quarta-feira, 9 de março de 2016

LEITURA II – 1 Tes 5,16-24
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
Irmãos:
Vivei sempre alegres, orai sem cessar,
dai graças em todas as circunstâncias,
pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus.
Não apagueis o Espírito,
não desprezeis os dons proféticos;
mas avaliai tudo, conservando o que for bom.
Afastai-vos de toda a espécie de mal.
O Deus da paz vos santifique totalmente,
para que todo o vosso ser – espírito, alma e corpo –
se conserve irrepreensível
para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo.
É fiel Aquele que vos chama
e cumprirá as suas promessas.
AMBIENTE
Tessalónica era, no século I da nossa era, a cidade mais importante da Macedónia. Porto marítimo e cidade de intenso comércio, era uma encruzilhada religiosa, na qual os cultos locais coexistiam lado a lado com todo o tipo de propostas religiosas vindas de todo o Mediterrâneo.
A cidade foi evangelizada por Paulo durante a sua segunda viagem missionária, muito provavelmente no Inverno dos anos 49-50. Paulo chegou a Tessalónica acompanhado de Silvano e Timóteo, depois de ter sido forçado a deixar a cidade de Filipos. O tempo de evangelização foi curto – talvez uns três meses; mas foi o suficiente para fazer nascer uma comunidade cristã numerosa e entusiasta, constituída maioritariamente por pagãos convertidos. No entanto, a obra de Paulo foi brutalmente interrompida pela reacção da colónia judaica… Os judeus acusaram Paulo de agir contra os decretos do imperador e levaram alguns cristãos diante dos magistrados da cidade (cf. Act 17,5-9). Paulo teve de deixar a cidade à pressa, de noite, indo para Bereia e, depois, para Atenas (cf. Act 17,10-15).
Entretanto, Paulo tinha a consciência de que a formação doutrinal da comunidade cristã de Tessalónica ainda deixava muito a desejar. A jovem comunidade, fundada há pouco tempo e ainda insuficientemente catequizada, estava quase desarmada nesse contexto adverso de perseguição e de provação (cf. 1 Tes 3,1-10). Preocupado, Paulo enviou Timóteo a Tessalónica, a fim de saber notícias e encorajar os tessalonicenses na fé (cf. 1 Tes 3,2-5). Quando Timóteo voltou e apresentou o seu relatório, Paulo estava em Corinto. Confortado pelas informações dadas por Timóteo, o apóstolo decidiu escrever aos cristãos de Tessalónica, felicitando-os pela sua fidelidade ao Evangelho. Aproveitou também para esclarecer algumas dúvidas doutrinais que inquietavam os tessalonicenses e para corrigir alguns aspectos menos exemplares da vida da comunidade.
A Primeira Carta aos Tessalonicenses é, com toda a probabilidade, o primeiro escrito do Novo Testamento. Apareceu na Primavera-Verão do ano 50 ou 51.
O texto que hoje nos é proposto faz parte das exortações com que Paulo encerra a carta. Depois dos ensinamentos sobre a segunda vinda do Senhor (cf. 1 Tess 4,13-18) e de um convite veemente a esperar, vigilantes, esse momento final da história humana (cf. 1 Tess 5,1-11), Paulo apresenta alguns elementos concretos que os tessalonicenses devem ter sempre em conta e que devem marcar a existência cristã nesse tempo de espera (cf. 1 Tess 5,12-28).
MENSAGEM
Como é que os cristãos devem, então, viver esse tempo de espera do Senhor?
No texto que a segunda leitura deste domingo nos propõe, Paulo não apresenta grandes desenvolvimentos nem reflexões muito elaboradas… No entanto, o apóstolo apresenta sugestões muito úteis para a vida cristã e para a construção da comunidade.
Paulo começa por pedir aos tessalonicenses que vivam alegres e que pautem a sua vida por uma intensa oração, sobretudo a oração de acção de graças. O cristão é sempre uma pessoa livre e feliz, consciente da presença salvadora e libertadora de Deus ao seu lado, que contempla permanentemente esse horizonte último de vida eterna e de felicidade definitiva que Deus lhe reserva e que, por isso, agradece e louva ao seu Senhor.
Depois, o apóstolo pede também aos tessalonicenses que abram o coração ao Espírito e que não desprezem os seus dons. Esta referência pode significar que as experiências carismáticas começavam a criar problemas na comunidade… Provavelmente, nem toda a gente entendia e estava aberta às interpelações que o Espírito fazia através de alguns membros da comunidade… O novo, o espontâneo, o criativo, chocavam com o rotineiro, o estabelecido, o pré-fixado. Paulo recomenda aos cristãos de Tessalónica que saibam tudo analisar com cuidado e discernimento, sem preconceitos, de coração aberto à novidade de Deus, guardando “o que é bom” e afastando-se de “toda a espécie de mal”.
Uma comunidade construída de acordo com estes princípios – que vive a sua existência histórica com alegria e serenidade, que louva o seu Senhor e que está permanentemente atenta para discernir e aceitar os dons do Espírito – é uma comunidade “santa” e irrepreensível, preparada para acolher, em qualquer momento, o Senhor que vem.
ACTUALIZAÇÃO
Considerar, na reflexão, os seguintes desenvolvimentos:
• A existência cristã é uma caminhada ao encontro do Senhor que vem. Na sua peregrinação pela história, mergulhados na alegria e na tristeza, no sofrimento e na esperança, os crentes não podem perder de vista essa meta final que dá sentido a toda a caminhada. O caminho cristão deve ser percorrido na atenção e na vigilância, procurando viver com coerência os compromissos assumidos no dia do Baptismo e na fidelidade às propostas de Deus.
• De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, esse caminho deve ser percorrido na alegria… O cristão é alegre, porque sabe para onde caminha e está certo de que no final da caminhada encontra os braços amorosos de Deus que o acolhem e o conduzem para a felicidade plena, para a vida definitiva. Nem os sofrimentos, nem as dificuldades, nem as incompreensões, nem as perseguições podem eliminar essa alegria serena de quem confia no encontro com o Senhor. É essa alegria serena e essa paz que marcam a nossa existência e que brilham nos nossos olhos, ou somos seres derrotados, desiludidos, que se arrastam pela vida mergulhados no desespero e na solidão, sem rumo e ao sabor da corrente e das marés?
• De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, esse caminho deve ser percorrido também num diálogo nunca acabado com Deus. O crente é alguém que “ora sem cessar” e “dá graças em todas as circunstâncias” pelos dons de Deus, pela sua presença amorosa, pela salvação que Deus não cessa de oferecer em cada passo da caminhada. Sabemos encontrar espaços para o diálogo com Deus? Sabemos sentir-nos gratos por esses dons que, a cada instante, Deus nos oferece?
• De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, esse caminho deve ser percorrido, ainda, numa atitude de permanente atenção aos dons e aos desafios do Espírito. Sabemos estar atentos às propostas de Deus, ou deixamo-nos prender num esquema de instalação, de rotina, de preconceitos que não nos deixam acolher e responder aos desafios e à novidade de Deus?

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