domingo, 12 de janeiro de 2014

Moral católica[editar | editar código-fonte]

Os católicos acreditam que a Revelação divina apresenta as regras para um bom relacionamento dos homens entre si e para com Deus.285 Essa ética e moral centra-se no desafio da dádiva de si mesmo aos outros e a Deus.286 Portanto, essas regras devem ser praticadas no quotidiano, para libertar o homem da escravidão do pecado,285 que é um autêntico abuso da liberdade.287Isso porque, na visão católica, o homem só é livre se conseguir ser melhor e ser atraído para o bem e para o belo.288 A Igreja ensina que a bondade e as bem-aventuranças definem o contexto para a conduta moral cristã, que é indispensável para o caminho da salvação, iniciada pela graça santificante do batismo, que justifica.285 289
Segundo a Igreja, a transgressão de uma regra moral implica a escolha do mal e por isso o cometimento de pecados, embora a intenção, as consequências e as circunstâncias pudessem anular ou atenuar a responsabilidade de quem age. Mas isso não pode nunca alterar a qualidade moral dos próprios atos, visto que "o fim não justifica os meios".290

Dignidade, liberdade e consciência moral[editar | editar código-fonte]

A doutrina católica acredita que o homem possui dignidade, que está radicada na sua criação à imagem e semelhança de Deus, o que implica necessariamente que o homem possui liberdade econsciência moral. A liberdade é uma capacidade inalienável do homem,291 dada por Deus, de escolher entre o bem e o mal. Esse poder único, que "atinge a perfeição quando é ordenada paraDeus", torna o homem responsável pelos seus atos deliberados, devido à sua consciência moral. Logo, "a escolha do mal é um abuso da liberdade, que conduz à escravatura do pecado.292
Quando escuta correctamente a consciência moral, qualquer pessoa percebe a qualidade moral dum ato, permitindo-lhe assumir a responsabilidade, e consegue ouvir a voz de Deus,293 que o ordena a praticar o bem e a evitar o mal.294 O homem, como possui dignidade, não deve ser por isso impedido ou obrigado a agir contra a sua consciência,294 se bem que ela também pode produzir juízos errados. Logo, é preciso educá-la e retificá-la, para que ela possa estar cada vez mais em sintonia com a vontade divina, com a razão e com a Lei de Deus (nomeadamente aregra de ouro e os mandamentos de amor).295

Lei moral[editar | editar código-fonte]

Os católicos acreditam que a Lei moral, ou Lei de Deus, sendo uma obra divina, prescreve-lhes a conduta que os levam à salvação e felicidade eterna, proibindo-os os caminhos que os desviam de Deus e do seu amor.296 Essa lei é constituída pela Lei natural, que está escrita por Deus no coração de cada ser humano;297 pela Antiga Lei, revelada no Antigo Testamento; e pela Nova Lei, revelada no Novo Testamento por Jesus.
A Lei natural "manifesta o sentido moral originário" que permite ao homem diferenciar, pela razão e pela sua consciência, o bem e o mal. Como todos os homens (fiéis ou infiéis) a percebam, ela é de cumprimento universal e obrigatório,297 mas ela nem sempre é totalmente compreendida, devido ao pecado. Por isso, Santo Agostinho afirma que Deus "escreveu nas tábuas da Lei o que os homens não conseguiam ler nos seus corações", dando assim origem à Antiga Lei, que é a primeira etapa da Revelação divina e que está resumida nos Dez Mandamentos.298
A Antiga Lei, sendo ainda imperfeita, prepara e predispõe à conversão e ao acolhimento do Evangelho 299 e da Nova Lei, que é a "perfeição e cumprimento" (mas não a substituição) da Lei natural e da Antiga Lei.300 Essa Nova Lei encontra-se em toda a vida e pregação de Cristo e dos Apóstolos, sendo o Sermão da Montanha a sua principal expressão.301 Essa lei já perfeita e plenamente revelada resume-se no mandamento do amor a Deus e ao próximo, que é considerada por São Tomás de Aquino como "a própria graça do Espírito Santo, dada aos crentes em Cristo."300

Dez Mandamentos[editar | editar código-fonte]

Moisés, grande profeta do Antigo Testamento, traz osDez Mandamentos ao Povo de Deus.302
Como os Dez Mandamentos (ou Decálogo) são a síntese de toda a Lei de Deus e a base mínima e fundamental da moral católica, a Igreja exige aos seus fiéis o cumprimento obrigatório dessas regras. Quem não seguir estas regras, comete pecado, que, dependendo da gravidade da transgressão, pode ser um pecado venial ou um pecado mortal.303 Aliás, segundo as próprias palavras de Jesus, é necessário observá-los "para entrar na vida eterna" (Mt 19,16-21), além de ser necessário para os fiéis mostrarem o seu agradecimento e pertença a Deus.304 Esses mandamentos, que ditam os deveres fundamentais do homem para com Deus e com o seu próximo, dão a conhecer também a vontade divina e, ao todo, são dez:303
  • 1º - Adorar a Deus e amá-l'O sobre todas as coisas.
  • 2º - Não invocar o Santo Nome de Deus em vão.
  • 3º - Guardar domingos e festas de guarda.
  • 4º - Honrar pai e mãe (e os outros legítimos superiores).
  • 5º - Não matar (nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo).
  • 6º - Guardar castidade nas palavras e nas obras.
  • 7º - Não furtar (nem injustamente reter ou danificar os bens do próximo).
  • 8º - Não levantar falsos testemunhos.
  • 9º - Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos.
  • 10º- Não cobiçar as coisas alheias.
Segundo a doutrina católica sobre os Dez Mandamentos, esses mandamentos podem ser resumidos em apenas dois, que são: amar a Deus sobre todas as coisas; e amar ao próximo como a nós mesmos.305

