domingo, 24 de janeiro de 2016

11 h · 



TEMPO PARA VIVER

“27 de Setembro de 1958

É uma tarde esplêndida: e eu, o que vou fazer? Vou trabalhar com a cabeça e a caneta, enquanto o céu está claro e as nuvens brancas e fofas nele se definem pequena e acentuadamente. Não vou me enterrar em livros, tomando notas. Não vou me perder por essa selva e sair de lá embriagado e confuso, achando que a confusão é um sinal de que eu fiz alguma coisa. Não vou escrever como alguém impelido por compulsões, mas sim livremente, porque sou um escritor, porque para mim escrever é pensar e viver e também, em certa medida, até rezar.


Este tempo me é dado por Deus para que eu possa viver nele. Não dado para fazer-se alguma coisa DELE, mas dado a mim para ser conservado como meu nos longes da eternidade.

Para esta tarde ser minha na eternidade, deve ser minha nesta tarde, e nela eu devo possuir-me, não ser possuído por livros, por ideias que não tive, por uma compulsão de produzir o que ninguém precisa. Mas simplesmente glorificar Deus ao aceitar Suas dádivas e Seu trabalho. Trabalhar para Ele é trabalhar para que eu mesmo possa viver.

De que outro modo hei de estudar Boris Pasternak, cuja ideia central é a sacralidade da vida?”

Thomas Merton, "Merton na Intimidade - Sua Vida em Seus Diários", Fisus 2001, pág. 147

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