oração”, dizia, e sua alma mergulhava em piedosos desejos diante de Deus, de Nosso Senhor e da Santíssima Virgem.
14. O espírito de oração

O que é a oração para a alma do cristão?

A oração é para a alma o que a respiração é para o corpo: como um corpo não poderia continuar vivo se não respirasse a todo instante, assim a alma não poderia permanecer na graça, se não rezar ao menos de tempos em tempos.

Como a alma é levada a rezar assim?

O corpo é levado a respirar por uma necessidade incessante e pelo movimento natural de sua conservação; a alma é levada a rezar por um movimento sobrenatural, obra da graça de Nosso Senhor.

Como se chama esse movimento sobrenatural na alma cristã?

Chama-se espírito de oração. Deus disse em Zacarias: Estenderei sobre a casa de David e sobre os habitantes de Jerusalém, o espírito de graça e de oração: Spiritum gratiæ et precum (Zac.XII,10).

O que é a casa de Davi?

É a casa de Nosso Senhor, filho de Deus e filho de Davi.

O que é Jerusalém?

É a Igreja, a sociedade dos filhos de Deus, os herdeiros da graça de Nosso Senhor.

O que é o espírito de oração?

É o espírito que faz rezar, é a graça da oração distribuída pelo Espírito Santo aos corações dos filhos de Deus.
15. O que faz o espírito de oração

O que produz nas almas o espírito de oração?

Ensina interiormente a necessidade que a alma tem de rezar; move eficazmente a alma para  a oração, onde encontra um gosto sobrenatural na própria oração.

E então o que faz a alma sob a ação desse espírito?

Então a alma aspira realizar essa palavra adorável, esse mandamento sagrado de nosso amável Salvador: “É preciso rezar sempre, rezar sem cessar: Oportet semper orare et numquam deficere(Luc.XVIII,1).”

Porque disse mandamento?

Porque Nosso Senhor disse: “É preciso, Oportet”; não podemos nem acrescentar nem diminuir a palavra de Nosso Senhor.

Como compreender esse mandamento?

É como se Nosso Senhor nos dissesse: é preciso sempre amar a Deus, é preciso sempre se conservar em estado de graça, é preciso sempre evitar o pecado.

Como podemos realizar esse mandamento?

Nunca o realizaremos perfeitamente aqui em baixo; mas devemos fazer tudo para o realizarmos o melhor possível.
16. Como é preciso rezar para rezar sempre

Como obedecer bem a esse mandamento de Nosso Senhor?

Primeiro é preciso querer realizá-lo; ora, essa vontade implica para nós o dever de nos afastarmos de todo pecado e de nos orientarmos sempre ao que agrada a Deus.

E depois?

Depois prestar atenção para não perder as boas ocasiões de rezar.

Quais são elas?

Antes de tudo, a hora das orações da manhã e a hora das orações da noite; a hora do Ângelus, as orações antes e depois das refeições, são circunstâncias em que o católico não deixa nunca de elevar seu coração a Deus, de respirar sua divina graça e de rezar.
17. As ocasiões de rezar

Não há ainda outras circunstâncias em que é bom elevar a alma a Deus?

Há ainda muitas outras, como por exemplo, ao levantar e antes de adormecer, ao nascer do sol e ao poente.

Como é preciso rezar ao levantar?

Dando graças a Deus por nos ter guardado durante o sono, lhe oferecer o primeiro pensamento de nosso espírito, a primeira batida de nosso coração, e oferecer nosso dia.

Como é preciso rezar antes de adormecer?

Não adormecer jamais com um pecado mortal na consciência, mas ao contrário, ter a consciência em paz e adormecer sob o olhar de Deus, nos recomendando à Santíssima Virgem e a nosso anjo da Guarda.

O nascer do sol pode também nos fazer rezar?

Sim, pois nos lembra como Deus é criador da luz, como a distribui às criaturas segundo a sua vontade; é preciso querer usa-la, assim como todos os benefícios de Deus para a glória de nosso Criador.

Quais os bons pensamentos que nos pode fornecer o poente?

O fim do dia deve nos fazer pensar no fim de nossa vida, a hora em que nossos olhos se fecharem à luz daqui de baixo, e quando nossa alma deverá ir para Deus e entrar em sua luz eterna.
18. As orações jaculatórias

Será que poderemos rezar ainda em outros momentos?

Sim, certamente: a qualquer momento podemos dirigir a Deus alguma oração jaculatória.

O que são orações jaculatórias?

Uma oração muito curta, mas, o mais ardente possível, que dirigimos a Deus.

Porque se chama jaculatória?

Porque parece um jato (jaculum, em latim quer dizer jato) um jato que lançamos para Deus do fundo de nosso coração.

O que devemos dizer a Deus nessas orações?

Tudo o que nos pode inspirar a fé, a esperança, a caridade e a contrição.

E onde encontrar a matéria dessas orações?

Na ordem das coisas da natureza, para admirar, louvar e agradecer o poder, a sabedoria e a bondade de Deus; na ordem da graça para admirar, louvar e agradecer o que Deus fez na Encarnação de Nosso Senhor, o que faz na Eucaristia e os outros sacramentos; enfim na ordem da glória para admirar, louvar, agradecer a Deus pela glória de Nosso Senhor, da Santíssima Virgem e dos santos.

Haverá uma oração jaculatória que gostaria de nos ensinar?

Entre outras gostamos dessa:
JESUS, MEU DEUS, VOS AMO ACIMA DE TUDO.

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