quarta-feira, 14 de novembro de 2012


                          FONTE: BLOG DA MIHI ANIMAS

     ...CONTINUAÇÃO...(DEVOÇÃO
         TRATADO VIRGEM MARIA)

2º Jacó, figura dos predestinados.


191 Jacó, o caçula, era de compleição franzina, meigo e sossegado. Permanecia em casa o mais possível, para ganhar as graças de sua Mãe Rebeca, que o amava ternamente. Se saía de casa, não o fazia por vontade própria, nem por confiança em sua própria habilidade, mas para obedecer a sua mãe.

192.  Amava e honrava sua mãe: por isso ficava em casa junto dela. Seu maior contentamento era vê-la; evitava tudo que pudesse desagradar-lhe e fazia tudo que imaginava agradar-lhe. Tudo isso concorria para aumentar em Rebeca o amor que dedicava ao filho.

193.  Em todas as coisas ele era submisso a sua mãe, obedecia-lhe inteiramente em tudo, com obediência pronta, sem tardanças, e amorosa, sem queixas; ao menor sinal da vontade materna, o pequeno Jacó corria e trabalhava. Acreditava piamente, sem discutir, em tudo que a mãe lhe dizia: por exemplo, quando Rebeca o mandou buscar os dois cabritos, e ele os trouxe a fim de ela os preparar para Isaac, Jacó não replicou nem observou que bastava um para satisfazer o apetite de um só homem, mas, sem discernir, fez exatamente como ela mandou.

194.  Ele depositava uma confiança sem limites em sua querida mãe; como não contava absolutamente com sua própria experiência, apoiava-se unicamente na proteção e nos desvelos maternos. Chamava por ela em todas as suas necessidades e consultava-a em todas as suas dúvidas: por exemplo, quando lhe perguntou se, em vez da bênção, não receberia a maldição de seu pai, creu e confiou na resposta que ela lhe deu de que não tomaria sobre si a maldição.

195.  Ele imitava, enfim, na medida de sua capacidade, as virtudes que via em sua mãe; e parece que uma das razões por que ele permanecia em casa, tão sedentário, é que procurava imitar sua virtuosa mãe, e afastar-se de más companhias, que corrompem os costumes. Por tal motivo tornou-se digno de receber a dupla bênção de seu querido pai.

196. Eis também a conduta diária dos predestinados:

1º Vivem em casa, sedentariamente, com sua mãe, quer dizer, amam o recolhimento, são interiores, e se aplicam à oração, mas conforme o exemplo e a companhia de sua Mãe, a Santíssima Virgem, cuja glória está toda no interior e que, durante a vida inteira, tanto amou o retiro e a oração.

É verdade que aparecem às vezes fora, no mundo; fazem-no, porém, em obediência à vontade de Deus e de sua querida Mãe, para cumprir os deveres de seu estado. Por grandes coisas que façam no exterior e que apareçam, preferem muito mais as que se fazem no interior, em companhia da Santíssima Virgem, porque aí executam a grande obra de sua perfeição, ao lado da qual todas as outras são como brinquedos de criança.
Por isso, enquanto que seus irmãos e irmãs trabalham muitas vezes para o exterior com mais entusiasmo, habilidade e sucesso, recebendo os louros e aprovações do mundo, eles sabem, pela luz do Espírito Santo, que há muito mais glória, bem e prazer em permanecer oculto no reconhecimento com Jesus Cristo, seu modelo, numa submissão inteira e perfeita a sua Mãe, do que em realizar, por si próprio, maravilhas naturais e da graça no mundo, como tantos Esaús e réprobos. “Gloria et divitiae in domo eius” Sl 111, 3) – a glória para Deus e as riquezas para os homens encontram-se na casa de Maria.

Senhor Jesus, quão amáveis são vossos tabernáculos! O pardal encontrou uma casa para se alojar, e a rola, um ninho, onde abrigar seus filhotes. Oh! como é feliz o homem que mora na casa de Maria, na qual fizestes, primeiro, a vossa morada! É nesta casa de predestinados que ele de vós somente pede socorro, e em seu coração dispôs subidas e degraus de todas as virtudes, para elevar-se à perfeição neste vale de lágrimas. “Quam dilecta tabernacula...” (Sl 83).

