domingo, 12 de janeiro de 2014

Doutrina Social da Igreja

Doutrina Social da Igreja[editar | editar código-fonte]

Apesar de a missão principal da Igreja, que consiste na salvação da humanidade, ser de âmbito essencialmente espiritual, ela formulou uma Doutrina Social da Igreja (DSI). Através de uma aná­lise crí­tica das várias situações sociais, a DSI pretende fixar princípios e orientações gerais a respeito da organização social, política e económica dos povos e das nações, orientando assim os católicos e homens de boa vontade na sua ação no mundo.85
Através das numerosas encíclicas e pronunciamentos dos Papas, a Doutrina Social da Igreja aborda vários temas fundamentais, como a dignidade humana; as liberdades e os direitos humanos; a família; a promoção da paz e do bem comum no respeito dos princípios da solidariedade e subsidiariedade; o primado da justiça e da caridade; o sistema económico e a iniciativa privada; o papel do Estado; o trabalho humano; o destino universal dos bens da natureza; a de­fe­sa do ambiente; e o desenvolvimento integral de cada pessoa e dos povos.363 364
Mas a existência da DSI não implica a participação do clero na política, que é expressamente proibida pela Igreja, exceto em situações urgentes. Isso porque a missão de melhorar e animar as realidades temporais, nomeadamente através da participação cívico-política, é destinada aos leigos.365 366 Logo, a hierarquia eclesiástica está apenas "no negócio de formar o tipo de pessoa que consegue formar e dirigir governos nos quais a liberdade leva à genuína realização humana".367
O pensamento social cristão foi-se desenvolvendo ao longo dos tempos, sendo o início da sua sistematização datada em 1891, ano da promulgação da encíclica Rerum Novarum pelo Papa Leão XIII.85 A DSI rejeita as ideologias totalitárias e ateias associadas ao comunismo ou ao socialismo.368 Além disso, na prática do capitalismo, a DSI recusa, por exemplo, a excessiva e desenfreada miragem do lucro e o primado absoluto da lei do mercado sobre o trabalho humano e a economia.369

Principais críticas[editar | editar código-fonte]

Para além das históricas críticas e divergências entre a doutrina católica e as outras doutrinas cristãs e entre a doutrina católica e a ciência, várias crenças e princípios católicos são também atualmente criticados pelo mundo moderno e até por alguns católicos.370
Como por exemplo, a ética católica sobre o casamento (que na atualidade não aceita o divórcio), sobre a vida (que não aceita o aborto, a eutanásia, o uso de contraceptivos artificiais e a utilização de células-tronco embrionárias para fins científicos que levem à destruição do embrião) e sobre o sexo (que não aceita o sexo pré-marital, a homossexualidade e o uso de preservativos) continuam a gerar muitas polémicas e controvérsias.347 370 As acções escandalosas e imorais, que vão contra a doutrina católica, praticadas por certos membros e clérigos católicos (ex: abuso sexual de menores por membros da Igreja Católica), reforçaram as críticas referentes ao modo como essa doutrina trata a sexualidade.371 372 373
Com a crescente secularização do mundo ocidental, algumas pessoas começaram a pôr em causa a compatibilidade entre a democracia e a doutrina católica e exigiram até o fim de qualquer influência da Igreja sobre a vida pública e sobre as decisões legislativas (nomeadamente sobre a questão do aborto).370
A própria crença em Deus e as regras ético-morais da Igreja são também duramente criticadas como sendo obstáculos para a verdadeira libertação, progresso e realização do homem. Questões mais teológicas como a divindade e celibato de Jesus (com particular destaque às teorias sobre Maria Madalena 374 ), os milagres, a existência de dogmas, a vida eterna, a virgindade de Mariae a paradoxal compatibilidade entre a existência de Deus e a existência do mal e do sofrimento são também questionadas.370 Recentemente, a questão teológica da unicidade e universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja Católica254 e a definição teológica de que a Igreja Católica é a única Igreja de Cristo 375 continuam a suscitar várias polémicas e desentendimentos.376Apesar dessas duas crenças, a Igreja Católica nunca negou a salvação aos não-católicos. Questões mais disciplinares da Igreja, como a hierarquia católica, o celibato clerical e a proibição daordenação sacerdotal às mulheres são também temas debatidos na atualidade.370
Em conclusão, a Igreja Católica (e a sua doutrina) é controversa, porque ela "revela-se muitas vezes […] em oposição ao que parece ser o conhecimento vulgar dos nossos tempos", e, também, porque ela insiste sempre que " envolve verdades, que essas verdades envolvem obrigações e que essas obrigações exigem certas escolhas". Por essa razão, a Igreja Católica, "vista do exterior, […] pode parecer de vistas curtas, mal-humorada e atormentadora - o pregador azedo de um infinito rosário de proibições".377

