segunda-feira, 5 de agosto de 2013


JOANA D'ARC: "PREFIRIRIA ESTAR FIANDO JUNTO DE MINHA POBRE MÃE... PORÉM... É PRECISO QUE EU FAÇA ISTO"


Vaucouleurs


"Ela me falava duas ou três vezes por semana: é preciso que você vá à França! A voz me dizia: vá à França! Eu não poderia mais ficar!..."
"Ela me dizia: vá levantar o sítio que está diante de Orleans".
"Ela acrescentava: vá a Roberto de Baudricourt, capitão de Vancouleurs, ele fornecerá pessoas para marchar contigo". 
"Mas, eu sou uma pobre moça, que não sabe nem cavalgar nem guerrear!"[1]
"Tome audaciosamente o estandarte, da parte do Rei do Céu[2], Deus te ajudará[3]. E quanto estiver diante do Rei, ele fará um prodígio, para que ele creia em tua missão e te dê uma boa acolhida"[4].


Diante de semelhante injunção, só restava obedecer, e é isto o que ela fez:
"Fui à casa de meu tio (Durand Laxart), e lhe disse: "Tenho que ir a Vaucouleurs!" Ele me conduziu para lá. Quando cheguei, conheci Roberto de Baudricourt, ainda que eu nunca o tivesse visto: eu o conheci, graças à minha voz que mo apresentou[5]".
"Eu disse a Robert: "tenho que ir à França!" Por duas vezes[6] Robert se recusou a me ouvir... a voz me tinha dito que seria assim".[7]
É nesta data, sábado, 12 de fevereiro de 1429, que a deixamos mais acima, junto de Roberto de Baudricourt. Retomemos o fio de sua história:


Ela está instalada em Vaucouleurs, há oito dias, na casa do casal Leroyer.


Baudricourt, que a observa, está vivamente atingido pela notícia confirmada, do dia dos Harengs, já predita a ele por Joana, no mesmo dia, 12 de fevereiro.


Ela é inspirada, isto está claro! Trata-se de saber se esta inspiração vem de Deus ou do diabo.


E ele pede ao pároco de Vaucouleurs, Jean Fournier, seu amigo, para se assegurar disto... pelo exorcismo!


O que ele faz, do que Joana se queixa amargamente à senhora da casa: "O padre, diz ela, estava com sua estola, e diante de Roberto, ele me adjurou dizendo: Se sois um mau espírito, afaste-se, se sois um bom espírito, aproxime-se. Então eu caminhei até ele e me joguei aos seus joelhos. Porém o padre errou ao agir assim, pois ele me conhecia, visto que eu tinha me confessado com ele". (Testemunho de Chaterine Leroyer)


Nesse meio tempo, mandaram-na conversar e ela se prestou a isso voluntariamente: "Quando ela viu, acrescenta Catherine, que Roberto se recusava a conduzi-la ao rei, ela me disse: Contudo, tenho que ir encontrar o Delfim! Não conheceis então a profecia que anuncia que a França, perdida por uma mulher, será salva por uma virgem das Marcas de Lorraine?"[8] "Eu me lembrava, com efeito, desta profecia, e fiquei surpresa!


Henri Leroyer acrescenta este detalhe: "Quando ela falava de partir, a gente lhe perguntava como ela poderia realizar tal viagem e escapar dos inimigos:"[9]
"Eu não os temo, respondia ela, tenho um caminho assegurado; se os inimigos estão sobre meu caminho, Deus ali também está, que saberá me preparar a via para ir até o Senhor Delfim. Eu fui criada e colocada no mundo para isto". (Testemunho de Henri Leroyer)Um dia, o cavaleiro Jean de Novelomport[10] se dirige a ela assim na rua:

"Que fazes aqui, minha amiga? Eu lhe disse".
"É preciso, ela me respondeu, que o rei seja expulso do reino e que nos tornemos ingleses?...
"Vim aqui, em uma cidade real, falar com Roberto de Baudricourt, afim que ele me leve ou mande me conduzir ao rei; porém Roberto não se preocupa nem comigo, nem com minhas palavras".
"Contudo é preciso que antes da quinta-feira da terceira semana da quaresma[11] eu esteja junto do rei; isto é necessário e eu estarei lá...
"Ninguém no mundo, nem reis, nem duques, nem a filha do rei da Escócia[12], nem outros podem reaver o reino da França; ele só pode esperar socorro de mim; todavia, preferiria estar fiando junto de minha pobre mãe, pois não nasci para isto, porém isto é necessário, é preciso que eu faça isto, porque esta é a vontade do Senhor".
"Como lhe perguntara de qual Senhor ela queria falar".
"De Deus, me disse ela". 
"Então eu lhe dei, com um firme aperto de mão, minha palavra de levá-la ao rei, com a ajuda de Deus!"
"Quando queres partir? Eu lhe disse".
"De preferência imediatamente amanhã, e antes amanhã do que mais tarde".[13]
"O tempo lhe parecia longo, como à uma mulher grávida", acrescenta Catherine Leroyer.
É porque ela tinha pressa, a pobre menina, em salvar "o santo reino da França"!


No fim de quinze dias, toda Vaucouleurs tinha sido conquistada por Joana d'Arc.








Extraído de: Marie-Léon Vial, Jeanne d'Arc et la Monarchie. Tournais, Établissements Casterman, 1910.


[1] 2º Int..
[2] A bandeira que ela iria mandar confeccionar em Tours.
[3] 9º Int..
[4] 1º Int..
[5] 1º visita, por volta da Ascensão, 13 de maio de 1428.
[6] A segunda vez no início da quaresma, 12 de fevereiro de 1429.
[7] 2º Int..
[8] Profecia de Merlin, publicada por Geoffroi de Montmouth, historiador gaulês (1100-1154), bispo de Asaph.
[9] Todas as guarnições entre Vaucouleurs e Chinon são inglesas. 
[10] Dito Jean de Metz
[11] Ou seja, em três semanas.
[12] Margarida, 5 anos, filha de Tiago da Escócia.

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