197.  Eles amam ternamente e honram em verdade a Santíssima Virgem, como sua boa Mãe e Senhora. Amam-na não só com a boca, mas verdadeiramente; honram-na não só no exterior, mas no fundo do coração; evitam, como Jacó, tudo que pode desagradar-lhe, e praticam com fervor tudo que crêem poder adquirir-lhes sua benevolência. Trazem-lhe e lhe entregam não só dois cabritos como Jacó a Rebeca, mas seu corpo e sua alma, com tudo que do corpo e da alma depende, de que são figura os dois cabritos de Jacó,
1º para que Ela os receba como um dom que lhe pertence;
2º para que os sacrifique e faça morrer ao pecado e a si próprios, escorchado-os e despojando-os da própria pele de seu amor-próprio, e para agradar, por este meio, a Jesus, seu filho, que não quer para amigos e discípulos, senão aqueles que estiverem mortos a si mesmos;
3º para que os prepare ao gosto do Pai celeste, e para servir à sua maior glória, que Ela conhece melhor que nenhuma outra criatura;
4º para que, por seus cuidados e intercessões, este corpo e esta alma, purificados de toda mancha, bem mortos, bem despojados e bem preparados, sejam um manjar delicado, digno do paladar e da bênção do Pai celeste. Não é o que farão as pessoas predestinadas, que apreciarão e praticarão a consagração perfeita a Jesus Cristo pelas mãos de Maria, como lhes ensinamos, para testemunhar a Jesus e Maria um amor efetivo e corajoso?

Os réprobos dizem que amam a Jesus, que honram Maria, mas não com sua substância76, com os seus haveres, ao ponto de lhes sacrificar seu corpo com os sentidos, sua alma com todas as paixões, como fazem os predestinados.
76) Cf. Prov 3, 9: “Honora Dominum de tua substantia” – Honra o Senhor com os teus haveres.

198.  Eles são submissos e obedientes à Santíssima Virgem, como a sua boa Mãe a exemplo de Jesus Cristo, que, dos trinta e três anos que  viveu sobre a terra, dedicou trinta a glorificar a Deus seu Pai, por uma perfeita e inteira submissão a sua Mãe Santíssima. A ela obedecem, seguindo com exatidão os seus conselhos, como o pequeno Jacó seguia os de sua mãe, que lhe diz: “Acquiesce consiliis meis” (Gn 27, 8) – Meu filho, segue meus conselhos; aos quais a Santíssima Virgem diz: “Quodcumque dixerit vobis facite” –Fazei tudo o que ele vos disser (Jo 2, 5).

Por ter obedecido a sua mãe, Jacó recebeu a bênção, como por milagre, embora por direito natural não devesse recebê-la; porque os servos nas bodas de Caná seguiram o conselho da Santíssima Virgem, foram honrados com o primeiro milagre de Jesus Cristo, que nessa ocasião, a pedido de sua Mãe, converteu a água em vinho. Assim, todos aqueles que até ao fim dos séculos receberem a bênção do Pai celeste, e forem honrados com as maravilhas de Deus, só receberão estas graças em conseqüência de sua perfeita obediência a Maria; os Esaús, ao contrário, perderão sua bênção, por falta de submissão à Santíssima Virgem.

199.  Os predestinados têm uma grande confiança na bondade e no poder da Santíssima Virgem; reclamam sem cessar o seu socorro; olham-na como a estrela polar guiando-os a seguro porto; comunicam-lhe, com o coração aberto, suas penas e suas necessidades; acolhem-se à sua misericórdia e doçura para, por sua intercessão, alcançar o perdão de seus pecados, ou para gozar de seus maternais carinhos em suas aflições e contrariedades.
Atiram-se até, escondem-se e se perdem dum modo admirável em seu regaço amoroso e virginal, para aí ficarem abrasados de amor, para aí se purificarem das menores manchas, e para aí encontrarem plenamente a Jesus, que aí reside como no mais glorioso dos tronos. Oh! que felicidade! “Não creais, diz o abade Guerrico, que seja maior felicidade habitar o seio de Abraão que o seio de Maria, pois neste colocou o Senhor o seu trono: Ne credideris maioris esse felicitatis habitare in sinu Abrahae quam in sinu Mariae, cum in eo Dominus possuerit thronum suum”.77
77) Sermo 1 in Assumptione, n. 4.

Os réprobos, ao contrário, põem toda a confiança em si próprios, só comem, como o filho pródigo, o que comem os porcos; como vermes, só se alimentam de terra; e porque amam somente as coisas visíveis e passageiras, como os mundanos, não apareciam as doçuras e suavidades do seio de Maria. Não sentem aquele apoio e aquela confiança que os predestinados sentem pela Santíssima Virgem, sua boa Mãe. Amam miseravelmente sua fome exterior, como diz São Gregório78, porque não querem provar a suavidade que está preparada no próprio íntimo deles e no íntimo de Jesus e de Maria.
78) “Amamus foris miseri famem nostram” (Homil. 36 in Evangel.).