Virtude[editar | editar código-fonte]

virtude, que se opõe ao pecado, é uma qualidade moral que dispõe uma pessoa a fazer o bem, sendo "o fim de uma vida virtuosa tornar-se semelhante a Deus".306 Segundo a Igreja Católica, existe uma grande variedade de virtudes que derivam da razão e da fé humanas. Estas, que se chamam virtudes humanas, regulam as paixões e a conduta moral humanas,307 sendo as mais importantes as virtudes cardinais, que são quatro: a Prudência, a Justiça, a Fortaleza e a Temperança.308
Mas, para que as virtudes humanas se atinjam na sua plenitude, elas têm que ser vivificadas e animadas pelas virtudes teologais, que "têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus". Elas são infundidas no homem com a graça santificante e tornam os homens capazes de viver em relação com a Santíssima Trindade.309 As virtudes teologais são três: a , aEsperança e a Caridade (ou Amor).310 Sobre as virtudes, São Paulo disse que a maior de todas elas é o amor (ou caridade).311

Pecado[editar | editar código-fonte]

Representação dos sete pecados capitais porHieronymus Bosch.
Segundo Santo Agostinho de Hipona, o pecado é "uma palavra, um ato ou um desejo contrários à Lei eterna", causando por isso ofensa a Deus e ao seu amor.312 Logo, esse ato do mal é um abuso da liberdade 287 e fere a natureza humana. Os católicos acreditam que Cristo, com a sua morte, revelou plenamente a gravidade do pecado e venceu-o com a seu amor.312 Há uma grande variedade de pecados, que podem ser diretamente contra Deus, contra o próximo e contra a si mesmo. Ainda se pode distinguir entre pecados por palavras, por pensamentos, por omissões e por ações.313
A repetição de pecados gera vícios, que obscurecem a consciência e inclinam ao mal. Os vícios relacionam-se com os sete pecados capitaissoberbaavareza,invejairaluxúriagula e preguiça.314 A Igreja ensina também que todos aqueles que cooperam culpavelmente nos pecados dos outros, são também responsabilizados por tal.315 Quanto à sua gravidade, os pecados cometidos podem ser divididos em:
  • pecados mortais, que são cometidos quando "há matéria grave, são cometidos com plena consciência e deliberado consentimento". Eles afastam o homem dacaridade e da graça santificante e, se o pecador não se arrepender sinceramente, conduzem-no à morte eterna do Inferno;316
  • pecados veniais, que são cometidos sem pleno consentimento ou sem plena consciência ou ainda quando se trata de matéria leve. Eles, apesar de afetarem o caminho de santificação, merecem apenas penas purificatórias temporais, nomeadamente no Purgatório.317
Todos esses pecados pessoais devem-se ao enfraquecimento da natureza humana, que passou a ficar submetida e inclinada à ignorância, ao sofrimento, à morte e ao pecado. Isso é causado pelo pecado original, transmitido a todos os homens, sem culpa própria, devido à sua unidade de origem, que é Adão e Eva. Eles desobedeceram a Deus no início do mundo, originando esse pecado, que pode ser atualmente perdoado (mas não eliminado) pelo batismo.135

Perdão e indulgências[editar | editar código-fonte]

Porém, como o amor de Deus é infinito e como Jesus já se sacrificou na cruz, todos os homens, católicos ou não, podem ser perdoados por Deus a qualquer momento, desde que se arrependam de um modo livre e sincero119 e se comprometam em fazer o possível para perdoar aos seus inimigos.318 Esse perdão tão necessário pode ser concedido por Deussacramentalmente e por meio da Igreja, pela primeira vez, através do batismo e depois, ordinariamente, através da reconciliação.316
Mas Deus também pode conceder esse perdão através de muitas maneiras diferentes (ou até mesmo diretamente) para todos aqueles que se arrependeram (incluindo os não-católicos).319 Mas o perdão divino não significa a eliminação das penas temporais, ou seja, do mal causado como consequência dos pecados cuja culpa já está perdoada. Nesse caso, para as eliminar, é necessário obter indulgências e praticar boas obras durante a vida terrena ou ainda, depois de morrer, uma purificação da alma no Purgatório, com a finalidade de entrar puro e santo no Paraíso320
A venda de indulgências[editar | editar código-fonte]
A venda de indulgências, pintura de Augsburg, cerca de 1530.
Durante a Idade Média surgiu o chamado contrabando de indulgências321 , em que documentos forjados declaravam a venda de indulgências de caráter extraordinário322 , havendo em alguns locais, a sua venda por profissionais "perdoadores (quaestores, em latim)323 . A Igreja condenou estes abusos,321 como pode ser observado nos decretos e documentos do Quarto Concílio de Latrão (1215), do Concílio de Ravena (1317)321 e de vários Papas, tais como Bonifácio IX(1392), Clemente IVJoão XXIIMartinho V e Sisto IV, entre outros, que lutaram e proibiram abusos indulgenciários praticados em sua época.321
Apesar destas condenações e restrições, no final da Idade Média houve um crescimento considerável destes abusos, que seriam contestadas na Reforma Protestante.323 Em 1563, na última sessão do Concílio de Trento, a venda de indulgências foi proibida definitivamente, para evitar excessos e abusos.324Desde então, as indulgências passaram somente a ser concedidas, de forma gratuita, aos fiéis que praticassem determinados actos de piedade, penitência e caridade (ex: orações, peregrinações, etc.) estabelecidos pela Igreja.325

Nenhum comentário:

Postar um comentário