A doutrina católica e a das outras Igrejas cristãs[editar | editar código-fonte]

Igreja Ortodoxa[editar | editar código-fonte]

A doutrina da Igreja Ortodoxa é muito semelhante à da Igreja Católica, visto que ambas desenvolveram as suas principais crenças basicamente a partir da mesma tradição.378 Contudo, existem entre elas várias divergências doutrinárias e disciplinares. Como por exemplo, os ortodoxos só reconhecem os sete primeiros concílios ecuménicos e não aceitam, como por exemplo, o dogma católico da Imaculada Conceição (mas os ortodoxos acreditam na Assunção de Maria 379 380 ); o Purgatório; o primado e a infalibilidade do Papa; a questão do filioque; a falta da epiclese e o uso do pão ázimo (sem fermento) na missa; a comunhão eucarística apenas sob a espécie do pão; o Batismo por infusão (e não por imersão); a forma de administrar o sacramento da unção dos enfermos; o celibato de todo o clero e a indissolubilidade do matrimónio.381
Devido ao recente e grande esforço ecuménico, muitas dessas diferenças foram sendo parcialmente resolvidas ou, pelo menos, diminuídas. O principal problema entre as duas igrejas reside ainda na questão da primazia e da infalibilidade do Papa.381 Mas, mesmo neste campo, houve progressos significativos, que culminaram com a aprovação do Documento de Ravena, no dia 13 de Outubro de 2007. Nesse documento, as duas igrejas reconheceram a primazia papal, ao afirmar que o Bispo de Roma "é o “protos”, ou seja, o primeiro entre os patriarcas de todo o mundo, pois Roma, segundo a expressão de Santo Inácio de Antioquia, é a "Igreja que preside na caridade"".382 Porém, mesmo assim, os católicos e os ortodoxos ainda divergem quanto aos privilégios desta primazia.383

Igrejas protestantes[editar | editar código-fonte]

As Igrejas protestantes adotam, tal como a Igreja Católica, o mesmo Credo Niceno-Constantinopolitano, pelo que a doutrina acerca da Santíssima Trindade e de Jesus Cristo é idêntica à católica. Porém, a diferença entre os católicos e os protestantes noutros temas doutrinais é grande. Genericamente, as divergências mais significativas dizem respeito ao papel da oração e das indulgências;385 à comunhão dos santos; à doutrina do pecado original, da graça e da predestinação; à necessidade e natureza da penitência; e ao modo de obter a salvação, com os protestantes a defenderem que a salvação só se atinge através da fé (sola fide; ver:cinco solas), em detrimento da doutrina católica de que a fé deve ser expressa também através das boas obras. Esta última divergência levou a um conflito sobre a doutrina da justificação.385 386
Há também diferenças importantes na doutrina da Eucaristia e dos outros sacramentos (os protestantes só aceitam a Eucaristia e o Batismo apenas como meros sinais que estimulam a fé 386 ); na existência do Purgatório; no culto de veneração à Virgem Maria e aos santos; na forma de interpretação (com os protestantes a defenderem a interpretação pessoal 387 ou livre-exame das Sagradas Escrituras) e na composição do Cânone das Escrituras; no papel da Tradição oral; na própria natureza, autoridade, administraçãohierarquia e função da Igreja (incluindo o papel da Igreja na salvação); no sacerdócio; e também na autoridade e missão do Papa.385 386
Contudo, visto que mesmo entre os protestantes há diferenças consideráveis,387 existem entre eles algumas denominações cujas doutrinas se aproximam bastante da católica. É o caso, por exemplo, de alguns setores do Anglicanismo, que se auto-intitulam de anglo-católicos. Recentemente, o diálogo ecuménico levou finalmente a alguns consensos sobre a doutrina da justificação entre os católicos e os luteranos, através da Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação (1999).388 Além disso, esse diálogo trouxe também vários consensos sobre outras questões doutrinárias importantes, nomeadamente entre os católicos e os anglicanos.389

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