200. 5º Finalmente, os predestinados mantêm-se nos caminhos da Santíssima Virgem, isto é, imitam-na, e nisto eles são verdadeiramente felizes e devotos, trazendo assim o sinal infalível de sua predestinação. Esta boa Mãe lhes diz: “Beati qui custodiunt vias meas” (Prov 8, 32) – Bem-aventurados os que praticam minhas virtudes, e caminham sobre as pegadas de minha vida, com o socorro da divina graça.
Eles são felizes neste mundo, durante sua vida, devido à abundância de graças e de doçuras que eu lhes comunico de minha plenitude e com muito mais abundância que aos outros que não me imitam tão esforçadamente; eles são felizes em sua morte, que é doce e tranqüila, e na qual eu os assisto, para os conduzir às alegrias da eternidade; serão finalmente, felizes na eternidade, porque jamais se perdeu algum dos meus servos, que durante a vida tenha imitado fielmente as minhas virtudes.

Os réprobos, ao contrário, são infelizes durante a vida, em sua morte e na eternidade, porque não imitam a Santíssima Virgem em suas virtudes, contentando-se com pertencer a alguma de suas confrarias, com recitar uma ou outra oração em sua honra ou fazer qualquer devoção exterior.

Ó Virgem Santíssima, minha boa Mãe, quão felizes são aqueles – eu o repito com transportes de coração – quão felizes são aqueles que, sem se deixar seduzir por uma falsa devoção, guardam fielmente vossos caminhos, vossos conselhos e vossas ordens! Quão infelizes, porém, e malditos, aqueles que, abusando de vossa devoção, não guardam os mandamentos de vosso Filho! “Maledicti omnes qui declinant a mandatis tuis” – Malditos os que se afastam de teus mandamentos (Sl 118, 21).

Artigo II


A Santíssima Virgem e os seus escravos por amor

201. Eis, em seguida, os caridosos deveres que a Santíssima Virgem cumpre como a melhor das mães, para com seus fiéis servos, que a ela se deram como indiquei, e conforme a figura de Jacó.

§ I. Ela os ama.

“Ego diligentes me diligo” – Eu amo aqueles que me amam” (Prov 8, 17). Ela os ama;
1º porque é sua verdadeira Mãe; ora, uma mãe ama sempre seu filho, o fruto de suas entranhas;
2º ela os ama por reconhecimento, pois que eles efetivamente a amam como sua boa Mãe;
3º ela os ama, porque, sendo predestinados, Deus os ama: “Iacob dilexi, Esau autem odio habui – Amei Jacó, porém aborreci Esaú” (Rm 9, 13);
4º ela os ama porque eles se lhe consagraram, e porque são sua partilha e herança: “In Israel hereditare” (Ecli 24, 13).

202. Ela os ama ternamente, e com mais ternura do que todas as mães juntas.Acumulai, se puderdes, num só coração materno e por um filho único, todo o amor natural que todas as mães deste mundo têm por seus filhos: sem dúvida essa mãe amaria muito esse filho.É verdade, entretanto, que Maria ama ainda mais ternamente seus filhos do que aquela mãe amaria o seu. Ela não os ama somente com afeição, mas também com eficácia.Seu amor por eles é ativo e efetivo, como aquele de Rebeca por Jacob, e muito mais. Eis o que esta boa Mãe, da qual Rebeca era apenas a figura, faz com o fito de alcançar, para seus filhos, a bênção do Pai celestial.

203.  Ela espreita, como Rebeca, as ocasiões favoráveis de lhes proporcionar algum bem, de os engrandecer, de os enriquecer. Ela vê claramente em Deus todos os bens e males, as boas e más fortunas, as bênçãos e as maldições divinas, e por isso, já de longe, dispõe as coisas para isentar seus servos de todo mal e cumulá-los de todos os bens; de sorte que, se há um bom proveito para alcançar em Deus, pela fidelidade duma criatura em algum alto emprego, é certo que Maria o conseguirá para algum de seus filhos, e lhe dará a graça de chegar ao fim com fidelidade: “Ipsa procurat negotia nostra”, diz um santo.

204.  Ela lhes dá bons conselhos, como Rebeca a Jacó: “Fili mi, acquiesce consiliis meis” – Meu filho, segue meus conselhos” (Gn 27, 8). E, entre outros conselhos, ela lhes sugere levar-lhe dois cabritos, isto é, seu corpo e sua alma, de lhos consagrar para que ela prepare um manjar agradável a Deus, e de fazer tudo que Jesus Cristo, seu Filho, nos ensinou pela palavra e pelo exemplo. Se não é diretamente que lhes dá seus conselhos, fá-lo pelo ministério dos anjos, para os quais constitui o maior prazer e a maior honra obedecer à menor de suas ordens para descer à terra e auxiliar seus fiéis servos.

205. 3º Quando lhe levamos e consagramos nosso corpo e nossa alma com tudo que deles depende, sem nada excetuar, que faz esta boa Mãe? O mesmo que fez, outrora, Rebeca aos dois cabritos que Jacó lhe trouxe:
1º mata-os, tirando-lhes a vida do velho Adão;
2º escorcha-os e despoja da pele natural, das inclinações naturais, do amor próprio, da vontade própria e de todo apego à criatura;
3º purifica-os de toda mancha, sujeira e pecado;
4º prepara-os ao gosto de Deus e para sua maior glória. Ninguém como ela conhece perfeitamente este gosto divino e esta maior glória do Altíssimo, e, portanto, só ela pode, sem enganar-se aprontar e preparar nosso corpo e nossa alma de acordo com esse gosto infinitamente elevado e essa glória infinitamente oculta.

206. 4º Esta boa Mãe, depois de receber a oferenda perfeita que lhe fizemos de nós mesmos e de nossos próprios méritos e satisfações, pela devoção de que falei, depois de nos ter despojado de nossos antigos hábitos, limpa-nos e nos torna dignos de aparecer diante de nosso Pai celeste.

1º Ela nos cobre com as vestes limpas, novas, preciosas e perfumadas de Esaú, o primogênito, isto é, de Jesus Cristo seu Filho, daquelas vestes que ela conserva em sua casa, ou, por outra, em seu poder, pois que é a tesoureira, a dispensadora universal dos méritos e virtudes de seu Filho Jesus Cristo, dons que ela dispensa e comunica a quem quer, quando quer, como quer, e em quanto quer, como já vimos acima (cf. nn. 25 e 141).

2º Ela rodeia o pescoço e as mãos de seus servos com o pelo dos carneiros mortos e escorchados, quer dizer, ela os reveste dos méritos e do valor de suas próprias ações. Ela mata e mortifica, em verdade, tudo que eles têm de impuro e imperfeito em suas pessoas; mas não perde nem dissipa o bem que neles a graça já realizou; pelo contrário, guarda-o e aumenta-o para lhes ornar e fortalecer o pescoço e as mãos, isto é, para que eles tenham força para carregar o jugo do Senhor, que se carrega ao pescoço, e para fazerem grandes coisas que redundem na glória de Deus e na salvação de seus irmãos.

3º Ela põe um novo perfume e uma nova graça nessas vestes e ornamentos, pelo contato de suas próprias vestes: seus méritos e suas virtudes, que ela, ao morrer, lhes legou em testamento, como diz uma santa religiosa do século 17, morta em odor de santidade, e que o soube por revelação; de modo que todos os seus servidores, seus fiéis servos e escravos ficam duplamente vestidos: com as vestes dela e com as de seu Filho: “Omnes domestici eius vestiti sunt duplicibus” (Prov 31, 21). Por isso eles não têm que recear o frio de Jesus Cristo, branco como a neve, que os réprobos, completamente nus e despojados dos méritos de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem, não poderão suportar.

207.  Ela consegue-lhes, enfim, a bênção do Pai celeste, se bem que eles sejam os segundos, os filhos adotivos, e, portanto, não devessem recebê-la. Com essas roupas novas, preciosas e odorosas, e com seu corpo e alma bem preparados e dispostos, eles se aproximam confiantes do leito de repouso do Pai celeste. Este os ouve e os reconhece pela voz, a voz do pecador; toca-lhes as mãos cobertas de pêlos; aspira o perfume que de suas vestes se desprende; come alegremente o que Maria lhe preparou; e neles reconhecendo os méritos e o bom odor de seu Filho e de sua Mãe Santíssima:

1º dá-lhes sua dupla bênção, bênção do orvalho do céu: “De rore caeli” (Gn 27, 28), isto é, da graça divina que é a semente da glória: “Benedixit nos in omni benedictione spirituali in Christo Iesu” (Ef 1, 3: Deus nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo Jesus);bênção da fertilidade da terra: “De pinguetudine terrae” (Gn 27, 28), em outras palavras, que este bom Pai lhes dá seu pão cotidiano e uma abundância suficiente de bens deste mundo;

2º fá-los senhores de seus outros irmãos, os reprovados, embora esta primazia nem sempre transpareça neste mundo que passa num instante, e no qual dominam muitas vezes os reprovados: “Peccatores effabuntur et gloriabuntur... (Sl 93, 3, 4), Vidi impium superexaltatum e elevatum” (Sl 36, 35); essa primazia é, no entanto, verdadeira e será manifestada por toda a eternidade, no outro mundo, onde os justos, como diz o Espírito Santo, dominarão e comandarão as nações: “Dominabuntur populis” (Sb 3, 8);

3º Sua majestade, não contente de abençoá-los em suas pessoas e em seus bens, abençoa ainda todos os que eles abençoarem, e amaldiçoa todos os que os amaldiçoarem e perseguirem.

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